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Afecções neurológicas nA COVID-19

Bruno Camporeze

Messias Eduardo da Silva

José Oswaldo de Oliveira Junior

epub-BR-PROURGEM-C16V4_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • sumarizar a fisiopatologia descrita até o momento da COVID-19 sobre o sistema nervoso central (SNC);
  • reconhecer os sinais e os sintomas neurológicos secundários às complicações da COVID-19;
  • compreender as principais complicações neurológicas associadas à infecção por COVID-19;
  • entender noções iniciais no manejo da COVID-19.

Esquema conceitual

Introdução

Em 10 de março de 2020, o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave tipo 2 (SARS-CoV-2) levou a mais de 117 milhões de infecções confirmadas e 2,6 milhões de mortes pela doença (COVID-19) em todo o mundo.1–11 A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de emergência na saúde pública em âmbito internacional devido ao número crescente de mortes em todo o mundo (atingindo o marco de 4.211 mortes por dia em abril/2020 no Brasil), bem como as significativas consequências econômicas e sociodemográficas, ainda sem precedentes.1,2

Este capítulo visa a sumarizar, de maneira concisa e didática, a literatura atual sobre implicações clínicas da COVID-19 no SNC e no sistema nervoso periférico (SNP), bem como considerações para o manejo desses pacientes.

Paciente J.B.L., 35 anos, anestesista, portador de miastenia gravis, deu entrada no pronto atendimento com sinais de insuficiência respiratória aguda há uma hora. Familiares referem uso regular de Mestinom 4x ao dia, sem falhas. Paciente nega uso de outras medicações, bem como nega ter alergias ou vícios. Ainda, refere sialorreia e fadiga importante com piora progressiva nos últimos sete dias, e viagem para o litoral do Rio de Janeiro há 14 dias, onde testou positivo para COVID-19 após apresentar sintomas gripais leves.

Ao exame clínico, o paciente apresentava

  • PA 150/90mmHg;
  • FC 140bpm;
  • FR 32irpm;
  • SatO2 91% em ar ambiente;
  • T 36,5%;
  • aparelho cardiovascular e abdominal sem alterações;
  • ausculta pulmonar com murmúrio vesicular presente, simétricos, sem ruídos adventícios;
  • presença de tiragem em musculatura intercostal, fúrcula esternal e batida de asa de nariz;
  • exame neurológico com Glasgow 15;
  • pupilas isofotorreagentes, sem sinais meníngeos;
  • cabeça caída;
  • sialorreia abundante;
  • sinal da cortina positivo;
  • diplopia horizontal na visão binocular;
  • ptose de olho esquerdo;
  • provas de fadiga positivas.

Nos exames laboratoriais, evidenciou-se gasometria arterial com PaCO2 55, hemograma e demais exames laboratoriais, e radiologia de tórax sem alterações. Paciente submetido à ventilação não invasiva (VNI), com melhora clínica importante na emergência e encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foi avaliado pela neurologia clínica, que indicou a redução de Mestinom para 0,5 comprimido de seis em seis horas e início de imunoglobulina humana endovenosa (2g/kg em cinco dias). O paciente evoluiu bem e recebeu alta hospitalar após dois dias do fim da infusão.

Histórico

O corona é um dos principais vírus que têm como alvo o sistema respiratório humano. Além disso, vem demonstrando capacidades neuroinvasivas.1–10 Desde sua caracterização e seu isolamento, na década de 1960, epidemias ou pandemias anteriores de coronavírus incluem a síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-1), em 2002, e, no Oriente Médio, a respiratória (MERS-CoV), em 2012.1 A pandemia mais recente de infecção por coronavírus é uma doença causada por SARS-CoV-2 (COVID-19),1–11 conforme demonstra Figura 1, a seguir.

FIGURA 1: Perfil histórico do coronavírus e número de publicações na base de dados do Pubmed. // Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Do ponto de vista epidemiológico, a pandemia de COVID-19 representou um marco na história da saúde pública mundial, com implicações nas diversas áreas das ciências da saúde, com um total 685.835 mortes no Brasil até setembro/2022.12 Do ponto de vista acadêmico não foi diferente, considerando apenas a base indexada Pubmed. Até o ano de 2018, existiam pouco mais de cinco mil publicações acerca do coronavirus e suas variantes; atualmente, existem mais de 317 mil publicações acerca da COVID-19.

A disseminação assintomática (período de incubação de até 14 dias), a alta taxa de infectividade e a rápida expansão da doença entre indivíduos de uma comunidade contribuem para o crescimento exponencial.2,5

Dentre os sintomas mais comuns da COVID-19, são evidenciados acometimento do trato respiratório como febre, tosse, rinorreia, dispneia, cefaleia, fadiga e mialgia.5,8,10,13 Nos casos mais graves, os pacientes podem desenvolver quadros de pneumonia com rápida progressão para insuficiência respiratória aguda, bem como eventos cardiovasculares, descompensação de comorbidades prévias, injúria renal e disfunção de múltiplos órgãos.4,7–10

Discussão

Pode-se evidenciar, na Figura 1, o fluxo de publicações ao longo das três pandemias de coronavírus em âmbito mundial. Curiosamente, percebe-se o crescente conhecimento, ainda recente, sobre esse agente quando comparado aos episódios prévios, o que demonstra as dimensões do impacto na vida social, na saúde pública e na economia mundial.

Embora o SARS-CoV-2 se manifeste principalmente com infecções do trato respiratório e sintomas semelhantes aos da gripe, a COVID-19 agora é reconhecida como uma doença de múltiplos órgãos, muitas vezes, envolvendo o sistema nervoso central e periférico.

Atualmente, foi constatado que a disseminação da COVID-19 para o SNC pode progredir de duas maneiras: por meio da via hematogênica ou por contiguidade, pela lâmina cribriforme.3,4,6,8,9,11,13–17 A via hematogênica e a linfática preconizam o acometimento pulmonar inicial e o SNC de maneira secundária. Já a outra teoria defende a contaminação da mucosa nasal seguidamente do transporte axonal retrógrado do vírus, pelo nervo olfatório através da lâmina cribriforme.

Baig7 propôs um modelo esquemático de transmissão do SARS-CoV-2 para o SNC integrando as duas teorias, ilustrado na Figura 2, a seguir.

FIGURA 2: Modelo de transmissão e disseminação da COVID-19. Possível mecanismo de entrada de SARS-CoV-2 para atingir o SNC via placa cribriforme (A) ou após infecção pulmonar associada a disseminação hematogênica (B). // Fonte: Adaptada de Baig (2020).7

O autor defende que o vírus pode progredir tanto pela via hematogênica quanto pela via contígua do osso etmoidal próximo ao olfatório bulbo. Portanto, corrobora a explanação de relatos na literatura sobre sintomas neurológicos como manifestação inicial dos quadros de COVID-19, podendo ser isolado no líquor previamente à positividade de sorologia em amostras orofaríngeas e acometimento pulmonar.6,9

Devem ser levadas em consideração as queixas de anosmia e perda do paladar nos casos suspeitos, uma vez que podem constituir a fase inicial dos sinais e dos sintomas neurológicos subsequentes.

