Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever o quadro clínico da DRCdoença renal crônica, sua epidemiologia e terapêutica;
- caracterizar os idosos com DRCdoença renal crônica que realizam tratamento hemodialítico;
- identificar fatores associados à segurança do idoso no tratamento hemodialítico;
- descrever as diretrizes clínicas para o cuidado de enfermagem ao idoso com DRCdoença renal crônica em tratamento hemodialítico.
Esquema conceitual
Introdução
Há aumento no quantitativo de idosos com doença renal crônica (DRCdoença renal crônica) em tratamento hemodialítico, fato que emerge devido às comorbidades (principalmente hipertensão e diabetes), aos hábitos de vida e aos fatores de risco (tabagismo e alcoolismo, idade), assim como alterações senescentes que incitam vulnerabilidade à doença.
O tratamento hemodialítico apresenta potencial para ocorrência de eventos adversos. Desse modo, o cuidado de enfermagem possibilita a tomada de decisão com redução dos riscos para o idoso, garantindo maior qualidade de vida, bem-estar e saúde.
O cuidado alicerçado em bundle, checklist e/ou protocolos com detecção precoce dos riscos no tratamento hemodialítico e da predisposição de morbidades e distúrbios metabólicos secundários no contexto da DRCdoença renal crônica promove segurança e qualificação do cuidar.
Doença renal crônica
A senescência (fenômeno natural do processo de envelhecimento) implica alterações na condição de saúde do idoso, com declínio da função fisiológica, aumentando sua vulnerabilidade a múltiplas patologias.1
Nesse contexto, o aumento de doença crônica não transmissível (DCNTdoença crônica não transmissível) torna-se preponderante, principalmente nos idosos, devido às perdas fisiológicas, aliadas aos hábitos de vida e aos fatores genéticos.2
Destaca-se como alteração fisiológica do envelhecimento o declínio na taxa de filtração glomerular (TFGtaxa de filtração glomerular), além das patologias comuns na população idosa, a hipertensão arterial sistêmica (HAShipertensão arterial sistêmica) e o diabetes melito (DMdiabetes melito),3 sendo estes os principais fatores de risco para o desenvolvimento da DRCdoença renal crônica,4–6 considerada mundialmente como um problema de saúde pública.7
A DRCdoença renal crônica é anormalidade, com comprometimento da função renal por mais de três meses, sendo os principais marcadores para classificação da doença as alterações na taxa de filtração glomerular e na albumina.4
O tratamento é projetado conforme o grau do comprometimento da função renal. Entre as formas de tratamento, a mais utilizada para terapia renal substitutiva (TRSterapia renal substitutiva) é a hemodiálise (HDhemodiálise), com o objetivo de eliminar as toxinas sanguíneas.4
Cerca de 110 mil pacientes realizam diálise no Brasil, sendo que, desse total, mais de 90% recebem tratamento de HDhemodiálise.8 A HDhemodiálise representa chance de sobrevida do paciente com doença renal crônica terminal (DRCTdoença renal crônica terminal), no entanto são impostas novas condições e/ou mudanças:9
- restrições alimentares e hídricas;
- diminuição do convívio social e de lazer;
- dificuldades para realização das atividades comuns do cotidiano;
- alterações no estilo de vida dos pacientes e de seus familiares no que concerne aos aspectos afetivos, econômicos e sociais.
