Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- refletir sobre a prática clínica referente à conceitualização cognitiva;
- inferir que a conceitualização é útil para guiar a terapia e, ao mesmo tempo, demanda bom conhecimento do modelo teórico utilizado e dos resultados de pesquisas empíricas;
- apreender vieses e habilidades inerentes à relação que o terapeuta estabelece com o cliente;
- considerar a mudança de foco da conceitualização que parte de uma hipótese diagnóstica e passa a incluir fatores positivos, forças do cliente e protocolos unificados.
Esquema conceitual
Introdução
Duas das metas do processo terapêutico na abordagem da terapia cognitivo-comportamental (TCC) são (a) buscar entender o que faz o cliente sofrer e procurar ajuda profissional e (b) agir de modo a atenuar sua dor. A definição de “conceitualizar”, em linhas gerais, é compreender o caso, procedimento que o terapeuta vai utilizar o tempo todo em sua prática clínica, embora nem sempre ele perceba isso tão explicitamente.
A expressão “conceitualização cognitiva” é abrangente e inclui, na perspectiva cognitivo-comportamental, componentes emocionais e comportamentais claramente contextualizados. Abordagens teóricas são as ferramentas utilizadas pelos terapeutas para esboçar a primeira compreensão do caso, e, para fazer uma boa conceitualização em TCC, é preciso ter em mente o modelo cognitivo do funcionamento mental.
De acordo com a hipótese explicativa da abordagem cognitivo-comportamental, que se baseia em uma visão evolucionista, a arquitetura mental humana, em seus aspectos gerais de funcionamento, deriva da herança filogenética.
A abordagem cognitivo-comportamental postula que alguns traços que, possivelmente, permitiram a sobrevivência e a reprodução dos ancestrais caçadores e coletores foram selecionados e passaram a fazer parte da arquitetura da espécie humana atual. Isso gera consequências identificáveis em padrões e tendências comportamentais, no modo como as pessoas sentem as emoções, como pensam e processam as informações do mundo, destacando que esses processos ganham forma na interação com os contextos.
Quando se enfatiza a dimensão filogenética sobre como os indivíduos lidam com eventos que os cercam, o foco da explicação recai sobre aquilo que os torna semelhantes enquanto espécie. Existe um repertório comum de comportamentos frente a situações de perigo ou em situações de prazer. Eles se apoiam em interpretações dos contextos e ativam certas emoções; há padrões identificáveis sobre como as pessoas raciocinam acerca de eventos físicos e sociais.
A espécie humana atribui significados às coisas a partir do que pensa sobre o passado, o presente e o futuro, entre outros aspectos. Por mais diferentes que sejam os contextos históricos e culturais, é possível observar semelhanças nas variadas formas de interação que os indivíduos estabelecem entre si.