As manifestações e o manejo das complicações neurológicas da COVID-19 ainda estão descritos de maneira escassa na literatura, por meio de relatos, séries de casos e poucos estudos clínicos isolados. Até o momento, nenhuma metanálise foi publicada sobre os aspectos neurológicos da COVID-19, cuja incidência de sintomas brandos varia entre 6 e 36,5% dos casos, e complicações, entre 0,5 e 3% dos casos.1–11,13–37

Mao e colaboradores10 descrevem que a incidência de sintomas neurológicos é correlacionada à gravidade dos casos, sendo relatada em 30,2% dos casos brandos, e 45,5% dos casos severos de COVID-19. Além disso, o mesmo estudo constata o acometimento do SNC e do SNP em 24,8 e 10,7% dos casos, respectivamente.

Os sinais e sintomas apontados com maior frequência são apresentados no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1

PRINCIPAIS SINTOMAS DE COVID-19 FREQUENTEMENTE APONTADOS

  • Cefaleia
  • Tontura
  • Anosmia
  • Ageusia
  • Complicações relacionadas a eventos cerebrovasculares (acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico, trombose de seio venoso cerebral)
  • Ataxia
  • Confusão mental
  • Polirradicloneuropatias
  • Rabdomiólise
  • Diplopia
  • Disartria
  • Hipoacusia
  • Síndrome de Guillain-Barré
  • Encefalites
  • Mielite
  • Acometimento de pares cranianos (principalmente nervo oculomotor)
  • Encefalopatia hemorrágica necrotizante
  • Convulsões

// Fonte: Adaptado de Arora e colaboradores (2020);1 Li e colaboradores (2020);2 Porta-Etessam e colaboradores (2020);3 Asadi-Pooya e Simani (2020);4 Guan e colaboradores (2020);5 Moriguchi e colaboradores (2020);6 Baig (2020);7 Carod-Artal (2020);8 Yin e colaboradores (2020);9 Mao e colaboradores (2020);10 Pleasure e colaboradores (2020);11 Das e colaboradores (2020);13 Shaikh e colaboradores (2020);14 Finsterer e Stollberger (2020);15 Colizzi e colaboradores (2020);16 Papa e colaboradores (2020);17 Li e colaboradores (2020);18 Turtle (2020);19 Prasad e colaboradores (2020);20 Zhao e colaboradores (2020);21 Xu e colaboradores (2005);22 Dessau e colaboradores (2001);23 Lippi e colaboradores (2020);24 Li e colaboradores (2020);25 Zhao e colaboradores (2020);26 Zhou e colaboradores (2020);27 Mohile e colaboradores (2020);28 Helmich e Bloem (2020);29 Siniscalchi e Gallelli (2020);30 Poyiadji e colaboradores (2020);31 Toljan (2020);32 Jo e colaboradores (2018);33 Huang e colaboradores (2020);34 Fazzini e colaboradores (1992);35 Yamada (1996);36 Velázquez-Pérez e colaboradores (2020).37

Temporalmente, sugere-se um padrão de acometimento do SNC e do SNP tal que as manifestações correlacionadas aos eventos cerebrovasculares e à redução do nível de consciência têm sido descritas com maior frequência associadas à forma tardia da doença, enquanto as demais manifestações podem ocorrer na fase inicial (um a três dias).3,8,10

O SARS-CoV-2 evoluindo com encefalite vem sendo caracterizado por lesões simétricas multifocais no SNC que afetam o tronco cerebral, o tálamo e a substância branca do diencéfalo.8,13,30,31 Embora sintomas de ataxia sejam relatados, não são evidenciadas características propedêuticas detalhadas desse acometimento, de tal modo que ainda existe divergência na literatura sobre o acometimento cerebelar nesses pacientes na fase aguda da doença.14,19

No que tange ao rebaixamento do nível de consciência nesses pacientes, evidencia-se uma divergência quanto à fisiopatologia. Li e colaboradores18 e outros autores sugerem o acometimento do SNC como responsável pelo rebaixamento sensorial desses pacientes. Turtle19 defende o acometimento pulmonar, resultando em insuficiência respiratória hipóxica tipo I, sem o acometimento da função ventilatória secundária à hipofunção do centro respiratório, conforme ilustra o trecho a seguir.

[...] Os pacientes com pneumonia desenvolvem tipicamente hipóxia ou insuficiência respiratória tipo I com baixos níveis de CO2 e frequência respiratória elevada. Podem respirar espontaneamente, mas o aumento do trabalho de respiração perante o mau funcionamento dos pulmões torna-se demasiado grande para se manter. A ventilação artificial retira do paciente o trabalho de respirar até que o pulmão tenha se recuperado o suficiente para que o paciente respire por si próprio. Durante o apoio ventilatório, os pacientes ainda podem, muitas vezes, iniciar a respiração, que depois é apoiada pelo ventilador. Isso não é sugestivo de disfunção cerebral. A falha cerebral que leva à falha de respiração manifesta-se geralmente como frequência respiratória reduzida, com baixo nível de oxigênio e elevado CO2, devido à falha respiratória (insuficiência respiratória tipo II). Isso pode ser acompanhado de outros sinais de disfunção cerebral. [...]

Dessa forma, é plausível se considerar ambas as hipóteses supramencionadas, a depender do paciente e das comorbidades prévias em questão avaliadas, bem como a gravidade do quadro.

De maneira geral, o acometimento pulmonar pode culminar na evolução com uma hipóxia tipo I e subsequente rebaixamento do nível de consciência. Enquanto pacientes portadores de distúrbios de movimento, sequelas de eventos vasculares, doenças neurodegenerativas (neuromielite óptica, síndrome de Guillain-Barré, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica) podem evoluir com uma hipóxia tipo II com exaustão mecânica dos mecanismos ventilatórios na vigência do acometimento pulmonar, há casos de pacientes com acometimento neurológico inicial pela COVID-19, podendo evoluir com disfunção do centro respiratório.

