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ATUALIZAÇÃO SOBRE ASPECTOS ALIMENTARES DA CRIANÇA NA CONSULTA DE PUERICULTURA

Viviane Martins da Silva

Naanda Kaanna Matos de Souza

Luísa Helena de Oliveira Lima

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • discutir evidências sobre o aleitamento materno como prática padrão-ouro para o crescimento e o desenvolvimento de crianças com idade inferior a 2 anos;
  • reconhecer fatores que podem influenciar as doenças alérgicas;
  • identificar práticas alimentares associadas ao tratamento ou à prevenção de alergias;
  • descrever os métodos de introdução de alimentos sólidos;
  • listar as recomendações do Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos.

Esquema conceitual

Introdução

Desde a Declaração de Alma-Ata, a alimentação e a nutrição integram os cuidados primários em saúde, constituindo-se em elementos fundamentais em estratégias de promoção da saúde. Essa integração tem permitido o desenvolvimento de ações na atenção primária à saúde (APS) que respeitem, protejam e efetivem o direito humano à alimentação adequada.1

Na APS, ações de alimentação e nutrição são essenciais para o enfrentamento dos problemas atuais de saúde da população brasileira, marcados por um processo de transição nutricional. Como ação básica de saúde, o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, realizado nas consultas de puericultura, destaca-se por permitir uma análise integrada e preditiva da saúde da criança, buscando a redução de alterações nutricionais e a resolutividade das práticas de promoção da saúde.2

Exemplo crítico da transição nutricional, a obesidade infantil tornou-se um grave problema de saúde pública, cuja prevalência tem aumentado de forma alarmante nas últimas três décadas.3 O acompanhamento do estado nutricional e a abordagem à alimentação saudável na puericultura são importantes, visto que a infância é uma janela crítica para a prevenção da obesidade. Sabe-se que a obesidade infantil tem tendência a acompanhar a infância, levando à persistência do excesso de peso na idade adulta e ao aumento da morbidade e mortalidade relacionadas a essa doença.

Outro fenômeno que fere o direito humano à alimentação adequada e tem gerado preocupação na APS é o desmame precoce. Trata-se de uma condição com grande influência sobre o estado nutricional da criança. O leite humano é um alimento universal, adequadamente balanceado e acessível a todas as populações. Além disso, quando comparado à fórmula infantil, permite reduzir 7 a 33% do risco de obesidade ou sobrepeso infantil.3

Embora não seja um fenômeno clínico, a introdução de novos alimentos na dieta da criança pode desempenhar importante papel no estado nutricional e na prevenção da obesidade. A prevalência da introdução precoce de alimentos sólidos tem variado entre 40,4 e 83,5% em países desenvolvidos. Essas estatísticas são preocupantes e agravam-se considerando os resultados de estudo nacional que observou prevalência de 47,8% na introdução de alimentos não recomendados antes dos 4 meses de vida, além de orientações profissionais equivocadas, sem base em diretrizes fundamentadas em evidências científicas, ou da falta de orientações nutricionais.4

Nas consultas de puericultura, profissionais de saúde devem gerar oportunidade para discussão sobre o momento adequado e os métodos de introdução da alimentação complementar. Além do método tradicional, defendido por órgãos oficiais e sociedades de profissionais, novas abordagens têm sido propostas e devem ser discutidas para não levar a práticas alimentares inadequadas e gerar agravos à saúde da criança. Citam-se entre os métodos o baby-led weaning (BLW) e o baby-led introduction to solidS (BLISS).5,6

Ainda, tem sido observada, em todos os níveis da rede de atenção à saúde (RAS), uma crescente ocorrência de doenças alérgicas, especialmente a alergia alimentar. Estima-se que a alergia alimentar afete 2 a 10% da população mundial.7 Essas doenças manifestam-se, em sua maioria, durante a primeira infância, em razão da vulnerabilidade do sistema imunológico a fatores ambientais.8

Nas últimas décadas, a nutrição tem sido objeto de muitos estudos que buscam compreender seu impacto na gênese, prevenção ou no tratamento das doenças alérgicas.8 Assim, a intervenção alimentar é vista como uma abordagem possível, que pode contribuir com segurança para a prevenção ou o alívio de doenças alérgicas.9 Acredita-se que, na consulta de puericultura, o profissional de saúde tem a oportunidade de intervir para a prevenção das doenças alérgicas ou outras alterações relacionadas à alimentação da criança.

Neste capítulo, serão discutidos temas como aleitamento materno, alergias e métodos de introdução de alimentos complementares, com a finalidade de contribuir com o enfermeiro da APS no seu papel promotor de uma alimentação saudável de crianças acompanhadas nas consultas de puericultura. Ainda, serão apresentadas as recomendações do novo Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos. Ações promotoras de saúde pautadas em evidências científicas favorecem o respeito ao direito humano à alimentação adequada.

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