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VIVÊNCIAS DE MÃES DE CRIANÇAS COM SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA VÍRUS: UMA ANÁLISE COM BASE NO MODELO DOS SISTEMAS DA TEORIA DE BETTY NEUMAN

Autores: Laís Helena de Souza Soares Lima , Ana Márcia Tenório de Souza Cavalcanti , Francisca Márcia Pereira Linhares
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  • Introdução

O período da gestação é repleto de expectativas em relação à chegada de uma criança na família.1 O nascimento de um filho é um momento ímpar e faz parte do contexto familiar.2 No entanto, quando a criança nasce com uma malformação, a mãe e a família sofrem pela diferença entre o filho idealizado e o real. Esse fato gera sentimentos como frustração, tristeza, culpa e preocupação. Associado a essas emoções, soma-se a sobrecarga de cuidados emanados da complexidade que envolve as complicações do diagnóstico da criança.3

A ocorrência da grande quantidade de casos notificados de microcefalia pelo Zika vírus (ZIKVZika vírus), em 2015, que posteriormente passou a ser identificada como síndrome congênita do Zika vírus (SCZVsíndrome congênita do Zika vírus), ocasionou no cenário familiar um grande impacto social e emocional pela ação de estressores que sugerem diferentes padrões de funcionamento comportamental e de adaptação social e familiar.4

A demanda de cuidados das crianças com SCZVsíndrome congênita do Zika vírus é associada frequentemente às mães, pessoa evidenciada como a cuidadora principal, que raras vezes tem com quem dividir essa responsabilidade, levando a sobrecarga e prejuízo na sua qualidade de vida.5,6

Um estudo sobre prevalência e caracterização dos casos de microcefalia no Brasil, a partir do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SinascSistema de Informação sobre Nascidos Vivos), evidenciou-se que as mães dessas crianças possuem características em comum, como idade até 24 ou 40 anos, não possuem curso superior, são solteiras ou em união estável; o que corrobora com os dados dessa pesquisa, em que as mães possuíam faixa etária entre 18 e 40 anos, em sua maioria solteiras ou em união estável, todas sem curso superior completo.7

Por ser a principal cuidadora, é a mãe que reorganiza sua vida frente às mudanças trazidas pelas recém-adquiridas responsabilidades e constantes demandas. Sua nova rotina a afasta de suas atividades externas ao domicílio para dedicação em tempo integral aos cuidados do filho. Muitas delas deixam seus empregos e interrompem parte de sua vida social,5,8 favorecendo, assim, a formação de um ambiente familiar, por vezes, repleto de estressores.

A teoria de Betty Neuman é representada por um modelo de sistemas compostos por uma estrutura básica, linhas de resistência e defesa, ação e reação a agentes estressores. Ela aborda os estressores como estímulos que provocam tensões e desestabilizam o sistema. Na interação com o ambiente, a estrutura básica, identificada como as mães de crianças com SCZVsíndrome congênita do Zika vírus, sofre a ação de fatores estressores que geram trocas recíprocas. Tanto o sistema quanto o ambiente podem ser afetados positivamente ou negativamente nessa interação. Para o alcance do bem-estar, o ideal é que esse sistema possua potencial para o autoajuste, garantindo sua estabilidade.9,10

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • discutir os aspectos conceituais relacionados ao ZIKVZika vírus e à SCZVsíndrome congênita do Zika vírus;
  • identificar os fatores relacionados aos estressores, às linhas de defesa e aos níveis de prevenção da teoria do modelo dos sistemas de Betty Neuman;
  • relacionar o modelo dos sistemas de Betty Neuman com as vivências de mães de crianças com SCZVsíndrome congênita do Zika vírus;
  • reconhecer a atuação do enfermeiro baseada na teoria do modelo dos sistemas de Betty Neuman.
  • Esquema conceitual
  • Breve histórico do Zika vírus e suas repercussões

O ZIKVZika vírus é um arbovírus emergente, do gênero flavivírus, da família flaviviridae, transmitido ao homem por meio da picada do mosquito do gênero aedes em suas várias espécies, e está fortemente relacionado a outros flavivírus de relevância para a saúde pública, incluindo o vírus da dengue (Denv), o da febre amarela e o vírus do Nilo Ocidental.11–13

Para saber mais:

 

O ZIKVZika vírus foi identificado pela primeira vez em abril de 1947, em um macaco rhesus, no continente africano, durante pesquisas sobre o vírus causador da febre amarela. A origem do seu nome tem relação com a área geográfica onde foi realizado o seu primeiro isolamento, a floresta de Zika, na República de Uganda.14

No início de 2015, foram registrados em pacientes do serviço público de saúde da cidade de Natal, Rio Grande do Norte/Brasil, sintomas que incluíam artralgia, edema das extremidades, febre moderada, erupções maculopapulares, frequentemente pruriginosas, dores de cabeça, dor retro-orbitária, conjuntivite não purulenta, vertigem, mialgia e distúrbio digestivo, sugerindo uma "síndrome semelhante a dengue".15

A partir do soro de pacientes atendidos nos serviços de emergência, pesquisadores constataram o isolamento do ZIKVZika vírus, confirmando a transmissão autóctone e a ocorrência de infecções no Brasil. Em abril de 2015, já havia notificação de doença febril aguda por ZIKVZika vírus em 18 dos 27 estados brasileiros.15–17 Com o surgimento do ZIKVZika vírus no Brasil, observou-se a ocorrência de casos de microcefalia em grande proporção. Entre as Semanas Epidemiológicas 45/2015 e 28/2017 foram notificados 14.258 casos suspeitos, sendo 2.869 confirmados.18,19

Em 22 de outubro de 2015, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES/PE), na Região Nordeste do Brasil, notificou ao Ministério da Saúde a observação do aumento no número de casos de microcefalia, uma malformação considerada de rara ocorrência até aquele momento. Até o final de 2017, o Nordeste possuía 1.447 casos em investigação e 159 confirmados.18,19

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