No que tange ao acometimento do SNP, evidencia-se o envolvimento em especial dos nervos cranianos I, VII, IX e X. Com fundamento no conhecimento prévio de outras infecções virais, é de conhecimento o possível envolvimento dos nervos periféricos, incluindo os nervos cranianos (por exemplo, síndrome de Ramsey-Hunt).15

O acometimento dos nervos periféricos e as polirradiculoneuropatias já foram documentados em pacientes infectados com SARS-CoV-2.3,8,10 Alguns autores defendem que o relato de envolvimento de apenas quatro nervos cranianos pode ser devido à ausência de investigações ativas sistemáticas dos nervos cranianos,15 de tal modo que apenas sintomas mais significativos, como deficiência visual (II), diplopia (III, IV, VI), disfagia ou disartria (IX, X) são normalmente investigados. Por fim, seguindo o mesmo raciocínio, há teorias postuladas e ainda não comprovadas clinicamente de possíveis efeitos da COVID-19, implicando em acometimento autonômico cardíaco.3,8,15

ATIVIDADES

1. Com relação ao histórico do novo coronavírus, leia o trecho a seguir:

“O corona é um dos principais vírus que têm como alvo o ________________. Além disso, vem demonstrando capacidades ____________.”

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.

A) sistema neurológico humano — respiratórias

B) sistema respiratório humano — neuroinvasivas

C) sistema neurológico animal — respiratórias

D) sistema respiratório humano — cardíacas

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


Com relação ao histórico do novo coronavírus, o trecho completo é: “O corona é um dos principais vírus que têm como alvo o sistema respiratório humano. Além disso, vem demonstrando capacidades neuroinvasivas.”

Resposta correta.


Com relação ao histórico do novo coronavírus, o trecho completo é: “O corona é um dos principais vírus que têm como alvo o sistema respiratório humano. Além disso, vem demonstrando capacidades neuroinvasivas.”

A alternativa correta é a "B".


Com relação ao histórico do novo coronavírus, o trecho completo é: “O corona é um dos principais vírus que têm como alvo o sistema respiratório humano. Além disso, vem demonstrando capacidades neuroinvasivas.”

2. Sobre a pandemia mundial de 2020, assinale a alternativa correta.

A) É associada ao SARS-CoV-1.

B) É associada à bactéria COVID-19.

C) Implica sintomas neurológicos.

D) É associada ao MERS-CoV.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


A pandemia de COVID-19 é causada pelo vírus denominado SARS-CoV-2, com a presença de ampla gama de sintomas, inclusive, neurológicos.

Resposta correta.


A pandemia de COVID-19 é causada pelo vírus denominado SARS-CoV-2, com a presença de ampla gama de sintomas, inclusive, neurológicos.

A alternativa correta é a "C".


A pandemia de COVID-19 é causada pelo vírus denominado SARS-CoV-2, com a presença de ampla gama de sintomas, inclusive, neurológicos.

3. São achados da história clínica que sugerem infecção por COVID-19 no cenário das complicações neurológicas, na investigação inicial:

I. Anosmia.

II. AVC.

III. Redução do nível de consciência

Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.

B) Apenas a I e a III.

C) Apenas a II e a III.

D) A I, a II e a III.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


O acometimento do sistema neurológico pelo SARS-CoV-2 pode acarretar sintomas que variam desde a simples anosmia até eventos cerebrovasculares e rebaixamento do nível de consciência.

Resposta correta.


O acometimento do sistema neurológico pelo SARS-CoV-2 pode acarretar sintomas que variam desde a simples anosmia até eventos cerebrovasculares e rebaixamento do nível de consciência.

A alternativa correta é a "D".


O acometimento do sistema neurológico pelo SARS-CoV-2 pode acarretar sintomas que variam desde a simples anosmia até eventos cerebrovasculares e rebaixamento do nível de consciência.

4. Dentre as manifestações a seguir, qual a manifestação neurológica mais comum associada à infecção por COVID-19?

A) Cefaleia.

B) Encefalite.

C) Meningite.

D) Rebaixamento do nível de consciência.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Em pacientes internados com manifestações do SNC, os sintomas mais comuns relatados foram tonturas (16,8%) e dor de cabeça (13,1%). Em pacientes com manifestações do SNP, os sintomas mais relatados foram comprometimento do paladar (5,6%) e comprometimento do olfato (5,1%).

Resposta correta.


Em pacientes internados com manifestações do SNC, os sintomas mais comuns relatados foram tonturas (16,8%) e dor de cabeça (13,1%). Em pacientes com manifestações do SNP, os sintomas mais relatados foram comprometimento do paladar (5,6%) e comprometimento do olfato (5,1%).

A alternativa correta é a "A".


Em pacientes internados com manifestações do SNC, os sintomas mais comuns relatados foram tonturas (16,8%) e dor de cabeça (13,1%). Em pacientes com manifestações do SNP, os sintomas mais relatados foram comprometimento do paladar (5,6%) e comprometimento do olfato (5,1%).

Correlação clínica da fisiopatologia

As manifestações neurológicas da COVID-19 não podem ser explanadas atualmente por um único mecanismo. De modo didático e sumarizado, são evidenciados na literatura1–11,13–37

  • estado pró-inflamatório;
  • acometimento hipoxêmico;
  • estado pró-trombótico;
  • dano imunomediado direto como fatores causais e/ou agravadores das disfunções neurológicas.

A infecção por COVID-19 vem sendo associada à elevação na produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF-alfa, IL-6, IL-1), levando a uma resposta inflamatória exacerbada e ao estado de síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). Tal estado pró-inflamatório implica maior suscetibilidade do paciente à disfunção múltipla de órgãos, incluindo: 3,4,6,8,13,15,17,21,22,25–27,30

  • hipoxemia (acometimento do parênquima pulmonar);
  • distúrbios hematológicos (pró-trombótico pelo consumo de fatores);
  • vasculites (lesão endotelial pela replicação viral massiva);
  • acidose metabólica (aumento da desidrogenase lática);
  • disfunção hepática (aumento de alanina aminotransferase [ALT] e aspartato aminotransferase [AST]);
  • rins (aumento de excretas nitrogenadas, ureia, creatinina);
  • dano ao músculo esquelético (aumento dos níveis de creatinina quinase, aumento da predisposição à rabdomiólise);
  • disfunção da neurofisiologia basal secundária à disfunção de múltiplos órgãos, bem como lesão imunomediada mediante o estado pró-inflamatório e a replicação viral nos tecidos neurológicos.

A Figura 3, a seguir, apresenta manifestações neurológicas e mecanismos fisiopatológicos.

AVE: acidente vascular encefálico.

