Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar os principais mecanismos relacionados à dispneia em algumas doenças cardiorrespiratórias;
- reconhecer os métodos e os instrumentos disponíveis para avaliação da dispneia em pacientes com doenças cardiorrespiratórias;
- realizar a avaliação da dispneia e interpretar seus achados em pacientes com doenças cardiorrespiratórias.
Esquema conceitual
Introdução
A dispneia é um sintoma comum, complexo e debilitante, que afeta muitas dimensões da vida de uma pessoa, não somente limitando a capacidade funcional do paciente, mas causando estresse e desconforto.1 Ela acomete cerca da metade dos pacientes admitidos para cuidados agudos em hospitais e cerca de um quarto dos pacientes que procuram atendimento ambulatorial. Por ser um sinal/sintoma muitas vezes inespecífico, é achado presente na maioria das doenças cardiorrespiratórias, entre elas, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), as doenças pulmonares intersticiais (DPIs), a asma e a insuficiência cardíaca (IC).2
Recentemente, a dispneia tem se demonstrado um achado clínico comum e associado tanto à gravidade da doença quanto ao risco de admissão em unidade de terapia intensiva (UTI) em pacientes com COVID-19.2
Uma vez que pacientes com doenças cardiorrespiratórias comumente referem a dispneia como principal sintoma limitante para a execução de atividades de vida diária (AVDs), atividades físicas, recreativas e/ou de lazer e atividades laborais, é essencial avaliá-la minuciosamente.
É preciso não só identificar a presença/ausência da dispneia e quantificar a sua intensidade percebida, mas também caracterizá-la de forma multidimensional no que se refere às suas experiências sensoriais e angústia-afetivas e ao impacto gerado por ela em outros domínios de saúde. Essa conduta facilitará a compreensão do real impacto que ela exerce no estado funcional e de saúde do paciente, de modo a promover estratégias de intervenção mais assertivas e eficazes.
A avaliação da dispneia também deve estar presente na avaliação diária do paciente inserido em programas de reabilitação pulmonar (RP) e de reabilitação cardíaca e metabólica para monitoramento da estabilidade da doença. Outro uso importante da avaliação da dispneia é na titulação da intensidade do treinamento em programas de reabilitação de pacientes cujo fator limitante primário seja de origem respiratória, como, por exemplo, pacientes com DPOC, DPI, asma e COVID-19.
Instrumentos de avaliação que exploram dimensões específicas da dispneia mostram-se válidos e úteis na avaliação desse sintoma em diversos cenários e níveis de atenção. No entanto, para avaliá-la apropriadamente, é fundamental conhecer sua definição, os mecanismos fisiopatológicos associados a ela e suas implicações terapêuticas, para, daí sim, conhecer os instrumentos e suas características.
Dentre os instrumentos destinados à avaliação da dispneia, podem ser citadas as escalas, os questionários e os testes de campo. Antes de seu estudo, será feita uma revisão conceitual e dos principais mecanismos relacionados à dispneia em pacientes com doenças cardiorrespiratórias.