- Introdução
Na atualidade, observa-se que a inserção de adolescentes na vida sexual ocorre de maneira cada vez mais precoce. No entanto, ao iniciarem esse processo sem a devida orientação, os adolescentes estão sujeitos às consequências de sua atitude, que podem provocar mudanças significativas em sua forma de ser e de estar no mundo.
Entre os desdobramentos dessa realidade, a gravidez é uma consequência de relevante incidência e, quando ocorre, pode acarretar vários problemas para os adolescentes e seus familiares. Isso ocorre porque os adolescentes, na maioria das vezes, não se encontram devidamente preparados para assumir a responsabilidade de gerar e criar um filho, uma situação que exige ampliação de maturidade e apoio familiar.1,2
Pode-se afirmar que uma gestação não planejada é capaz de ocasionar muitos transtornos para o adolescente, como cerceamento da liberdade, vergonha perante o grupo no qual está inserido, dependência financeira dos pais, situações de risco ao tentar interromper a gestação, evasão e absenteísmo escolar, abandono de atividades pertinentes à idade devido à necessidade de trabalhar para custear os gastos com o filho, entre outros. Além disso, há casos em que os parceiros não assumem a responsabilidade e as adolescentes acabam sozinhas com o filho.1,3
Quando as adolescentes descobrem que estão grávidas, o desespero para enfrentar essa nova realidade tem se mostrado prevalente. Costumeiramente, sentem-se sozinhas, amedrontadas e com medo de contar aos pais e a seus parceiros sobre a gravidez. Por tais motivos, o apoio psicológico é muito importante, uma vez que muitas acabam deprimidas e não aderem ao pré-natal — falta-lhes maturidade suficiente para compreender e lidar com as mudanças tanto em seu corpo quanto em seu meio social.1
O apoio familiar é fundamental neste momento de dificuldade. Por isso, tanto a família quanto a adolescente grávida devem ser apoiados e acolhidos pelos profissionais que prestam assistência nos diversos cenários de atenção em saúde.1
O aumento do número de casos de gravidez na adolescência é preocupante, cabendo, no contexto social vigente, uma maior atenção educativa por parte dos profissionais de saúde, com o objetivo de fazer os adolescentes e seus familiares refletirem criticamente sobre a realidade vivida, de modo a prepará-los de maneira mais adequada para o auxílio às jovens mães no que tange ao enfrentamento de tais mudanças e para o estabelecimento de metas para o futuro.1
Nesse contexto, há espaço para a atuação do enfermeiro, sobretudo na utilização de suas habilidades e competências pedagógico-educativas junto aos adolescentes. O enfoque do enfermeiro em relação à adolescente grávida no pré-natal, além do acompanhamento da gestação, deve ter um caráter educacional vinculado à promoção e proteção à saúde, com vistas a tornar a adolescente, seu parceiro e seus familiares participantes ativos do processo de cuidado.1
A articulação entre as áreas da educação e saúde é fundamental para que se possa trabalhar a temática, de forma a compreender os sentimentos da adolescente e aumentar a abrangência de cobertura da atenção e o alcance de objetivos no que tange à promoção, prevenção, proteção e recuperação, quanto à educação em saúde, não só para os adolescentes individualmente, mas também para todo o núcleo familiar.4
A gravidez na adolescência é um tema preocupante em saúde pública, tornando-se um problema ainda maior quando ocorre reincidência. Entretanto, é possível criar estratégias eficazes no que tange à abrangência de entendimento dos adolescentes em relação ao contexto de reincidência.5
A literatura endossa que o cuidado implica compromisso por parte da equipe de enfermagem para com os pacientes, destacando-se a necessidade de individualizar a assistência e a importância da produção de novas tecnologias para as inovações na área da saúde e enfermagem à medida que auxiliam a organização do serviço, a implementação do cuidado e a inovação da prática do exercício profissional.6,7
A assistência prestada pelos enfermeiros abarca dimensões objetivas e subjetivas, que versam sobre o seu fazer prático, teórico e relacional. Assim, o enfermeiro passa a utilizar variadas tecnologias, e o cuidado, enquanto atributo profissional, corresponde à ação da enfermagem que faz uso de conhecimento e embasamento como tecnologia para o alcance de um fim.7
Como referem Cestari e colaboradores,6 as tecnologias de cuidado podem ser classificadas em duras (instrumental complexo em seu conjunto, englobando todos os equipamentos para tratamentos, exames e a organização das informações), leve-duras (saberes profissionais bem estruturados com a clínica, a epidemiologia e os demais profissionais que compõem a equipe) e leves (utilizadas nas relações humanas, como produção de vínculo e autonomia, e o acolhimento do usuário/paciente).
A ideia de tecnologia não está ligada somente a equipamentos tecnológicos, mas também ao “saber fazer” e a um “ir fazendo”. No campo da saúde, embora as categorias tecnológicas se inter-relacionem, não deve prevalecer a lógica do “trabalho morto”, aquela expressa nos equipamentos e saberes estruturados.8
Ao se pensar sobre essas questões, cabe destacar a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986,9 que assegura que o enfermeiro pode desenvolver diferentes ações educativas durante o pré-natal. Ao atuar como educador em saúde, o enfermeiro pode promover um cuidado integral e criativo aos adolescentes consultados, aprimorando a assistência de enfermagem, garantindo aos sujeitos que são cuidados a possibilidade de se tornarem participantes das ações e de protagonizarem a sua condição de vida, conscientizando-os por meio da partilha de conhecimentos que poderão ser utilizados para transformar a sua realidade.10
Em virtude de o cuidado prestado por um enfermeiro ter um viés educativo e de a educação ser mediada no âmbito relacional, o presente artigo é referenciado à luz das concepções de Paulo Freire, renomado educador brasileiro, cuja apropriação teórica e a incorporação à prática de cuidado em enfermagem, aqui compreendidas como tecnologia leve, podem ser essenciais para a promoção de reflexões e a tomada de decisões em saúde no pré-natal de adolescentes.
Paulo freire destaca que o homem não é uma ilha, é comunicação; que a educação tem caráter permanente; que estamos todos nos educando e que o saber se constrói através de uma superação constante.10
Com base no contexto exposto, torna-se possível caminhar rumo a algumas inquietações, cabendo indagar: Qual a importância do enfermeiro como educador durante a consulta de enfermagem no pré-natal de adolescentes? Como, pela educação em saúde, o enfermeiro pode contribuir, para a ampliação da consciência e responsabilidade dos adolescentes sobre a gravidez durante as consultas de enfermagem realizadas no período pré-natal? Como a pedagogia de Paulo Freire pode ser utilizada para subsidiar a atuação do enfermeiro na consulta de enfermagem no pré-natal de adolescentes?
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- identificar a importância do enfermeiro como educador durante a consulta de enfermagem no pré-natal de adolescentes;
- refletir sobre o potencial educativo do enfermeiro durante as consultas de enfermagem realizadas com adolescentes no período pré-natal;
- aplicar a pedagogia de Paulo Freire enquanto tecnologia leve de cuidado e como subsídio para a atuação do enfermeiro na consulta de enfermagem pré-natal de adolescentes.
- Esquema conceitual