FIGURA 3: Manifestações neurológicas e mecanismos fisiopatológicos. // Fonte: Adaptada de Porta-Etessam e colaboradores (2020);3 Asadi-Pooya e Simani (2020);4 Baig (2020);7 Carod-Artal (2020);8 Yin e colaboradores (2020);9 Mao e colaboradores (2020);10 Pleasure e colaboradores (2020);11 Das e colaboradores (2020);13 Shaikh e colaboradores (2020);14 Finsterer e Stollberger (2020);15 Turtle (2020);19 Zhao e colaboradores (2020);21 Xu e colaboradores (2005);22 Lippi e colaboradores (2020);24 Zhao e colaboradores (2020);26 Zhou e colaboradores (2020);27 Siniscalchi e Gallelli (2020);30 Poyiadji e colaboradores (2020);31 Toljan (2020);32 Velázquez-Pérez e colaboradores (2020).37

Além disso, estudos das cepas vêm mostrando que SARS-CoVs exibem tendência de ligação a células com receptores específicos, dentre eles, o principal é a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2). Essa enzima é expressa principalmente em células endoteliais de vasos sanguíneos e em vários órgãos, incluindo coração, pulmões, SNC e rins.3,8,15,21

A infecção pelo SARS-CoV-2 utiliza o receptor ACE2 para invadir a célula, evoluindo com a replicação viral e, consequentemente, regulação negativa na expressão desses receptores, seja por ocupar os sítios de ligação ou pela destruição das células invadidas. Logo, a down-regulation dos receptores ACE2 nos diversos sistemas implica na ativação exacerbada da angiotensina II, devido à falta do mecanismo contrarregulador, predispondo à lesão endotelial, à inflamação tecidual e à alteração hemostática com consequente disfunção do órgão.

Um dado importante a ser acrescido é referente às atuais substâncias anti-hipertensivas e suas interações com a COVID-19, os inibidores de enzima conversora de angiotensina II (IECAs) e os bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRAs). Ambas as substâncias regulam positivamente a expressão da ECA2 em estudos com animais e, portanto, alguns apontamentos vêm demonstrando preocupação sobre o uso dessas substâncias e o possível aumento na morbimortalidade da COVID-19.3,8,15,21,38

Em contrapartida, dados em animais sugeriram potencial efeito protetor dos BRAs contra a pneumonia por COVID-19, pois um BRA impediu o agravamento clínico do paciente em vigência da lesão pulmonar aguda em camundongos infectados com SARS-CoV, que está intimamente relacionado ao SARS-CoV-2.3,8,15,21,38

É importante ressaltar, no entanto, que não há evidências clínicas ou experimentais que sustentem que os BRAs e os IECAs aumentem a suscetibilidade ao SARS-CoV-2 ou agravem os resultados da COVID-19 no momento.

Logo, de maneira sinérgica, as tempestades de ocitocinas inflamatórias, o estado pró-trombótico propiciado pelo consumo de plaquetas associado ao aumento da reatividade vascular (dano endotelial) e o acometimento dos receptores ACE2 implicam no aumento do risco cardiovascular com a predisposição de coagulação intrínseca disseminada e eventos trombóticos cardiovasculares. Tal relação causal é corroborada pelo aumento nos níveis de dímero-D, creatinofosfoquinase (CPK) e proteína C-reativa (PCR), principalmente nos pacientes com casos de maior gravidade.10

Portanto, justifica-se também porque pacientes portadores de comorbidades crônicas com aumento do risco cardiovascular (hipertensão arterial sistêmica [HAS], doença cardiovascular e diabetes melito [DM]) possuem maiores frequências de pior gravidade e presença de complicações neurológicas.

Considerações sobre situações especiais

Sobre a influência da COVID-19 na progressão das doenças neurodegenerativas, como esclerose múltipla, doença de Parkinson e outros transtornos de movimento, até esse momento, não há evidências concretas sobre mudança na evolução da doença.20,23,24,37

Os efeitos a longo prazo da infecção por COVID-19 no SNC ainda permanecem incertos, sendo que estudos prévios sobre outros subtipos de SARS-CoVs e MERS-CoVs sugerem ausência de correlação de ação direta com pior evolução nas doenças neurodegenerativas.20,23,24,37

Mediante a associação do SARS-CoV-2 com disfunção mitocondrial, proteostases, metabolismo lipídico, respostas ao estresse e outras vias que também reverberam com várias vias relevantes no envelhecimento celular, alguns estudiosos sugerem potenciais complicações na gênese e na evolução de doenças neurodegenerativas a longo prazo.13,32 Corroborando tais argumentos, alguns autores apontam artigos sobre a similaridade epidêmio-clínica do influenza e do coronavírus no neurotropismo, associado ao estudo de Yamada,36 no qual é constatado em modelo animal o neurotropismo pela substância negra e pelo hipocampo do vírus influenza A.

Em contrapartida, outros estudos entendem o pior prognóstico associado ao perfil do paciente:5,16,17,20,34,37

  • aumento da prevalência dos transtornos neurodegenerativos com a idade;
  • aumento da vulnerabilidade de idosos;
  • comorbidades concomitantes;
  • fragilidades emocional, social, e, por fim, cognitiva;
  • percepção dos pacientes sobre a redução da capacidade de fornecer atendimento neurológico padrão pela pressão sobre os sistemas de saúde trazida por essa pandemia.

Um estudo de coorte retrospectivo, realizado no Japão, mostrou que, comparados com pacientes de mesma idade e mesmo sexo, os pacientes com doença de Parkinson hospitalizados por pneumonia apresentaram ausência de alteração na taxa de mortalidade intra-hospitalar e maior tempo de internação. O estudo sugere que a mortalidade hospitalar por pneumonias não é maior em pacientes parkinsonianos, contudo não está claro até o momento se tal fato se aplica àqueles que desenvolveram síndrome do desconforto respiratório agudo em vigência de SARS-CoV-2.33

Embora as pacientes gestantes e puérperas tenham sido incluídas como grupo de risco para COVID-19, não existem diretrizes ou protocolos padronizados de manejo clínico das complicações. Até o momento, preconiza-se que as gestantes com suspeita ou confirmação de doença devem ser tratadas com terapias de suporte, levando em consideração as adaptações fisiológicas da gravidez. Dessa forma, o uso de agentes terapêuticos em investigação fora de um estudo de pesquisa deve ser guiado por uma análise de risco–benefício individual com base no benefício potencial para a mãe e a segurança do feto.39

São necessárias consultas com especialistas em obstetrícia, neonatal, neurologia, neurocirurgia e terapia intensiva (dependendo da condição da mãe) para manejo das comorbidades neurológicas de base e complicações na vigência de infecção.39

Em uma breve consideração sobre os pacientes portadores de neoplasias do SNC, a maioria dos centros está adotando a conduta de suspensão de cirurgias eletivas em tumores benignos ou pacientes oligossintomáticos, evitando-se a abordagem cirúrgica, a quimio e a radioterapia.28 A recomendação em vigência de pandemia tem sido a reavaliação periódica, em torno de três a seis meses, conforme variáveis clínicas.

Em consenso publicado nos Estados Unidos, por Mohile e colaboradores,28 pacientes com gliomas malignos, de alto grau histológico (glioblastoma, glioma anaplásico) e/ou metilados (MGMT) devem ser abordados convencionalmente, preconizando a mínima exposição. Demais tumores não foram contemplados nesse consenso, permanecendo a análise das variáveis clínicas na condução individual de cada caso.