As mudanças decorrentes da doença podem gerar estressores físicos e psíquicos, influenciando na qualidade de vida.10 Além disso, distúrbios metabólicos secundários à DRCdoença renal crônica, associados à diálise, podem apresentar repercussão no sistema musculoesquelético, evidenciada por alterações do paratormônio (PTH), do cálcio, do fósforo e do calcitriol.11
Principalmente nos idosos, as modificações fisiológicas, aliadas a alterações do envelhecimento, influenciam na fisiopatologia das doenças ósseas,11 aumentando inclusive o risco para quedas, assim como o risco de alta morbidade e mortalidade.12
A DRCdoença renal crônica incita redução da qualidade e da expectativa de vida devido à potencialização das morbidades cardiovasculares, representando a terceira causa de mortalidade global.2,4,13
A terapia hemodialítica, embora eficiente, não substitui completamente a função renal, desencadeando risco de desequilíbrio eletrolítico, não garantindo eliminação do excesso de eletrólitos de modo contínuo como na função fisiológica. Os pacientes idosos podem apresentar alterações importantes na dosagem dos eletrólitos circulantes, pois a regulação desses eletrólitos ocorre principalmente por meio da filtração renal e posterior eliminação urinária.14
Desse modo, o tratamento hemodialítico envolve conflitos e dificuldades de enfrentamento, pois, além das alterações fisiológicas, os idosos necessitam conviver com mudanças em sua rotina e adesão ao esquema terapêutico, incluindo restrição hídrica e alimentar, dependência da máquina, luta diária com a sintomatologia causada pelo tratamento e pela doença, além da polimedicação.6,10
A HDhemodiálise é um procedimento tecnicamente complexo, com muitas fontes potenciais de erros, que podem causar danos.13,15
O cuidado de enfermagem ao idoso em tratamento hemodialítico pode reduzir e prevenir eventos adversos e danos.13,15 Os enfermeiros podem realizar a detecção precoce dos riscos aos idosos, contribuindo para a compreensão das relações existentes no tratamento, fortalecendo a avaliação de vulnerabilidades envolvidas no tratamento e desenvolvendo práticas incorporadas na detecção de idosos com maior predisposição de morbidades e distúrbios metabólicos secundários no contexto da DRCdoença renal crônica.13,16,17
Epidemiologia
As DCNTdoença crônica não transmissívels acometem principalmente a população idosa, sendo consideradas um problema de saúde com maior magnitude e letalidade (mais de 70% das causas de morte no Brasil), causando impactos múltiplos em relação à limitação da qualidade de vida, da produtividade e da funcionalidade da pessoa idosa.6,18
A DRCdoença renal crônica acomete milhões de pessoas de todos os grupos raciais e étnicos, apresentando elevada incidência, bem como altas taxas de morbidade e mortalidade, o que é evidenciado principalmente na população idosa.4,5,12
O número global de pessoas com DRCdoença renal crônica ultrapassa 750 milhões,2,4,5 e essa doença é responsável por altos custos para o sistema de saúde,16,19,20 advindos principalmente do tratamento inadequado da HAShipertensão arterial sistêmica e do DMdiabetes melito.
Estima-se que existam 2,2 milhões de pessoas no mundo sendo submetidas a TRSterapia renal substitutivas,8,16,19 e esse número aumenta continuamente, com projeção para 2030 de 5,4 milhões de pessoas em diálise.
Anualmente, cerca de 21 mil brasileiros iniciam tratamento dialítico (diálise peritoneal ou HDhemodiálise). Desse total, cerca de 17,9% evoluem a óbito e somente 2.700 são submetidos a um transplante renal.19,20,21
No mundo, convivem com alguma forma de tratamento dialítico aproximadamente 1.200.000 pessoas, sendo a HDhemodiálise a forma de tratamento mais comum para os pacientes que estão no último estágio da DRCdoença renal crônica.21
No Brasil, o número de pacientes em diálise aumentou em 159,4% no período de 2002 a 2017. Somente em 2017 foram estimados 126.583 indivíduos em tratamento dialítico, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia.8 Em relação à faixa etária, 34,3% possuíam idade igual ou superior a 65 anos. Quanto às formas de TRSterapia renal substitutiva, 91,8% dos pacientes realizavam HDhemodiálise; em contrapartida, 8,2% dos pacientes realizavam diálise peritoneal.16
Quadro clínico
O sistema renal tem como principal função regular líquidos e eletrólitos, para manter a homeostasia, além de remover os produtos finais da degradação. Desse modo, a função renal é indispensável para a vida. A disfunção dos rins pode ocorrer por diferentes causas e em níveis variados de gravidade, afetando diretamente a condição de saúde do idoso, levando à DRCdoença renal crônica.4
A DRCdoença renal crônica é uma anormalidade da estrutura ou da função renal que perdura por mais de três meses e pode ser reconhecida por alguns critérios clínicos, como TFGtaxa de filtração glomerular diminuída (<60mL/min/1,73m2), taxa de excreção de albumina maior que 30mg/24h, razão entre creatinina e albumina maior que 30mg/g; também pode ser detectada por anormalidades decorrentes de distúrbios tubulares ou de sedimentos urinários.4,5
