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ANESTESIA PARA CRANIOTOMIA COM DESPERTAR INTRAOPERATÓRIO

Vinicius Vieira

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de

  • identificar fatores capazes de favorecer o vínculo e uma relação de confiança com paciente e familiares;
  • coordenar o ambiente em sala operatória e a atuação das diversas equipes;
  • selecionar a técnica anestésica adequada e permitir um despertar intraoperatório exitoso;
  • ser capaz de confeccionar efetivo bloqueio do scalp;
  • estar preparado para responder às mudanças de cenários e às possíveis intercorrências.

Esquema conceitual

Introdução

O termo, em inglês, awake craniotomy refere-se ao ato neurocirúrgico no qual o paciente, por todo o tempo ou em determinado período, permanece acordado, possibilitando sua cooperação com testes neurofuncionais. Esses testes buscam mapear o córtex eloquente imediatamente antes e também durante a ressecção cirúrgica de uma lesão. O objetivo é evitar que o neurocirurgião, de forma inadvertida e não intencional, cause dano neurológico ao paciente.

Estudos arqueológicos demonstraram que, na história antiga, o crânio de enfermos acometidos por convulsões era trepanado como forma de tratamento.1 Isso, obviamente, era feito com o indivíduo acordado. Hoje, sabe-se que a convulsão é uma das apresentações clínicas mais comuns de diversos tumores cerebrais. Na era moderna, a neurocirurgia de craniotomia com o paciente acordado foi resgatada, principalmente pelo desenvolvimento de técnicas de mapeamento cerebral.

No início da década de 1930, Penfield2–5 realizou diversos estudos e contribuiu muito para seu desenvolvimento. Mais tarde, no final da década de 1980, Archer e colaboradores publicou estudo relatando a experiência anestésica em 347 pacientes que passaram por cirurgia de craniotomia na qual permaneceram acordados.6 Com o desenvolvimento tecnológico, a técnica se popularizou e é considerada o padrão-ouro para ressecção de tumores acometendo as regiões eloquentes ou adjacências.7

Particularmente, é preferível a expressão “neurocirurgia com despertar intraoperatório”, pois acredita-se que a tradução literal do termo em inglês, “craniotomia acordada”, além de ter sonoridade estranha na língua portuguesa, não descreve de forma adequada a técnica. Embora, atualmente, esse procedimento seja mais empregado para a ressecção de tumores cerebrais, ele pode ser usado para tratamento de epilepsia, da doença de Parkinson e de neurocirurgias vasculares, bem como em pacientes nos quais a anestesia geral possa ser de grande risco.

Importante salientar que muitas lesões cerebrais não são curáveis por cirurgia, e que esse ato, muitas vezes, é só uma parte do tratamento. Dessa forma, uma ressecção ampla e irrestrita pode não só comprometer a capacidade neurofuncional de um paciente e sua qualidade de vida, como também não trazer a cura.8

Este capítulo tem como objetivo estruturar, de forma lógica e sucessiva, as etapas do ato anestésico no cenário da neurocirurgia com despertar intraoperatório, bem como ressaltar detalhes que devem ser observados em cada uma delas para que o anestesiologista tenha domínio sobre todo o processo. Esses detalhes vão além do que é descrito na literatura e são baseados, também, na experiência do autor.

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