Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- conceituar artrite aguda e crônica;
- identificar as principais causas de artrite aguda na faixa etária pediátrica;
- avaliar os pacientes com dor articular;
- caracterizar, de forma minuciosa, a apresentação clínica da queixa dolorosa;
- realizar a abordagem diagnóstica e terapêutica da dor articular.
Esquema conceitual
Introdução
As queixas dolorosas musculoesqueléticas são frequentemente observadas pelo pediatra, muitas vezes referidas como dor articular, e podem ter diferentes causas, como infecções, traumas, onco-hematológicas, reumatológicas e metabólicas. O pediatra deve procurar identificar a origem da dor por meio de história, exame físico e exames complementares e estar atento para causas que demandem intervenções emergenciais, como a artrite séptica ou aquelas associadas às neoplasias.
Na anamnese e no exame físico, é importante caracterizar a localização exata da dor, que pode ser originária da própria articulação, de estruturas adjacentes ou referida de outros locais (por exemplo, o comprometimento da articulação coxofemoral pode provocar a queixa dolorosa no quadríceps e até no joelho homolateral). A associação da dor articular a sinais constitucionais — como febre, toxemia, emagrecimento, acometimento de órgãos e sistemas, incapacitação funcional ou hipotrofia muscular adjacente — é um sinal de alerta para causas específicas.
Na prática, os termos artralgia e artrite são frequentemente utilizados como sinônimos, o que não é correto.
A artralgia significa dor articular isolada, e a artrite é caracterizada pela dor articular associada a sinais inflamatórios, como limitação de movimento, aumento de volume (edema), calor e/ou rubor.
Um termo mais genérico seria artropatia, já que algumas condições que acometem as articulações podem não ter origem inflamatória, como algumas displasias epifisárias e as doenças metabólicas de depósito, por exemplo, as mucopolissacaridoses. Nas crianças, a deposição de cristais é rara e suscita a investigação de doenças metabólicas.
A artrite pode ser classificada como aguda ou crônica (quando o acometimento dura mais que 6 semanas). Pode ser monoarticular, oligoarticular (menos de cinco articulações acometidas) ou poliarticular. Os quadros migratórios podem sugerir etiologia imunomediada, como na febre reumática e nas artrites agudas associadas a etiologias virais.1
A principal causa de artrite crônica na faixa etária pediátrica é a artrite idiopática juvenil (AIJ), com variadas formas de apresentação, como:1
- oligoartrite;
- poliartrite;
- sistêmica;
- relacionada à entesite;
- psoríase;
- entesite.
No subtipo sistêmico, há a presença de febre, exantema e visceromegalias.1
A artrite aguda pode acometer todas as faixas etárias pediátricas, do neonato ao adolescente, com etiologias variáveis de acordo com a idade. Exceto pela artrite de causa infecciosa, que geralmente é mais frequente em meninos, as várias etiologias acometem meninas e meninos.
Os exames complementares — como hemograma, reagentes de fase aguda, culturas e exames de imagens, como ultrassonografia e ressonância magnética — são necessários e direcionados de acordo com a suspeita diagnóstica. Neste capítulo, será discutida a abordagem dos pacientes com dor articular serão apresentadas as suas principais causas:
- dor do crescimento;
- síndrome de hipermobilidade articular;
- sinovite transitória de quadril;
- AIJ;
- artrite séptica;
- febre reumática;
- artrite reativa;
- artrites virais.