A TFGtaxa de filtração glomerular é um marcador da filtração excretora renal, e a albuminúria indica disfunção da barreira renal conhecida como lesão renal. Apesar desses marcadores se apresentarem essenciais para a classificação da DRCdoença renal crônica, é de grande importância a identificação dos fatores de risco ou causadores subjacentes da doença.4,8
As principais comorbidades preditoras para a DRCdoença renal crônica são diabetes e hipertensão, mas também se incluem como fatores de risco idade, tabagismo e alcoolismo.8 Existe alta prevalência da HAShipertensão arterial sistêmica e do DMdiabetes melito na população idosa, assim como alterações senescentes renais que envolvem diminuição da TFGtaxa de filtração glomerular e podem potencializar a vulnerabilidade à DRCdoença renal crônica.2,4,5
O descobrimento da DRCdoença renal crônica em estágio inicial é desafiador, visto que essa patologia pode ser assintomática inicialmente, e os sinais e sintomas evidentes em geral emergem quando há grau moderado a severo da doença.
A Figura 1 apresenta os cinco estágios da DRCdoença renal crônica.
FIGURA 1: Estágios da DRCdoença renal crônica, conforme TFGtaxa de filtração glomerular. // Fonte: Adaptada de Brasil (2014).19
Tratamento
O Quadro 1 apresenta os tratamentos referentes a cada estágio da DRCdoença renal crônica.
Quadro 1
TRATAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA DE ACORDO COM O ESTÁGIO DA DOENÇA |
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Estágio |
Tratamento |
Descrição |
1 a 3 |
Conservador |
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4 e 5ND |
Pré-dialítico |
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5D |
TRSterapia renal substitutiva |
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TFGtaxa de filtração glomerular: taxa de filtração glomerular; ND: não dialítico; TRSterapia renal substitutiva: terapia renal substitutiva; D: dialítico. // Fonte: Adaptado de Rocha e colaboradores (2017);14 Brasil (2014).19
As classificações representadas pelas diretrizes clínicas para o cuidado ao paciente com DRCdoença renal crônica, no Brasil, condizem com a classificação das diretrizes internacionais, representadas no Quadro 2, que também sugerem avaliação baseada nos níveis de albumina.
Quadro 2
CLASSIFICAÇÃO DE ALTERAÇÃO RENAL SEGUNDO TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR, TAXA DE EXCREÇÃO DE ALBUMINA E RELAÇÃO ALBUMINA/CREATININA |
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Categorias de alteração renal segundo a TFGtaxa de filtração glomerular |
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Categoria de filtração glomerular |
TFGtaxa de filtração glomerular (mL/min/1,73m2) |
Classificação |
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G1 |
≥90 |
Normal ou alta |
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G2 |
60–89 |
Ligeiramente diminuída |
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G3a |
45–59 |
Diminuição moderada |
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G3b |
30–44 |
Diminuição moderada a grave |
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G4 |
15–29 |
Diminuição severa |
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G5 |
<15 |
Falência renal |
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Categorias de alteração renal segundo a taxa de excreção de albumina e a relação albumina/creatinina |
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Categoria de filtração glomerular |
Taxa de excreção de albumina (mg/24h) |
Relação albumina/creatinina |
Classificação |
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(mg/nmol) |
(mg/g) |
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A1 |
<30 |
<3 |
<30 |
Normal a moderadamente aumentada |
A2 |
30–300 |
3–30 |
30–300 |
Moderadamente aumentada |
A3 |
>300 |
>30 |
>300 |
Severamente aumentada |
// Fonte: Adaptado de Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD-MBD Update Work Group (2017).22
A detecção precoce da doença renal nos idosos e as condutas terapêuticas apropriadas para o retardo de sua progressão podem reduzir o sofrimento e os custos financeiros associados ao tratamento da DRCdoença renal crônica.15,21
Não há medicamento capaz de impedir a progressão da doença para DRCdoença renal crônica estágio final.15,21 Desse modo, o diagnóstico precoce, quando os rins ainda preservam parcialmente suas funções, e a realização do tratamento conservador podem contribuir para melhor condição clínica, psicológica e social do idoso.14,15,21,23
Fatores como a falta de conhecimento sobre a classificação dos estágios da doença, bem como a não utilização de testes para o diagnóstico precoce, como exame de urina (avaliação de creatina e albumina) e avaliação funcional, fazem com que a DRCdoença renal crônica seja subdiagnosticada e tratada de forma inadequada, principalmente nos idosos.23
As estratégias de identificação precoce podem ser realizadas pelos enfermeiros, principalmente na atenção primária à saúde, com destaque para o grupo de maior vulnerabilidade (idosos hipertensos e/ou idosos diabéticos).
