- Introdução
Até 20 anos atrás, acreditava-se que a maioria dos tumores mesenquimais gastrintestinais era proveniente da musculatura lisa, como o leiomioma e o leiomiossarcoma.1 Porém, a utilização da microscopia eletrônica e da imuno-histoquímica evidenciou que apenas alguns desses tumores apresentavam características de diferenciação de músculo liso, o que contribuiu para a adoção do termo mais genérico “tumor estromal”, proposto por Mazur e Clark2 em 1983. Posteriormente, alguns autores demonstraram que esses tumores também apresentavam características de diferenciação neuronal, apontando-os como plexossarcomas e tumores gastrintestinais do nervo autonômico.3,4
Só recentemente foi esclarecido que o tumor mesenquimal gastrintestinal constitui uma entidade bem definida, designada “tumor estromal gastrintestinal” (em inglês, gastrointestinal stromal tumor [GISTtumor estromal gastrintestinal]), por meio das descobertas de sua origem a partir das células intersticiais de Cajal5 e da expressão da proteína KIT.6
As células intersticiais de Cajal7,8 são responsáveis pelo controle da motilidade intestinal (marca-passo), apresentam características imunofenotípicas e ultraestruturais tanto de músculo liso quanto de diferenciação neural e expressam o receptor KIT (CD117) semelhante ao GISTtumor estromal gastrintestinal.
O KIT é um receptor tirosina-quinase (TKtirosina-quinase) transmembrana, responsável por várias funções celulares, dentre as quais9
- proliferação;
- adesão;
- apoptose;
- diferenciação celular.
No GISTtumor estromal gastrintestinal, a mutação no gene KIT é responsável pela ativação constitutiva na proteína KIT, causando estímulo sem oposição para a proliferação celular, com implicação em sua gênese.6
A cirurgia desempenha um papel central no tratamento do GISTtumor estromal gastrintestinal e tem como objetivo a ressecção com margens livres, sem necessidade de linfadenectomia — já que a disseminação linfática não é comum nesses casos.
Os recentes avanços no tratamento dos GISTtumor estromal gastrintestinals foram responsáveis pela mudança na história natural da doença. O desenvolvimento de medicamento dirigido trouxe resultados até então não alcançados para nenhum outro tumor sólido. A introdução de imatinibe na prática clínica como terapia paliativa e adjuvante trouxe resultados encorajadores do ponto de vista de sobrevida global. Para as neoplasias localmente avançadas, tem-se utilizado o mesmo medicamento como terapia neoadjuvante.
O ideal é que o tratamento dos GISTtumor estromal gastrintestinals seja discutido em um contexto multidisciplinar, no qual o bom diálogo entre endoscopista, patologista, radiologista, oncologista clínico e cirurgião oncológico é fundamental.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- considerar a epidemiologia, o diagnóstico e a forma de tratamento para GISTtumor estromal gastrintestinal não metastático e metastático;
- analisar os últimos avanços concernentes ao tratamento de GISTtumor estromal gastrintestinals responsáveis pela mudança na história natural da doença;
- descrever as propriedades do tratamento neoadjuvante para GISTtumor estromal gastrintestinal.
- Esquema conceitual