- Introdução
No Brasil, a atuação do psicólogo no hospital geral teve início na década de 1950, e o histórico e a definição dessa área foram abordados recentemente por diferentes autores.1,2 Embora a prática da psicologia no hospital geral seja conhecida no país como psicologia hospitalar, essa denominação tem sido frequentemente questionada. Diversos profissionais e pesquisadores defendem que a atuação do psicólogo no hospital é, na realidade, uma subárea da psicologia da saúde, isto é, o trabalho do psicólogo da saúde na atenção terciária, ou seja, em hospitais.2–5
Como afirmam Castro e Bornholdt,5 “a (...) especialização na psicologia, denominada no Brasil de hospitalar, é inexistente em outros países” (p. 48). Psicologia da saúde é o termo adotado no mundo para denominar a atuação do psicólogo na saúde, independentemente do contexto (p. ex., hospital, unidade básica de saúde [UBS]) onde essa atuação ocorre. No Brasil, entretanto, o Conselho Federal de Psicologia (CFPConselho Federal de Psicologia) inclui em seu rol de especialidades os dois termos: psicologia hospitalar desde 20076 e psicologia em saúde, incluído mais recentemente.7
Um importante aspecto da prática da psicologia no ambiente hospitalar — e na área da saúde em geral — é a ênfase para uma prática baseada em evidências. A relevância desse tipo de prática pode ser exemplificada com o fato de o Ministério da Saúde disponibilizar, para todos os profissionais da área, o Portal Saúde Baseada em Evidências, uma biblioteca eletrônica para “aprimorar o exercício dos trabalhadores da saúde por meio do acesso a conteúdos cientificamente fundamentados, na perspectiva de melhor atender a população”.
Para saber mais:
O Portal Saúde Baseada em Evidências está disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/periodicos
Com origem na medicina, a prática baseada em evidências “é uma forma de transpor a lacuna entre pesquisa e prática clínica, organizando e trazendo o conhecimento adquirido em pesquisas científicas para o dia a dia do consultório, do hospital e dos demais locais interessados em saúde”.8 Psicólogos da saúde têm desenvolvido pesquisas associadas a sua prática para identificar,9,10 prevenir11 e auxiliar no manejo de transtornos mentais e de problemas comportamentais que podem prejudicar o tratamento global do paciente.12,13
O objetivo deste artigo é apresentar a prática da terapia cognitivo-comportamental (TCCterapia cognitivo-comportamental) no ambiente hospitalar com base na literatura e na experiência dos psicólogos do Serviço de Psicologia de um complexo que inclui um hospital de alta complexidade, o Hospital de Base (HBHospital de Base), com 626 leitos (114 leitos de unidade de terapia intensiva [UTI]); o Hospital da Criança e Maternidade (HCM) (183 leitos); ambulatório (35.600 atendimentos/mês); o hemocentro e a Rede de Reabilitação Lucy Montoro. Esse complexo é também cenário de ensino de uma instituição estadual que oferece cursos de graduação em medicina, enfermagem e psicologia (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP [Famerp]).
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- reconhecer características da TCCterapia cognitivo-comportamental que favorecem seu uso em contextos de saúde, inclusive no hospital geral;
- identificar as competências e habilidades necessárias para a prática da TCCterapia cognitivo-comportamental no hospital geral, bem como os meios para desenvolvê-las;
- reconhecer a relevância da avaliação e intervenção psicológicas com base na TCCterapia cognitivo-comportamental e da prática baseada em evidências no hospital geral;
- apontar as informações provenientes de diferentes domínios que devem ser integradas na avaliação psicológica no hospital para subsidiar o trabalho do psicólogo e de outros profissionais;
- reconhecer como dados de pesquisa podem auxiliar o trabalho do terapeuta cognitivo-comportamental no hospital geral;
- apresentar estratégias para que o terapeuta cognitivo-comportamental que trabalha no hospital desenvolva sua identidade como psicólogo da saúde.
- Esquema conceitual