O tratamento da DRCdoença renal crônica do idoso estará alinhado ao estágio da doença (cinco estágios). Desse modo, conforme a insuficiência renal progride, a necessidade de tratamento também se modifica.
Tratamento conservador
O tratamento conservador é realizado com o uso de medicamentos, dietas e restrição hídrica, e tem como objetivo auxiliar na redução do ritmo de progressão da doença renal, mantendo a função renal o máximo possível. Essa modalidade de tratamento prevê cuidados de enfermagem que incluem:8,19
- controle da glicemia e da pressão arterial;
- controle de marcadores laboratórios, principalmente em relação à imunidade;
- estímulo à suspensão de cigarro e álcool;
- controle da adesão medicamentosa.
Tratamento pré-dialítico
No tratamento pré-dialítico, há intenção de prosseguimento do tratamento conservador, para preparar o idoso para a TRSterapia renal substitutiva em estágios mais avançados da doença. Nessa situação, o idoso migra para o tratamento substitutivo com maior preparo e tempo de adaptação.14,19
Terapia renal substitutiva
No tratamento com uso de diálise peritoneal (ambulatorial contínua, automatizada e intermitente), HDhemodiálise e transplante renal, há necessidade de cuidados de enfermagem para aliviar os sintomas da doença e preservar a vida do indivíduo, considerando que se trata de uma condição crônica e sem perspectiva de cura.14,19
Nos estágios finais da DRCdoença renal crônica, a utilização da TRSterapia renal substitutiva não substitui integralmente a função renal; porém possibilita manter a vida. Além disso, as principais complicações da DRCdoença renal crônica (anemia, acidose metabólica e hiperparatireoidismo secundário) estão interligadas ao aumento de risco de doenças cardiovasculares.4,5,23
Diálise peritoneal
A diálise peritoneal envolve a instalação cirúrgica do cateter no peritônio do idoso. Esse cateter é utilizado para injetar o líquido de diálise que necessita permanecer na cavidade peritoneal para ser drenado.19
O peritônio (membrana semipermeável que envolve o abdome) participa da remoção de líquidos por meio da osmose. Ao retirar a solução introduzida, esta traz consigo as toxinas, o excesso de água e os sais minerais não metabolizados pelos rins.19,24
A diálise é um processo no qual a composição do soluto de uma solução A é alterada pela exposição do soluto a uma segunda solução B através de uma membrana permeável. Por essa membrana, solutos de baixo peso molecular conseguem passar e se misturam; já solutos maiores, como as proteínas, não conseguem passar pelos poros da membrana.8,14
O mecanismo da diálise é dividido em difusão e ultrafiltração (convecção), na qual os solutos de baixo peso molecular são transportados.8,14
Nessa modalidade de tratamento, os cuidados de enfermagem ao idoso envolvem:
- orientação sobre higiene e conforto;
- monitoramento de alterações cutâneas, sinais e sintomas indicativos de infecção (febre, calor, rubor);
- acompanhamento da adesão ao tratamento;
- armazenamento dos materiais do tratamento.