Nos pacientes portadores de doenças neuromusculares, sobretudo esclerose lateral amiotrófica, miastenia gravis, distrofias musculares e similares, é importante compreender que a agudização da doença de base pelo estado pró-inflamatório sistêmico implica dificuldade motora de ventilação pulmonar, de tal modo que a abordagem inicial nesses pacientes deve ser a ventilação não invasiva com pressão positiva (VNIPP) com oferta adequada de oxigênio, dessa forma, objetivando evitar estados de carbonarcose pela oferta indiscriminada de oxigênio no paciente sem competência muscular de ventilação.

Em caso de necessidade de via área definitiva e permanência na terapia intensiva, o uso de bloqueadores neuromusculares (succinilcolina, rocurânio e similares) e alguns antibióticos podem implicar maior dificuldade de desmame ventilatório e maior incidência de internamento prolongado.

Manejo das complicações neurológicas da COVID-19

De maneira geral, evidencia-se que o tratamento das complicações neurológicas não se modificou na vigência do SARS-CoV-2, preconizando-se o tratamento da etiologia de base (COVID-19) e o manejo das complicações, mantendo em mente a necessidade de medidas de prevenção para aerossóis e isolamento.

O Quadro 2, a seguir, lista os principais cuidados gerais para prevenção de complicações neurológicas.

Quadro 2

PRINCIPAIS CUIDADOS GERAIS PARA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS

  • Reduzir o período de ventilação mecânica invasiva (VMI).
  • Cabeceira elevada e controle de pressão intracraniana (PIC).
  • Profilaxia de tromboembolismo (farmacológico e/ou mecânico).
  • Prevenção de focos secundários de infecção (cateteres, úlceras de decúbito).
  • Redução do tempo de internação em UTI.
  • Ajustes de parâmetros ventilatórios para prevenção de hipercapnia e hiperóxia.
  • Manejo precoce da condição de base (COVID-19 +/- foco séptico secundário).

A cabeceira elevada pode implicar na redução de broncopneumonias aspirativas secundárias, bem como auxiliar no controle da PIC. Indicar heparinização de pacientes sem contraindicação implica na redução de eventos tromboembólicos cardiovasculares, e, em casos de contraindicação farmacológica, a prevenção mecânica de trombose venosa deve ser adotada.3

A COVID-19 vem sendo associada a frequentes pneumonias bacterianas secundárias ao quadro pneumônico viral.

Sobre a VM e o controle da PIC, evidencia-se que a aplicação de PEEP elevada durante a VM, comumente necessário nos pacientes com COVID-19 em SIRS, implica resposta neuro-humoral evoluindo com ativação do sistema renina–angiotensina–aldosterona (SRAA) culminando no aumento da resistência vascular periférica e pressão arterial média (PAM).40,41

Embora ainda controverso na literatura, alguns autores defendem o uso de PEEP elevada como possível fator de pior prognóstico para manejo da PIC.40,41

No manejo das complicações cerebrovasculares, até o momento não se evidenciam contraindicações para a abordagem invasiva endovascular. O manual da Sociedade Espanhola de Neurologia defende que a restrição a esse tratamento nesses pacientes não contribuiria para menor sobrecarga da UTI ou aumento de internação, visto que a gravidade clínica desses casos exige cuidados intensivos.3

Um ponto a se considerar é o uso de medicamentos no tratamento de COVID-19 e um alto risco em potencial de interações com antiepiléticos, dada a tendência destes últimos de interagir com outros medicamentos por sua capacidade de indução e inibição de metabolismo. Portanto, é vital revisar suas interações ao adicionar ou ajustar o tratamento com antiepilético desses pacientes.3

Na literatura, estão sendo descritos os seguintes antiepiléticos associados a baixo risco de interações em pacientes com infecção por esse vírus:3

  • pregabalina;
  • gabapentina;
  • topiramato;
  • zonisamida;
  • levetiracetam;
  • lacosamida.

Cuidados especiais no manejo de substâncias antiepilépticas estão sendo descritos ao uso de lacosamida e ácido valproico. Assim, com lacosamida, é necessário o monitoramento do intervalo QT, uma vez que vários medicamentos usados como tratamento de infecção viral também podem aumentar o risco de alargamento de tal intervalo. No que tange ao tratamento com ácido valproico, até o momento, evidencia-se interação com lopinavir e ritonavir, culminando no aumento da exposição aos efeitos colaterais desse fármaco.3

Pacientes neurológicos, frequentemente com polifarmácia e performance clínica prejudicada, dão entrada na emergência por distúrbios hidreletrolíticos, em especial hiponatremia, bem como agudização de doença autoimune (surto de neuromielite óptica ou esclerose múltipla) associados à infecção por COVID-19 com ou sem sintomas gripais vigentes na admissão.

Diversos artigos que foram publicados na fase inicial de pandemia propunham o uso de terapias farmacológicas e/ou alternativas para o tratamento da COVID-19 e a nova variante, Ômicron. Nesse momento, não há tratamento profilático ou específico para a COVID-19, de tal modo que o uso de terapias imunomoduladoras, antimaláricos, inibidores de protease, Ivermectina, ozonioterapia, entre outros, têm resultados controversos ou provaram ineficiência após análise retrospectiva.3

Além disso, diversos desses tratamentos implicavam aumento de efeitos colaterais e/ou exacerbações de comorbidades de base. Dessa forma, os efeitos colaterais no SNC secundários à própria medicação são sumarizados pelo Quadro 3, traduzido do manual da Sociedade Espanhola de Neurologia.3

Quadro 3

RESUMO DOS PRINCIPAIS EFEITOS COLATERAIS NEUROLÓGICOS ATRIBUÍDOS A CADA UMA DAS SUBSTÂNCIAS PREVIAMENTE UTILIZADAS NA INFECÇÃO POR SARS-CoV-2

Classe da medicação

Medicação

Efeitos colaterais

Frequentes

Raros

Antimaláricos

Hidroxicloroquina

Cefaleia, agitação, psicose, diminuição da acuidade visual

Crises epilépticas, nistagmo, retinopatia, ataxia

Cloroquina

Cefaleia, discromatopsia, confusão, tontura, hipotonia, insônia, nervosismo, parestesias, sonolência

Crises epiléticas, hipotonia, psicose, neuropatia

Inibidores de protease

Lopinavir, Ritonavir

Disgeusia, parestesias perioral e periférica, cefaleia, tontura, neuropatia periférica

Insônia, ansiedade, confusão, transtornos de atenção, síncope, convulsões epiléticas

Inibidores de RNA polimerase

Remdesivir

NR

NR

Interferon

Interferon 1-Beta

Cefaleia, parestesias, ansiedade, depressão

Crises epiléticas

Anticorpo monoclonal anti-IL6

Tocilizumab

Cefaleia, náusea

Neuropatia, tontura, hipoestesia,

parestesia, tremores,

sonolência, encefalopatia,

AVC, convulsões

Anticorpo monoclonal anti-IL1

Anakinra

Cefaleia

NR

NR: não relatado.

