Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever a ampla interface entre câncer e metabolismo ósseo;
- discutir os efeitos do câncer sobre o osso e seu metabolismo;
- resumir a fisiopatologia das metástases ósseas;
- elencar os possíveis alvos de tratamento para as metástases ósseas;
- reconhecer os efeitos do tratamento oncológico sobre o tecido ósseo.
Esquema conceitual
Introdução
O câncer é a segunda doença com maior mortalidade no mundo, responsável por uma em cada quatro mortes,1 além de ser uma causa importante de morbidade. Somente no Reino Unido, foi estimado que cerca de 2 milhões de pacientes viviam com câncer em 2010.2
A projeção é de que, no Brasil, no triênio de 2020 a 2022, haja incidência de 625 mil novos casos de câncer por ano, sendo aproximadamente:3
- 66 mil de próstata;
- 66 mil de mama;
- 41 mil de colo e reto;
- 30 mil de pulmão;
- 21 mil de estômago.
Todo o referido grupo de pacientes oncológicos está vulnerável a complicações da doença e de seu tratamento, incluindo as relacionadas ao osso e ao seu metabolismo. Entre as complicações mais importantes que podem causar fraturas, dor, sintomas em diversos sistemas e prejuízo na qualidade de vida (QV) estão:
- metástases ósseas;
- osteomalácia oncogênica;
- hipercalcemia da malignidade;
- perda óssea relacionada ao tratamento oncológico.
O osso é o terceiro sítio mais comum de metástases tumorais; vários tumores se disseminam para o osso, sendo os mais comuns os de pulmão, mama, próstata, colorretal, tiroide, ginecológicos e melanoma. Entre os tumores de mama e próstata metastáticos, 70% estão presentes no osso.4
A hipercalcemia da malignidade ocorre em até 30% dos pacientes com câncer e causa morbidade por estar associada a sintomas neurocognitivos, depleção volêmica e insuficiência renal, que são fatores de mau prognóstico, apresentando mortalidade de até 50% no primeiro mês.5
A osteomalácia oncogênica é menos frequente, porém pode causar alta morbidade, com sintomas constitucionais e fragilidade óssea.6 Outro aspecto importante é a perda óssea induzida pelo tratamento oncológico — frequente em pacientes com câncer de mama e de próstata, que estão entre os tipos mais prevalentes de câncer na população global.7
Tendo em vista a prevalência alta e crescente de pacientes vivendo com câncer e seu potencial de desenvolver complicações relacionadas ao osso e seu metabolismo, optamos por revisar as interfaces entre eles e o seu manejo.