Hemodiálise
A HDhemodiálise é utilizada para idosos que estão agudamente doentes e que necessitam de diálise em curto prazo (dias a semanas), bem como para aqueles com DRCdoença renal crônica avançada e DRCTdoença renal crônica terminal que precisam de terapia de substituição renal em longo prazo ou permanente (a maioria dos pacientes recebe HDhemodiálise intermitente, que consiste em tratamentos 3 vezes/semana, com duração média de 3 a 4h em ambiente ambulatorial).13,19
A HDhemodiálise evita a morte do idoso, porém não cura a doença renal, nem compensa a perda das atividades endócrinas ou metabólicas dos rins. Mais de 90% compensam as perdas com terapia de substituição renal em longo prazo, submetendo-se à HDhemodiálise.4,5
Na HDhemodiálise, há o circuito de solução de diálise e o circuito de sangue que se encontram conectados a um dialisador. O circuito de sangue tem início através de acesso vascular ligado a “linha de sangue arterial”, onde o sangue é bombeado para o dialisador. No dialisador, o sangue passa por uma solução de diálise através de membrana semipermeável que retira as toxinas em excesso e retorna através de “linha de sangue venoso” para o paciente.14,19
Nessas linhas de entrada e saída de sangue são conectadas várias câmaras, portas laterais e monitores que identificam a entrada de ar no sistema e são usados para infundir soluções salinas ou heparina, além de monitorar a pressão arterial.14,19
Para que seja realizada a HDhemodiálise, o idoso tem que possuir obrigatoriamente uma via de acesso vascular, que pode ser acesso de curta permanência (cateter duplo lúmen), de longa permanência (Permcath®) ou permanente (fístula).25
A fístula arteriovenosa (FAV) é a via de acesso vascular definitiva ou permanente de maior durabilidade e segurança, pois permite fluxo sanguíneo elevado e constante, sendo a via de acesso mais comum em pacientes com DRCdoença renal crônica.25 Considera-se que a FAV é o melhor acesso, pois apresenta menor taxa de infecção e maior durabilidade, além de favorecer a qualidade de diálise.2,8
O tratamento hemodialítico é o mais utilizado entre as terapias de substituição renal, porém, além dele, são necessárias intervenções terapêuticas que auxiliam no tratamento, como:6,8,14
- controle da pressão arterial, da glicemia e da dislipidemia;
- reeducação alimentar;
- redução de peso;
- abstinência do fumo e do álcool (em casos específicos).
No caso do idoso com DRCdoença renal crônica, busca-se diminuir ao máximo o avanço da doença, tendo em vista as implicações que influenciam em sua qualidade de vida e de sua família.6,8,14
A diálise é fundamental para a manutenção da vida do idoso com DRCdoença renal crônica em estágio terminal, pois promove a remoção das toxinas urêmicas e de outros resíduos do corpo com o objetivo de purificar o sangue, além de manter o equilíbrio hidroeletrolítico acidobásico e o controle da pressão arterial.12–14
Quando possível, é relevante que, no início do tratamento de substituição renal, seja realizado o planejamento pré-dialise para o idoso, incluindo educação do idoso e da família para as próximas etapas do tratamento, possibilitando preparo e organização, social, psicológica e física, contribuindo para um melhor resultado do tratamento.12–14
O tratamento hemodialítico influencia diretamente em mudanças na vida, pois modifica hábitos alimentares, medicamentosos, sociais, ocupacionais, assim como envolve modificações na imagem corporal.14
O Quadro 3 evidencia os itens relevantes para a preparação do idoso antes de iniciar a HDhemodiálise.
