- Introdução
O câncer gástrico é o quarto tipo mais comum de câncer e a terceira causa mais frequente de morte decorrente de câncer no mundo.1 No Brasil, segundo os dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), o câncer gástrico é a quinta causa mais frequente da doença quando considerados homens e mulheres conjuntamente.2 Estima-se que 1 a 3% desses casos resultem de uma síndrome de predisposição hereditária.3
O adenocarcinoma é o tipo histológico mais frequente de câncer gástrico, respondendo por aproximadamente 95% dos casos.
O adenocarcinoma gástrico pode ser subdivido em duas categorias conforme a classificação proposta por Lauren:4 intestinal ou difuso. O tipo intestinal é o mais frequente e caracteriza-se por uma estrutura celular coesa e por uma organização em estruturas semelhantes a glândulas. O tipo difuso, por sua vez, apresenta células sem adesão intercelular, com aspecto em “anel de sinete”, e evolui com um crescimento infiltrativo difuso na parede do estômago.
Na década de 1960, foram identificadas, na Nova Zelândia, três famílias maoris com vários casos de adenocarcinoma gástrico difuso. O estudo dessas famílias por Parry Guilford permitiu, em 1998, a identificação da mutação do gene CDH1, responsável pela expressão da proteína e-caderina, como a causa de tais casos de câncer gástrico.5 Essas descobertas levaram à definição clínica do câncer gástrico difuso hereditário (CGDHcâncer gástrico difuso hereditário), caracterizado pela presença de adenocarcinoma gástrico do tipo difuso e carcinoma lobular de mama em pacientes jovens e com acometimento de diversos membros da mesma família.
Constatou-se, ainda, que mulheres com mutação do gene CDH1 apresentam risco aumentado de desenvolvimento de câncer lobular de mama (CLMcâncer lobular de mama).
Pacientes que preencham tais critérios devem ser submetidos à testagem genética para confirmação da mutação. O manejo dos pacientes com mutação do gene CDH1 envolve a realização de gastrectomia total profilática na idade adulta, já que a vigilância por meio de endoscopia digestiva não é eficaz. Nas mulheres, também está indicado rastreio do CLMcâncer lobular de mama por ressonância magnética (RMressonância magnética).
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- conceituar câncer gástrico familiar;
- descrever a genética envolvida no CGDHcâncer gástrico difuso hereditário;
- identificar, por meio de avaliação clínica, casos suspeitos de CGDHcâncer gástrico difuso hereditário;
- definir a conduta clínica e cirúrgica em casos suspeitos ou comprovados de CGDHcâncer gástrico difuso hereditário.
- Esquema conceitual