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AVALIAÇÃO DA DISPNEIA E DA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO EM PEDIATRIA

Francieli Camila Mucha

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • conceituar dispneia;
  • identificar os principais mecanismos relacionados à dispneia em algumas doenças que acometem a pediatria;
  • caracterizar as particularidades que podem influenciar a avaliação da dispneia nessa população;
  • distinguir os métodos e os instrumentos disponíveis para a avaliação da dispneia em pediatria;
  • avaliar dispneia e PSE e interpretar seus achados em pediatria.

Esquema conceitual

Introdução

A dispneia é um sintoma comum, complexo e debilitante que pode afetar várias dimensões da vida de uma pessoa. Causa limitação na capacidade funcional e nas atividades de vida diárias (AVDs), compromete a qualidade de vida (QV) e provoca estresse e desconforto; em estágios avançados de doenças cardiopulmonares, chega a ser incapacitante.1,2

Borg3 foi pioneiro em mensurar a percepção de esforço como um gestalt (um todo organizado que é percebido como mais do que a soma de suas partes), ou seja, uma configuração de sensações de tensão, dores, fadiga dos músculos periféricos e do sistema respiratório, em conjunto com outros sinais sensoriais, que permite essa medição de esforço global. A percepção subjetiva de esforço (PSE) resulta da integração de uma série de informações aferentes e eferentes (ver Figura 1 mais adiante) oriundas de estruturas sensoriais localizadas nos músculos esqueléticos e no sistema cardiorrespiratório.3

A PSE é o principal elemento do sintoma da dispneia2 e é a maior causa de diminuição na QV dos indivíduos com complicações respiratórias. A dispneia acomete cerca da metade dos pacientes admitida para cuidados agudos em hospitais, e aproximadamente um quarto dos que procuram atendimento ambulatorial.1 Por ser um sinal/sintoma muitas vezes inespecífico, é comum estar presente na grande maioria das doenças cardiorrespiratórias, inclusive aquelas que acometem a faixa pediátrica, como, por exemplo, asma,5 fibrose cística,6 bronquiectasias7 e doenças cardíacas.8

Na pediatria, os pacientes podem referir a dispneia como uma PSE ou como um sintoma limitante. Sua presença pode afetar, principalmente, a execução das atividades típicas da infância, como brincar e realizar atividades físicas e recreativas e as demais AVDs. Sendo assim, é preciso não só identificá-la, mas também quantificar a intensidade percebida. Além disso, deve-se caracterizá-la de forma multidimensional no que se refere às suas percepções sensoriais e angústias-afetivas, e ao impacto gerado por ela na QV. Por esses motivos, faz-se necessário avaliá-la detalhadamente para garantir um melhor manejo e cuidado dos indivíduos que manifestam essa sensação.

As avaliações da dispneia e da PSE têm grande importância, pois permitem a compreensão do real impacto desses sinais/sintomas no estado funcional e na saúde da criança, de modo a promover estratégias de intervenção e acompanhamento mais eficientes. Essas avaliações também fazem parte do manejo diário de indivíduos inseridos em programas de reabilitação, uma vez que são utilizadas para ajustar a intensidade do treinamento realizado, além de serem indicadores válidos e confiáveis na monitoração da tolerância do indivíduo ao exercício. Desse modo, as avaliações também são realizadas:9,10

  • durante os testes de capacidade funcional;
  • na prescrição de condutas e monitoração de exercícios;
  • para o acompanhamento da estabilidade clínica das doenças.

Os instrumentos de avaliação que exploram dimensões específicas da dispneia mostram-se válidos e úteis na avaliação desse sintoma em diversos cenários e níveis de atenção. Porém, para avaliá-la apropriadamente, é essencial conhecer sua definição, os mecanismos fisiopatológicos associados a ela, suas implicações terapêuticas e — em pediatria — as particularidades que podem influenciar a avaliação da criança.

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