Quadro 3
PREPARAÇÃO DO IDOSO ANTES DE INICIAR A HEMODIÁLISE |
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DRCdoença renal crônica: doença renal crônica. // Fonte: Adaptado de Teixeira e colaboradores (2015);12 Rocha e colaboradores (2017).14
Os idosos com DRCdoença renal crônica em estágio terminal, com o uso de tratamento hemodialítico, convivem constantemente com a negação e as consequências da evolução da doença, além de limitações e alterações que repercutem em sua própria qualidade de vida, comprometendo assim aspectos físicos, psicológicos, sociais e até mesmo familiares.16,17 Desse modo, necessitam de cuidado de enfermagem para evitar as complicações apresentadas por função renal reduzida, estresse e ansiedades de enfrentamento de uma doença potencialmente fatal.21
Os idosos com DRCdoença renal crônica são mais vulneráveis a múltiplas morbidades devido às demandas fisiológicas e aos fatores de risco, inclusive com maior probabilidade de desenvolver síndrome da fragilidade. A falta do suporte de saúde pode levar a uma alta taxa de mortalidade após o início da diálise.12,13
ATIVIDADES
1. Em relação à DRCdoença renal crônica nos idosos, analise as alternativas a seguir e marque V (verdadeiro) ou F (falso).
No Brasil, há aumento contínuo no número de idosos em diálise crônica.
A DRCdoença renal crônica é uma epidemia mundial, advinda principalmente da senescência.
As condutas terapêuticas apropriadas para o retardo da progressão da doença podem reduzir o sofrimento dos pacientes e os custos financeiros associados à DRCdoença renal crônica.
Até o momento, não há medicamento capaz de impedir a progressão da doença para DRCdoença renal crônica em estágio final.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a V — V — F — F
b V — F — V — V
c F — V — F — V
d F — F — V — F
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
A DRCdoença renal crônica é uma epidemia mundial, advinda principalmente do tratamento inadequado da HAShipertensão arterial sistêmica e do DMdiabetes melito.
Resposta correta.
A DRCdoença renal crônica é uma epidemia mundial, advinda principalmente do tratamento inadequado da HAShipertensão arterial sistêmica e do DMdiabetes melito.
A alternativa correta é a "B".
A DRCdoença renal crônica é uma epidemia mundial, advinda principalmente do tratamento inadequado da HAShipertensão arterial sistêmica e do DMdiabetes melito.
2. A DRCdoença renal crônica é definida como a anormalidade da estrutura ou da função renal por mais de
a 3 meses.
b 6 meses.
c 9 meses.
d 18 meses.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".
Define-se a DRCdoença renal crônica como uma anormalidade por mais de três meses da estrutura ou função renal, que pode ser reconhecida por alguns critérios clínicos, como TFGtaxa de filtração glomerular diminuída (<60mL/min/1,73m2), taxa de excreção de albumina maior que 30mg/24h e razão entre creatinina e albumina maior que 30mg/g. Também podem ser detectadas anormalidades decorrentes de distúrbios tubulares ou de sedimentos urinários.
Resposta correta.
Define-se a DRCdoença renal crônica como uma anormalidade por mais de três meses da estrutura ou função renal, que pode ser reconhecida por alguns critérios clínicos, como TFGtaxa de filtração glomerular diminuída (<60mL/min/1,73m2), taxa de excreção de albumina maior que 30mg/24h e razão entre creatinina e albumina maior que 30mg/g. Também podem ser detectadas anormalidades decorrentes de distúrbios tubulares ou de sedimentos urinários.
A alternativa correta é a "A".
Define-se a DRCdoença renal crônica como uma anormalidade por mais de três meses da estrutura ou função renal, que pode ser reconhecida por alguns critérios clínicos, como TFGtaxa de filtração glomerular diminuída (<60mL/min/1,73m2), taxa de excreção de albumina maior que 30mg/24h e razão entre creatinina e albumina maior que 30mg/g. Também podem ser detectadas anormalidades decorrentes de distúrbios tubulares ou de sedimentos urinários.
3. Quais são os estágios da DRCdoença renal crônica e seus respectivos valores?
Confira aqui a resposta
Os estágios da DRCdoença renal crônica e seus respectivos valores são:
- estágio 1: TFGtaxa de filtração glomerular ≥90mL/min/1,73m2;
- estágio 2: TFGtaxa de filtração glomerular ≥60 a 89mL/min/1,73m2;
- estágio 3A: TFGtaxa de filtração glomerular ≥45 a 59mL/min/1,73m2;
- estágio 3B: TFGtaxa de filtração glomerular ≥30 a 44mL/min/1,73m2;
- estágio 4: TFGtaxa de filtração glomerular ≥15 a 29mL/min/1,73m2;
- estágio 5 não dialítico: TFGtaxa de filtração glomerular <15mL/min/1,73m2;
- estágio 5 dialítico: TFGtaxa de filtração glomerular <10mL/min/1,73m2.
