- Introdução
É comum, após o término da graduação em enfermagem ou até mesmo em anos de experiência, profissionais mencionarem que têm dificuldades para comunicar notícias difíceis e lidar com as emoções do paciente, pois não aprenderam as habilidades necessárias para tais tarefas em sua formação.
Alguns profissionais usualmente mencionam que aprenderam tais habilidades na prática, mas que não sabem se as exercem corretamente; outros evitam tal situação, visto que lidar com as emoções do paciente, muitas vezes, incomoda o profissional, em razão de situações já vividas. Relembrar essas experiências é experimentá-las novamente e, se foram negativas, tais lembranças podem ser restritivas para lidar com as emoções dos pacientes.
Na opinião de Pott e colaboradores,1 o fornecimento do cuidado pode ser considerado um dos aspectos humanos mais difíceis de serem implementados; para esses autores, a rotina diária complexa que envolve os serviços de saúde faz com que, muitas vezes, os membros da equipe de enfermagem negligenciem o toque, a conversa e a troca de olhar com o ser humano que está à sua frente. Torna-se importante, então, a compreensão de que o cuidar não se restringe apenas à execução de procedimentos técnicos; cuidar congrega o envolvimento do profissional com a história, com os sentimentos e com as expectativas do outro e o conhecimento e o manejo das próprias emoções.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), do curso de graduação em enfermagem, determinam o conteúdo a ser ministrado no curso e destacam ser competência do profissional de enfermagem o domínio de habilidades de comunicação no contexto da liderança, gerenciamento, interação com outros profissionais de saúde e o público em geral e que seja capacitado a sistematizar o cuidado ao paciente.2
Compreende-se, consequentemente, que a comunicação na enfermagem é um assunto que deve permear a matriz curricular da graduação, dada a sua inserção nas distintas funções profissionais. Como parte da assistência de enfermagem, a comunicação para o manejo de emoções tem merecido atenção discreta nos currículos dos cursos de enfermagem, ainda que seja considerada relevante.
Para o desenvolvimento de habilidades de comunicação no processo de ensino–aprendizagem, o professor pode lançar mão de recursos didáticos, tais como representações de diálogos, simulações e equipamentos. Qualquer que seja a estratégia escolhida, ela deve permitir ao aluno identificar as suas dificuldades e as suas necessidades, além de favorecer ao professor refletir sobre esses aspectos, respeitando as necessidades do aluno.3
A prática de cuidados com pacientes gera experiências que despertam ansiedade para os alunos, receio, medo, nervosismo e insegurança. Nesse sentido, é salutar empregar ferramentas que reduzam esses sentimentos negativos durante a aprendizagem. A inserção de estudo de casos clínicos, o estabelecimento de cenários clínicos, as práticas em laboratório, a simulação ou a combinação dessas estratégias promovem o desenvolvimento psicomotor e do pensamento crítico4 e contribuem para reduzir os aspectos negativos citados.
A comunicação, enquanto um processo multifacetário, tem a sua relevância no ato de cuidar, desde os primórdios da humanidade, quando um ser interagia com outro e cuidava dele. Mas, do ponto de vista da enfermagem, a comunicação é substrato para o seu exercício, com diferentes propósitos ou finalidades no campo da prática assistencial.
Há um crescente reconhecimento das interfaces da comunicação nas distintas etapas do processo de enfermagem (PE). Diferentes contextos comunicacionais são empregados nas etapas de coleta de dados, que compreende a anamnese e o exame físico; no diagnóstico de enfermagem (DEdiagnóstico de enfermagem); no planejamento de enfermagem; na implementação de enfermagem; e na avaliação de enfermagem.5 Todo esse processo é permeado pela comunicação.
No âmbito deste artigo, será abordado o uso da comunicação como estratégia de intervenção de enfermagem, quer durante um procedimento, quer no diálogo sobre as situações que necessitam de informações ou são passíveis de serem alteradas. Adotar técnicas que direcionem ou auxiliem o profissional nessas tarefas favorece o êxito no cuidar.
O enfermeiro não se limita apenas ao ato de curar o corpo, mas também é capaz de trazer ao paciente conforto psicológico e espiritual. Além das técnicas e dos procedimentos utilizados no cuidado, é previsto que, na relação com o paciente, o diálogo deve ser constituído, com vistas a proporcionar bem-estar ao paciente; para que isso aconteça, o enfermeiro deve desenvolver habilidades de comunicação.3
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- identificar os fenômenos que podem ser minimizados ou solucionados com o uso de estratégias comunicacionais;
- descrever os passos das estratégias comunicacionais empregadas como intervenções de enfermagem para o manejo de situações emocionais;
- avaliar o uso das estratégias comunicacionais, utilizando instrumentos de comunicação.
- Esquema conceitual