- Introdução
A mortalidade neonatal corresponde a, aproximadamente, 44% dos óbitos entre as crianças menores de 5 anos de idade em todo o mundo, resultando em 2,9 milhões de vidas perdidas a cada ano. O Brasil ocupa o 10º lugar em relação à mortalidade neonatal.¹
Apesar da redução gradativa da mortalidade materna e infantil em todo o mundo, os índices de mortalidade neonatal não acompanharam essa redução, e isso se deve, em grande parte, pela alta taxa de prematuridade em razão de recursos e investimentos limitados para enfrentar tal problemática.
Uma das ações que possibilitam a redução da mortalidade de recém-nascidos pré-termos (RNPTrecém-nascido pré-termos) e, consequentemente, das taxas de mortalidade neonatal e infantil é a utilização do leite humano (LHleite humano), em específico, o LHleite humano de mães de bebês pré-termo.
O LHleite humano é considerado um alimento nutricionalmente completo e ideal para os bebês até o sexto mês de vida e o fármaco personalizado mais específico que o pré-termo pode receber.2 Esses fatores são ainda mais importantes para o bebê pré-termo diante da sua alta vulnerabilidade, o que torna o aleitamento materno (AMaleitamento materno) uma importante estratégia com melhor relação custo/benefício para combater a morbidade e a mortalidade infantil.1
Um estudo de custo/eficácia do LHleite humano de doadora comparando a fórmula para RNs de muito baixo peso (RNMBPrecém-nascido de muito baixo pesos) em uma perspectiva de 18 meses de idade, realizado com 363 RNMBPrecém-nascido de muito baixo pesos, de outubro de 2010 a dezembro de 2012, mostrou que os RNMBPrecém-nascido de muito baixo pesos alimentados com LHleite humano pasteurizado do banco de leite não apresentaram diferenças significativas no desfecho da internação com relação aos custos quando comparados aos RNMBPrecém-nascido de muito baixo pesos alimentados com fórmula.3
O mesmo estudo de custo/eficácia do LHleite humano confirmou que o LHleite humano pasteurizado é tão eficaz quanto o leite materno (LMleite materno) na prevenção de enterocolite necrosante (ECNenterocolite necrosante) e de sepse neonatal. Esses bebês também apresentaram menos chances de desenvolver ECNenterocolite necrosante, quando comparados aos RNMBPrecém-nascido de muito baixo pesos alimentados com fórmula. Se comparados os custos de internação, o LHleite humano propicia uma redução no custo para a instituição de saúde estimada em $ 5.328 para cada caso de ECNenterocolite necrosante evitado.3
Outro ponto importante, relacionado aos benefícios do LHleite humano, além de proporcionar nutrição, imunização e proteção, é que ele possibilita o crescimento e o desenvolvimento saudáveis, auxilia na maturação gastrintestinal, reduz o risco de ECNenterocolite necrosante, proporciona proteção contra a retinopatia da prematuridade, previne alergias alimentares, doenças cardiovasculares (DCVdoença cardiovasculars) e distúrbios alimentares, como o sobrepeso e a obesidade.4
O LHleite humano também oportuniza a redução de infecções neonatais, podendo influenciar diretamente no desenvolvimento cognitivo das crianças e favorecer a construção e o fortalecimento do vínculo afetivo entre a mãe e o bebê.4
Embora benefícios valiosos estejam comprovados com o LHleite humano, amamentar um bebê pré-termo não é tarefa fácil, em função da imaturidade fisiológica e neurológica, e pela dificuldade na coordenação e controle da sucção, da deglutição e da respiração.5
Outros fatores também concorrem para o risco de desmame precoce, como6,7
- alta morbidade;
- longos períodos de internação;
- falta do contato precoce entre a mãe e o bebê;
- alterações do estado emocional e psicológico materno;
- dificuldade para manter a produção láctea materna;
- técnicas inapropriadas de alimentação do bebê pré-termo;
- dificuldade para iniciar e transicionar a alimentação;
- ausência de estímulo à amamentação em momento oportuno;
- manejo inadequado pelos profissionais;
- fatores organizacionais e institucionais que impedem o contato mãe–filho.
Tantos benefícios do LHleite humano cercados por tantas dificuldades demandam que os profissionais de saúde estejam atualizados e seguros para oferecer o apoio necessário às mães de bebês pré-termo durante o processo de AMaleitamento materno, fundamentados em uma prática baseada em evidências para a superação de tamanho desafio.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- manejar o AMaleitamento materno de RNPTrecém-nascido pré-termos;
- identificar as principais dificuldades relacionadas ao AMaleitamento materno do RNPTrecém-nascido pré-termo;
- tomar decisões baseadas em evidências referentes ao manejo do AMaleitamento materno do RNPTrecém-nascido pré-termo.
- Esquema conceitual