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Atendimento pré-hospitalar tático: implicações para a assistência de enfermagem

Autores: Fernanda Idamares da Silva Souza, Thiago de Souza Louro , LAÍS SAMARA MOURA , Eric Rosa Pereira, Priscilla Valladares Broca
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • reconhecer um atendimento pré-hospitalar tático (APHT);
  • identificar a atuação da equipe de enfermagem no APHT;
  • verificar como deve ser implementado um cuidado no APHT;
  • indicar o emprego adequado dos protocolos que norteiam o APHT;
  • reconhecer a importância do gerenciamento do cuidado no APHT exercido pela enfermagem.

Esquema conceitual

Introdução

O APHT consiste em um conjunto de manobras emergenciais que são aplicadas em meio ao confronto armado, com o intuito de salvaguardar a vida humana.1

Ao longo das guerras militares no mundo, diante da dor, da destruição e das disputas políticas pelo poder, foi preciso inovar nas técnicas do cuidado que eram aplicadas no campo de batalha. Essas mudanças começaram com o cirurgião francês Jean Louis Petit, que inventou um torniquete (TQ) de parafuso para controlar o sangramento, tornando possível a amputação das coxas e reduzindo os riscos associados às amputações abaixo do joelho.1

Em 1795, Napoleão Bonaparte convidou Dominique Jean Larrey, um general médico do exército, para que ele prestasse atendimento imediato aos feridos, de modo que fossem socorridos na frente de batalha, e não mais após o fim da guerra. Isso se deu porque Napoleão Bonaparte foi gravemente ferido em uma batalha na Prússia, e, a partir disso, viu-se a necessidade de um atendimento especializado.1

Larrey, inspirado nas carruagens napoleônicas de duas rodas, também construiu uma carruagem leve, com duas rodas, puxada por cavalos, para que transportasse rapidamente os feridos através das montanhas, chamada de “ambulância voadora”. Com isso, aplicou o método de evacuação rápida dos feridos e aprimorou algumas técnicas e equipamentos de hemostasia.1

Em 1944, surgiram os paramédicos, que eram infantes das forças armadas e combatentes capacitados para resgate em ambiente hostil. Em 1953, Safar e Elan desenvolveram a respiração artificial, que foi muito utilizada na guerra do Vietnã, junto à técnica boca a boca e ao soco precordial.1

Outras importantes influenciadoras da assistência no APHT foram as mulheres. Antes de serem oficialmente autorizadas a servir na guerra como enfermeiras, seu papel como cuidadoras era estereotipado, tendo em vista que eram taxadas como mulheres de má reputação, que fariam qualquer coisa por dinheiro, inclusive cuidar de doentes, com exceção das irmãs de Beguine, que se encontravam na linha do fogo após a Batalha das Esporas Douradas, em 1302, e, por conseguinte, sobreviveram a guerras, cruzadas, pragas e fome; mesmo assim, ainda continuaram a oferecer o cuidado nas comunidades em que viviam.1

Em relação ao papel da mulher no APHT, podem-se destacar Anna Nery e Florence Nightingale. Essas duas mulheres trouxeram contribuições inigualáveis na arte do cuidar. Diante de um cenário inóspito e com escassez de recursos, conseguiram oferecer uma assistência pautada na ciência e com foco no indivíduo.2

Florence Nightingale, por exemplo, implementou a teoria ambientalista nos hospitais de campanha na guerra da Crimeia, onde identificou que o desfecho clínico dos feridos provenientes dos campos de batalha se dava pelas más condições de higiene do local. Assim, ela revolucionou esses cuidados, melhorando o ambiente onde os feridos eram tratados, e propiciou uma rápida recuperação.2

A enfermeira Anna Nery prestou serviços voluntários na guerra do Paraguai, atuando em um cenário de escassez de materiais, condições de higiene inadequadas e, por vezes, foi vista na frente de batalha elevando a disposição das tropas.3

Também assume importância Virgínia Portocarrero, que integrou o primeiro grupamento feminino de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que contou com o total de 67 mulheres voluntárias oriundas de diversas partes do País. Nunca antes o Brasil havia incorporado oficialmente mulheres nas Forças Armadas. Isso aconteceu por pressão dos Estados Unidos, quando o governo Vargas passou a organizar a FEB, em função das articulações de declaração de guerra e de apoio político àquele país.4

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