Fonte: Adaptado de Porta-Etessam e colaboradores (2020).3

A utilização de fármacos, como os IECAs e os BRAs, assim como a utilização de tiazolidinodionas e de ibuprofeno estão sendo associadas à elevação dos níveis da ECA-2. Contudo mediante parecer da Sociedade Brasileira de Cardiologia,38

[...] em não havendo evidências definitivas a respeito da associação entre o uso desses fármacos e maior risco da doença, é recomendado a avaliação individualizada do paciente em relação ao risco cardiovascular da suspensão dos fármacos versus o risco potencial de complicações da doença [...]

Prognóstico neurológico após a infecção

As consequências de saúde de médio e longo prazos experimentadas por sobreviventes de COVID-19 são atualmente desconhecidas. Estudos retrospectivos relataram incidência de sintomas persistentes variando de 40 a 90% dos pacientes; contudo a interpretação dos resultados é dificultada por42–50

  • avaliações não sistemáticas;
  • curto prazo de acompanhamento;
  • grande heterogeneidade da amostra (idade, sexo, comorbidades e afins);
  • gravidade da infecção;
  • seguimento;
  • características da avaliação clínica.

A chamada “síndrome pós-covid” inclui sintomas persistentes que podem estar relacionados a inflamação residual (fase de convalescença), lesão de órgãos, efeitos inespecíficos da hospitalização ou ventilação prolongada (síndrome pós-cuidados intensivos), isolamento social ou impacto em condições de saúde preexistentes.42–50

É nítida a existência da síndrome, seja em pacientes com e sem necessidade de internação hospitalar. Contudo pacientes submetidos à internação possuem maiores taxas de complicações e sequelas, devido à agressividade da doença e/ou a complicações da internação prolongada (síndrome do doente crítico ou pós-UTI).50,51

Manifestações neurológicas de gravidade variável foram relatadas em 36,4 a 82,3% dos pacientes hospitalizados e não hospitalizados com COVID-19 em todo o mundo.42–46 Disfunções neurológicas, pulmonares, cardíacas e gastrintestinais podem persistir na fase pós-aguda e constituir síndrome pós-COVID-19 (também chamada de long covid syndrome ou post-acute sequelae of SARS-CoV-2 infection [PASC]).47 Além disso, aproximadamente 80% dos indivíduos infectados apresentam sintomas respiratórios limitados e transitórios, e não requerem hospitalização por pneumonia ou hipoxemia.46,47 No entanto alguns desenvolvem sintomas persistentes e debilitantes, apesar de ser uma doença relativamente leve no início.42–47

Do ponto de vista clínico, enquanto alguns pacientes foram considerados positivos pelo exame RT-PCR no início dos sintomas, muitos não preencheram os critérios para teste no início da pandemia ou testaram negativo em um momento em que os sintomas respiratórios haviam diminuído. Além disso, alguns pacientes não tinham anticorpos detectáveis para SARS-CoV-2 quando o primeiro teste sorológico ficou disponível comercialmente.42–48

Pacientes com sintomas pós-COVID e testes negativos podem representar resultados falso-negativos, devido à produção transitória de anticorpos antivirais ou à sensibilidade limitada do ensaio.42–48

Dentre os sintomas de síndrome pós-COVID relatados, são descritos:14,41–50

  • persistência de esquecimentos ou alentecimento de raciocínio (brain fog ou"névoa cerebral");
  • cefaleia, parestesias e formigamentos;
  • disgeusia;
  • anosmia;
  • mialgia;
  • dor;
  • visão turva intermitente;
  • tontura não vertiginosa e/ou desequilíbrio inespecífico;
  • fadiga;
  • zumbido;
  • ansiedade;
  • depressão;
  • respiração curta ou sensação de dispneia;
  • dor torácica atípica;
  • insônia;
  • sintomas gastrintestinais.

A Tabela 1, a seguir, lista os principais sintomas da síndrome pós-COVID e suas respectivas incidências.

Tabela 1

PRINCIPAIS SINTOMAS DA SÍNDROME PÓS-COVID-19

Sintomas neurológicos

Sintomas não neurológicos

Sintomas

Incidência

Sintomas

Incidência

Brain fog

81%

Fadiga

85%

Cefaleia

68%

Ansiedade

47%

Parestesias

60%

Depressão

46%

Disgeusia

59%

Dispneia

45%

Anosmia

55%

Dor torácica

30%

Mialgia

55%

Insônia

33%

Tontura

47%

TGI

29%

Dor

43%

Visão turva

30%

Zumbido

29%

Fonte: Adaptada de Graham e colaboradores (2021).46

O Grupo de Estudos Brasileiros de Neuroimunologia estabeleceu o relato de casos de síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) em pacientes com neuromielite óptica em 2020. Foram incluídos 2.061 pacientes, entre 8 e 77 anos, com início da doença aos 31 anos (intervalo 4–69) e duração da doença de seis anos (intervalo 0,2–20). Embora a maioria dos pacientes apresentasse doença leve, sendo tratada em domicílio (77%), 15% apresentaram manifestações neurológicas (surto clínico ou pseudoexacerbação) durante ou após a infecção por SARS-CoV-2, bem como chances muito maiores de internação e internação em UTI em comparação com a população geral brasileira.49

Neste estudo, a frequência de morte não foi claramente diferente.49

Do ponto de vista cognitivo, a metanálise de 6.202 artigos, com 2.049 pacientes com COVID-19, publicada por Crivelli e colaboradores51 evidenciou redução média de 0,94 pontos ([CI] -2,59, -0.29; p = 0,0049) na Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA), quando comparada com grupo-controle saudável. Além disso, prejuízo nas funções executivas, na atenção e na memória foi encontrado nessa mesma amostra.

Rousseau e colaboradores50 descreveram os resultados cognitivos em pacientes com longa permanência de UTI, constatando que apenas 6,2% (2/32) se recuperaram totalmente e apresentaram escores normais para MoCA, IES-R e Barthel. Além disso, os principais distúrbios observados foram

  • PSQI >5 (75%, 24/32);
  • MoCA <26 (44%, 14/32);
  • Barthel <100 (31%, 10/32);
  • IES-R ≥33 (28%, 32/09).

Pacientes com queixas cognitivas devem ser submetidos a avaliações por testes padronizados (MEEM ou MoCA) pelo médico assistente, bem como a avaliação de neuropsicólogo, em caso de sinais de comprometimento.