Resposta correta.
Os estágios da DRCdoença renal crônica e seus respectivos valores são:
- estágio 1: TFGtaxa de filtração glomerular ≥90mL/min/1,73m2;
- estágio 2: TFGtaxa de filtração glomerular ≥60 a 89mL/min/1,73m2;
- estágio 3A: TFGtaxa de filtração glomerular ≥45 a 59mL/min/1,73m2;
- estágio 3B: TFGtaxa de filtração glomerular ≥30 a 44mL/min/1,73m2;
- estágio 4: TFGtaxa de filtração glomerular ≥15 a 29mL/min/1,73m2;
- estágio 5 não dialítico: TFGtaxa de filtração glomerular <15mL/min/1,73m2;
- estágio 5 dialítico: TFGtaxa de filtração glomerular <10mL/min/1,73m2.
Os estágios da DRCdoença renal crônica e seus respectivos valores são:
- estágio 1: TFGtaxa de filtração glomerular ≥90mL/min/1,73m2;
- estágio 2: TFGtaxa de filtração glomerular ≥60 a 89mL/min/1,73m2;
- estágio 3A: TFGtaxa de filtração glomerular ≥45 a 59mL/min/1,73m2;
- estágio 3B: TFGtaxa de filtração glomerular ≥30 a 44mL/min/1,73m2;
- estágio 4: TFGtaxa de filtração glomerular ≥15 a 29mL/min/1,73m2;
- estágio 5 não dialítico: TFGtaxa de filtração glomerular <15mL/min/1,73m2;
- estágio 5 dialítico: TFGtaxa de filtração glomerular <10mL/min/1,73m2.
4. No que se refere à HDhemodiálise para o tratamento da DRCdoença renal crônica nos idosos, assinale a alternativa correta.
a É o tratamento conservador mais utilizado pelos idosos com DRCTdoença renal crônica terminal, sendo que, uma vez que a HDhemodiálise promove a eliminação de toxinas do sangue, não são necessárias outras intervenções concomitantes.
b É um tratamento que envolve transplante renal e é utilizado pelos idosos com DRCdoença renal crônica em fase inicial.
c É o tratamento de TRSterapia renal substitutiva mais utilizado pelos idosos com DRCdoença renal crônica em fase inicial, devendo o paciente ser hospitalizado três vezes por mês, sem necessidade de planejamento pré-diálise.
d É o tratamento de TRSterapia renal substitutiva mais utilizado pelos idosos com DRCTdoença renal crônica terminal, porém, além dele, é importante que o idoso realize controle de pressão arterial, glicemia e dislipidemia, assim como reeducação alimentar e abstinência de tabaco e álcool.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
O tratamento hemodialítico é o mais utilizado entre as terapias de substituição renal, porém, além dele, são necessárias intervenções terapêuticas que auxiliam no tratamento, como controle de pressão arterial, glicemia e dislipidemia, reeducação alimentar, redução de peso e, em casos específicos, abstinência do fumo e do álcool. Quando possível, é relevante que, no início do tratamento de substituição renal, seja realizado o planejamento pré‑diálise para o idoso, incluindo educação do idoso e da família para as próximas etapas do tratamento, possibilitando preparo e organização social, psicológica e física, contribuindo para um melhor resultado do tratamento.
Resposta correta.
O tratamento hemodialítico é o mais utilizado entre as terapias de substituição renal, porém, além dele, são necessárias intervenções terapêuticas que auxiliam no tratamento, como controle de pressão arterial, glicemia e dislipidemia, reeducação alimentar, redução de peso e, em casos específicos, abstinência do fumo e do álcool. Quando possível, é relevante que, no início do tratamento de substituição renal, seja realizado o planejamento pré‑diálise para o idoso, incluindo educação do idoso e da família para as próximas etapas do tratamento, possibilitando preparo e organização social, psicológica e física, contribuindo para um melhor resultado do tratamento.
