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ABDOME AGUDO CIRÚRGICO NÃO OBSTÉTRICO

Autores: Humberto Sadanobu Hirakawa, Rafael Izar Domingues da Costa, Elaine Gomes da Silva
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Introdução

Dor abdominal e sintomas gastrintestinais estão entre as queixas mais comuns na gravidez. Embora as causas mais frequentemente observadas não estejam associadas a desfechos desfavoráveis, a patologia grave, ameaçadora da vida, pode ocorrer e pode apresentar-se insidiosa e atípica. Dessa forma, a dor abdominal durante a gravidez apresenta desafios clínicos únicos, tanto para o diagnóstico quanto para a sua terapêutica.

O diagnóstico diferencial durante a gravidez é extenso. Embora a dor abdominal possa ser causada por transtornos obstétricos ou ginecológicos relacionados à gravidez, as condições que afetam a mulher não grávida também podem complicar a gravidez, compreendendo doenças intra-abdominais incidentais à gestação.

A gravidez modifica a apresentação clínica e a história natural de muitos transtornos abdominais, bem como a sua avaliação diagnóstica. Além disso, há que se considerar o interesse de dois pacientes, a mãe e o feto, o que acaba constrangendo as medidas diagnósticas habituais e o planejamento terapêutico.

Algumas condições cirúrgicas podem ser incomuns, mas os médicos precisam estar atentos a elas. A consideração dessas condições, permitindo o diagnóstico precoce ou a exclusão, é importante para otimizar o desfecho tanto para a mãe quanto para o bebê. Assim, uma abordagem estruturada é necessária para avaliar pacientes com dor abdominal na gravidez, considerando a capacidade de excluir uma gama maior de diagnósticos diferenciais potenciais.

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • desenvolver um processo de avaliação estruturado para gestantes com dor abdominal;
  • apresentar os principais diagnósticos diferenciais cirúrgicos não obstétricos de dor abdominal na gravidez;
  • elencar as prioridades do manejo cirúrgico para dor abdominal na gravidez.

Esquema conceitual

O termo abdome agudo refere-se a qualquer condição aguda grave e intra-abdominal acompanhada de dor, sensibilidade aumentada e rigidez muscular, que pode requerer intervenção cirúrgica de emergência.1 O termo abdome agudo não obstétrico refere-se às condições incidentais à gravidez, excluindo-se, assim, as patologias decorrentes ou relacionadas à gestação.

A incidência de abdome agudo durante a gravidez é de 1 em 500 a 635 gestações.2 No Reino Unido, por exemplo, aproximadamente três mortes maternas por ano são atribuídas à patologia intra-abdominal. As informações sobre óbitos intrauterinos por doença materna/peritonite não são coletadas de forma sistemática, por isso esse aspecto da mortalidade não é medido, mas é provável que seja maior. As quatro causas mais comuns de abdome agudo na gravidez são1

 

  • apendicite, ocorrendo com uma frequência habitual de 1 em 500 a 2 mil gestações, o que representa 25% das indicações para cirurgia não obstétrica durante a gravidez;
  • colecistite aguda, ocorrendo em 1 em 1.600 a 10 mil gestações;
  • obstrução intestinal, ocorrendo em 1 em 1.500 a 16 mil gestações;
  • pancreatite aguda, que ocorre em 1 em mil a 3 mil gestações, geralmente no final do terceiro trimestre ou no início do período pós-parto.
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