Pacientes com cefaleia persistente em vigência de infecção por COVID-19 ou após infecção devem ser criteriosamente avaliados quanto à possibilidade de cefaleias secundárias. Comumente, no pronto atendimento, evidencia-se queixa de pacientes que não apresentavam cefaleia e iniciam com cefaleia nova e/ou aumento de frequência desta, previamente conhecida após a infecção.

Embora a maioria dos casos seja de cefaleias primárias, como migrânea ou cefaleia tipo tensional, é necessária a exclusão de etiologias secundárias, principalmente trombose venosa intracraniana. Todavia tais eventos ocorrem em menor incidência se associados à imunização recente para COVID-19. Isso deve ser considerado um importante dado clínico na decisão de investigar ou não uma cefaleia nesses pacientes.

Por fim, por se tratar de uma doença de inflamação sistêmica, o seguimento ambulatorial após a infecção deve incluir novos estudos metabólicos e avaliação criteriosa para identificação precoce de distúrbios, como os endocrinológicos, DM, hipotireoidismo, doença autoimune até então insidiosa (casos de primeiro surto de esclerose múltipla, neuromielite óptica, miastenia gravis, entre outros), dermatológicos, reumatológicos etc.

Considerações sobre a pandemia e dor crônica

Desde o início da pandemia, há indícios de aumento de quadros álgicos, sobretudo dorsalgia, dor lombar e dores crônicas. Dessa forma, um levantamento promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em maio de 2020, divulgou que 40% dos indivíduos previamente hígidos desenvolveram dorsalgia, e 50% dos pacientes com dores crônicas intensificaram o quadro.52

Mediante tal afirmação, questiona-se sobre a possibilidade de estimar a relação dessas dores com o cenário de pandemia. Por definição, a dor é uma experiência biológica, psicológica e social e, portanto, a resposta seria afirmativa. Assim, o isolamento social rigoroso, devido ao aumento crescente de mortes, associado à suspeita de um possível colapso do sistema de saúde, ocasionaram:

  • atraso do diagnóstico de diversas patologias, em virtude da cessação das atividades regulares de saúde;
  • aumento do número de cirurgias de urgência por atrasos de busca do serviço de saúde;
  • cancelamento de cirurgias eletivas ou dificuldades no pós-operatório de urgências por causa da escassez de leitos de UTI;
  • aumento do índice de autoprescrição de medicações, causando manejo inadequado das comorbidades, incluindo dor, gerando a cronificação desses quadros agudos;
  • aumento dos serviços de telemedicina, que, embora seja cômoda, implica subestimação de quadros clínicos ou erros diagnósticos, em razão do comprometimento do exame físico minucioso;
  • prejuízo nos cuidados multidisciplinares (fisioterapia, fonoterapia, psicoterapia e demais) e, consequentemente, reabilitação dos pacientes;
  • aumento das taxas de sedentarismo implicando no sobrepeso e obesidade;
  • aumento do isolamento social e da imersão digital, gerando um mecanismo de feedback positivo para o isolamento comportamental e a dificuldade de interação no período pós-pandemia;
  • montagem de escritórios domiciliares sem os devidos parâmetros de ergonomia;
  • a sensação de morte próxima e da doença grave, que, somada aos fatores já descritos, aumentou a sensação de impotência, depressão e fragilidade, e houve, ainda, sobre tudo isso, instalação de processo de catastrofização;
  • desconforto e transtornos associados à persistência de sintomas na síndrome pós-COVID.

Os mecanismos potenciais que contribuem para a fisiopatologia da síndrome pós-COVID-19 na gênese da dor são:

  • alterações fisiopatológicas específicas induzidas pelo vírus;
  • mutações imunológicas e danos inflamatórios em resposta à infecção aguda;
  • sequelas esperadas do doente crítico na internação prolongada.

A fisiopatologia da síndrome de terapia pós-intensiva é multifatorial e tem sido proposta para envolver isquemia e lesão microvascular, imobilidade e alterações metabólicas durante a doença crítica, certamente, com queixas dolorosas múltiplas associadas.

As mudanças fisiopatológicas incluem o comprometimento do SNC pela invasão viral direta ou indireta, causando encefalite da base do encéfalo (especialmente de áreas límbicas e corticais, e/ou subcorticais telencefálicas anteriores) pelo aumento da carga viral próximo aos prolongamentos do bulbo olfatório, assim como do tronco encefálico, em que há sistemas com funções de detecção e mensuração de substâncias na circulação sistêmica.

A doença viral causou diretamente o aumento de circunstâncias, com o desfecho doloroso, e, indiretamente, pelo tratamento e/ou pelas complicações do confinamento.

Alguns pontos de desenvolvimento devem ser frisados pela pandemia:

  • aprimoramento das tecnologias virtuais de receituários e de telemedicina;
  • iniciativas para técnicas menos invasivas, objetivando abordagens cirúrgicas sem necessidade de leito de UTI;
  • aprimoramento de programas intra-hospitalares de gestão para manejo de crises;
  • novas discussões éticas sobre cuidados paliativos;
  • flexibilização dos regimes de trabalho em diversas áreas;
  • valorização e novas estruturações curriculares de determinadas especialidades médicas.

Atualmente, os dados ainda estão contaminados com vieses econômicos, sociais, políticos, entre outros. Com certeza, as pessoas não serão iguais ao que eram antes da pandemia. Na verdade, o estilo de vida foi deteriorado, assim como a qualidade de vida durante esse surto mantido por tanto tempo. Portanto, ainda é imprevisível saber quais as reais implicações a longo prazo dessa pandemia.

ATIVIDADES

5. Qual a classe de anti-hipertensivos apontada inicialmente como possível fator predisponente para a infecção de COVID-19?

A) Bloqueadores dos canais de cálcio.

B) IECAs.

C) Diurético tiazídico.

D) Diurético poupador de potássio.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


A infecção pelo novo coronavirus não é indicativa de prescrição de IECAs, devendo cada caso ser avaliado individualmente.

Resposta correta.


A infecção pelo novo coronavirus não é indicativa de prescrição de IECAs, devendo cada caso ser avaliado individualmente.

A alternativa correta é a "B".


A infecção pelo novo coronavirus não é indicativa de prescrição de IECAs, devendo cada caso ser avaliado individualmente.

6. Sobre o manejo do AVC na fase aguda em um paciente com COVID-19 reagente, como se deve proceder?

A) Evitar uso de antiagregantes plaquetários.

B) Contraindicar a trombólise endovenosa.

C) Sem mudanças na abordagem inicial.

D) Suspender o uso de IECAs.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


Na abordagem inicial do AVC, seja isquêmico ou hemorrágico, o manejo inicial não será modificado na vigência de paciente portador de COVID-19, lembrando sempre da necessidade de isolamento respiratório. Dessa forma, são pacientes com maior potencial de complicações secundárias associadas, incluindo infecções, internação prolongada, distúrbios hidreletrolíticos e afins, que devem ser manejados concomitantemente ao quadro cerebrovascular.

