- Introdução
A sífilis é uma infecção importante para a saúde pública, sendo transmitida pelas vias sexual e placentária (vertical) ou por transfusão sanguínea. A sífilis causa, na atualidade, grande impacto social, em razão dos altos custos, indiretos e diretos, decorrentes de internações e de procedimentos para o tratamento de suas complicações.1
A sífilis congênita (SCsífilis congênita) ocorre quando a gestante, não tratada ou tratada de forma inadequada, transmite a sífilis (Treponema pallidum) para o concepto por via transplacentária, podendo ocasionar consequências graves à gravidez em até 80% dos casos. Os eventos adversos (EAevento adversos) mais frequentes da sífilis são aborto, morte fetal, baixo peso ao nascer, morte do recém-nascido (RNrecém-nascido) e SCsífilis congênita.2,3
A SCsífilis congênita é uma infecção de notificação compulsória no território brasileiro desde 1986, sendo obrigatória a comunicação por todos os profissionais de saúde. Entretanto, observa-se que grande parte dos casos não é notificada, mesmo com a melhora da qualidade da informação registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SinanSistema de Informação de Agravos de Notificação).2
O Brasil é signatário de diversos acordos nacionais e internacionais que visam à eliminação da SCsífilis congênita. A Organização Mundial da Saúde (OMSOrganização Mundial da Saúde) pactuou que o país deveria alcançar uma taxa de 0,5 caso (incluindo natimortos) por 1.000 nascidos vivos (NVnascido vivos) até 2015. Essa taxa não foi cumprida até o momento, demonstrando a fragilidade de diversos níveis do sistema de saúde pública nacional.4 A infecção é considerada “indicador sentinela” na qualidade da assistência ao pré-natal no âmbito da atenção primária à saúde (APSatenção primária à saúde).
Entre os principais objetivos programáticos do acordo entre Brasil e OMSOrganização Mundial da Saúde, está a ampliação da cobertura do pré-natal, a detecção e o tratamento da doença — o tratamento imediato, conforme protocolos de gestantes e de seus parceiros com diagnóstico de sífilis.5
De 1988 a junho de 2017, foram notificados, no SinanSistema de Informação de Agravos de Notificação, 159.890 casos de SCsífilis congênita em menores de 1 ano de idade, dos quais5
- 70.558 (44,1%) na Região Sudeste;
- 49.585 (31%) na Região Nordeste;
- 17.257 (10,8%) na Região Sul;
- 13.625 (8,5%) na Região Norte;
- 8.865 (5,5%) na Região Centro-Oeste.
Em 2016, observou-se uma taxa de incidência de 6,8 casos de SCsífilis congênita por 1.000 NVnascido vivos no Brasil.5 Diante desse cenário, faz-se necessário que todos os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, por lidarem de forma direta com o cuidado integral e contínuo, possam reconhecer precocemente e identificar os principais sintomas da doença, realizando e implementando intervenções de alto impacto e de baixo custo instituídas em protocolos validados pelo Ministério da Saúde (MSMinistério da Saúde), com o objetivo de reduzir a incidência da SCsífilis congênita no Brasil.
A proposta deste artigo é contribuir para a ampliação do conhecimento sobre a SCsífilis congênita, descrevendo as características clínicas, as formas de realizar o rastreamento, o diagnóstico e a vigilância epidemiológica dos RNrecém-nascidos expostos à sífilis, auxiliando o enfermeiro e demais profissionais de saúde na construção de um plano de cuidados que possa garantir o seguimento das crianças expostas.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- compreender os principais aspectos conceituais da SCsífilis congênita;
- discutir os principais eixos de atuação para a redução da SCsífilis congênita no Brasil;
- instrumentalizar-se, em sua prática profissional, no âmbito da APSatenção primária à saúde, com atividades que podem contribuir para a redução da SCsífilis congênita;
- discutir o que há de mais atual para a prevenção da SCsífilis congênita.
- Esquema conceitual