Resposta correta.


Na abordagem inicial do AVC, seja isquêmico ou hemorrágico, o manejo inicial não será modificado na vigência de paciente portador de COVID-19, lembrando sempre da necessidade de isolamento respiratório. Dessa forma, são pacientes com maior potencial de complicações secundárias associadas, incluindo infecções, internação prolongada, distúrbios hidreletrolíticos e afins, que devem ser manejados concomitantemente ao quadro cerebrovascular.

A alternativa correta é a "C".


Na abordagem inicial do AVC, seja isquêmico ou hemorrágico, o manejo inicial não será modificado na vigência de paciente portador de COVID-19, lembrando sempre da necessidade de isolamento respiratório. Dessa forma, são pacientes com maior potencial de complicações secundárias associadas, incluindo infecções, internação prolongada, distúrbios hidreletrolíticos e afins, que devem ser manejados concomitantemente ao quadro cerebrovascular.

7. Qual o distúrbio hidreletrolítico mais comum no paciente com COVID-19?

A) Hiponatremia.

B) Hipocalemia.

C) Hipernatremia.

D) Hipercalemia.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Comumente, na prática clínica, evidencia-se a presença de hiponatremia nos pacientes com COVID-19, sobretudo em pacientes idosos, polimedicados, incluindo uso de anticonvulsivantes e demais medicações de cunho neurológico associadas, por vezes, como manifestação inicial do quadro não associado a sintomas respiratórios.

Resposta correta.


Comumente, na prática clínica, evidencia-se a presença de hiponatremia nos pacientes com COVID-19, sobretudo em pacientes idosos, polimedicados, incluindo uso de anticonvulsivantes e demais medicações de cunho neurológico associadas, por vezes, como manifestação inicial do quadro não associado a sintomas respiratórios.

A alternativa correta é a "A".


Comumente, na prática clínica, evidencia-se a presença de hiponatremia nos pacientes com COVID-19, sobretudo em pacientes idosos, polimedicados, incluindo uso de anticonvulsivantes e demais medicações de cunho neurológico associadas, por vezes, como manifestação inicial do quadro não associado a sintomas respiratórios.

8. Sobre a presença de dor nos pacientes com COVID-19, assinale a alternativa correta.

A) São ótimos candidatos ao uso de opioides.

B) Necessitam de abordagem multidisciplinar.

C) Não existe sensibilização central associada, evidenciado apenas dor nociceptiva.

D) Não necessitam de abordagem neurológica.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


A dor é uma experiência biológica, psicológica e social desagradável, que deve ser abordada de maneira multidisciplinar por equipes especializadas.

Resposta correta.


A dor é uma experiência biológica, psicológica e social desagradável, que deve ser abordada de maneira multidisciplinar por equipes especializadas.

A alternativa correta é a "B".


A dor é uma experiência biológica, psicológica e social desagradável, que deve ser abordada de maneira multidisciplinar por equipes especializadas.

Conclusão

Como o mundo está em fase de aprendizagem de como a COVID-19 se manifesta clinicamente e como os pacientes vêm evoluindo com diferenças, comparados aos casos afetados por SARS-CoVs relatados no passado, é difícil, senão impossível, prever qualquer teste diagnóstico neurológico para verificar os pacientes de alto risco com COVID-19 com disfarce da infecção do sistema nervoso. Portanto, como os déficits neurológicos ocorrem em qualquer momento da doença, diagnóstico diferencial precoce e adoção de medidas preventivas podem salvar vidas em pacientes com essa doença.

Atividades: Respostas

Atividade 1 // Resposta: B

Comentário: Com relação ao histórico do novo coronavírus, o trecho completo é: “O corona é um dos principais vírus que têm como alvo o sistema respiratório humano. Além disso, vem demonstrando capacidades neuroinvasivas.”

Atividade 2 // Resposta: C

Comentário: A pandemia de COVID-19 é causada pelo vírus denominado SARS-CoV-2, com a presença de ampla gama de sintomas, inclusive, neurológicos.

Atividade 3 // Resposta: D

Comentário: O acometimento do sistema neurológico pelo SARS-CoV-2 pode acarretar sintomas que variam desde a simples anosmia até eventos cerebrovasculares e rebaixamento do nível de consciência.

Atividade 4 // Resposta: A

Comentário: Em pacientes internados com manifestações do SNC, os sintomas mais comuns relatados foram tonturas (16,8%) e dor de cabeça (13,1%). Em pacientes com manifestações do SNP, os sintomas mais relatados foram comprometimento do paladar (5,6%) e comprometimento do olfato (5,1%).

Atividade 5 // Resposta: B

Comentário: A infecção pelo novo coronavirus não é indicativa de prescrição de IECAs, devendo cada caso ser avaliado individualmente.

Atividade 6 // Resposta: C

Comentário: Na abordagem inicial do AVC, seja isquêmico ou hemorrágico, o manejo inicial não será modificado na vigência de paciente portador de COVID-19, lembrando sempre da necessidade de isolamento respiratório. Dessa forma, são pacientes com maior potencial de complicações secundárias associadas, incluindo infecções, internação prolongada, distúrbios hidreletrolíticos e afins, que devem ser manejados concomitantemente ao quadro cerebrovascular.

Atividade 7 // Resposta: A

Comentário: Comumente, na prática clínica, evidencia-se a presença de hiponatremia nos pacientes com COVID-19, sobretudo em pacientes idosos, polimedicados, incluindo uso de anticonvulsivantes e demais medicações de cunho neurológico associadas, por vezes, como manifestação inicial do quadro não associado a sintomas respiratórios.

Atividade 8 // Resposta: B

Comentário: A dor é uma experiência biológica, psicológica e social desagradável, que deve ser abordada de maneira multidisciplinar por equipes especializadas.

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Autores

BRUNO CAMPOREZE // Graduado em Medicina pela Universidade São Francisco (USF). Departamento de Neurologia, Instituto de Neurologia de Curitiba.

MESSIAS EDUARDO DA SILVA // Departamento de Neurocirurgia, Hospital Universitário São Francisco de Assis na Providência de Deus, Bragança Paulista – SP.

JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JUNIOR // Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Doutor em Anestesiologia e Dor pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Departamento de Neurocirurgia, Hospital A.C. Camargo Câncer Center, São Paulo – SP.

Como citar a versão impressa deste documento

Camporeze B, Silva ME, Oliveira Junior JO. Afecções neurológicas na COVID-19. In: Sociedade Brasileira de Clínica Médica; Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência; Lopes AC, Tallo FS, Lopes RD, Vendrame LS, organizadores. PROURGEM Programa de Atualização em Medicina de Urgência e Emergência: Ciclo 16. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2023. p. 11–38. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4). https://doi.org/10.5935/978-65-5848-976-4.C0001

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