A alternativa correta é a "D".
O tratamento hemodialítico é o mais utilizado entre as terapias de substituição renal, porém, além dele, são necessárias intervenções terapêuticas que auxiliam no tratamento, como controle de pressão arterial, glicemia e dislipidemia, reeducação alimentar, redução de peso e, em casos específicos, abstinência do fumo e do álcool. Quando possível, é relevante que, no início do tratamento de substituição renal, seja realizado o planejamento pré‑diálise para o idoso, incluindo educação do idoso e da família para as próximas etapas do tratamento, possibilitando preparo e organização social, psicológica e física, contribuindo para um melhor resultado do tratamento.
Cuidado de enfermagem ao idoso em tratamento hemodialítico: segurança do paciente
A segurança do paciente é um dos seis atributos da qualidade do cuidado e tem adquirido, em todo o mundo, grande importância para pacientes, famílias, gestores e profissionais de saúde, com a finalidade de oferecer assistência segura.22
A segurança do paciente é definida como a redução, ao mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde.20
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, demonstrando preocupação com a situação, criou a World Alliance for Patient Safety, posteriormente intitulada Patient Safety Program, com o objetivo de organizar os conceitos e as definições sobre segurança do paciente, além de propor medidas para reduzir os riscos e mitigar os eventos adversos. Historicamente, a OMS, a Joint Commission e a Agency for Healthcare Research & Quality (AHRQ) são consideradas referências no assunto, desenvolvendo soluções e melhorias para os serviços de saúde.26
No ano de 2013, a Joint Commission lançou as primeiras metas de segurança do paciente para hospitais. Em 2016, as metas foram:26
- melhorar a precisão da identificação do paciente;
- aprimorar a eficácia da comunicação entre os cuidadores;
- aperfeiçoar a segurança no uso de medicamentos;
- reduzir os danos associados aos sistemas de alarme clínicos;
- minimizar os riscos de infecções associados ao cuidado;
- identificar os riscos de segurança inerentes aos pacientes pelos hospitais.
No Brasil, em 2013, foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSPPrograma Nacional de Segurança do Paciente), por meio da Portaria GM/MS n° 529, de 1º de abril de 2013, com o objetivo de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional.20
Em conjunto com o PNSPPrograma Nacional de Segurança do Paciente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a normativa que regulamenta e coloca pontos básicos para a segurança do paciente, tornando obrigatória a instituição do Núcleo de Segurança do Paciente (NSPNúcleo de Segurança do Paciente) por meio da Diretoria Colegiada RDC n° 36, de 25 de julho de 2013.20
A RDC nº 36/201320 traçou objetivos para prestar maior qualidade nos serviços de saúde por meio de ações de promoção de segurança e busca de melhoria contínua da qualidade. Em seu artigo 8°, é apresentado o Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde, cujas atividades deverão ser desenvolvidas pelo NSPNúcleo de Segurança do Paciente (Quadro 4).
Quadro 4
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELO NÚCLEO DE SEGURANÇA DO PACIENTE BASEADAS NA RDC Nº 36/2013 |
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// Fonte: Adaptado de Martins e Mendes (2016).20
Também a Portaria GM/MS n° 1.377, de 9 de julho de 2013, e a Portaria n° 2.095, de 24 de setembro de 2013, aprovam os protocolos básicos de segurança do paciente por meio da divulgação das seis metas internacionais de segurança:19,20
- identificar corretamente o paciente;
- melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde;
- melhorar a segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos;
- assegurar cirurgia em local de intervenção, procedimentos e pacientes corretos;
- higienizar as mãos para evitar infecções;
- reduzir os riscos de quedas e as úlceras por pressão.
De acordo com a Classificação Internacional para a Segurança do Paciente (CISP), os eventos adversos são incidentes que ocorrem durante a prestação do cuidado à saúde e que resultam em dano ao paciente, podendo ser físicos, sociais ou psicológicos, o que inclui doença, lesão, sofrimento, incapacidade ou morte.27,28
Recomenda-se a avaliação do impacto dos eventos relacionados à segurança do idoso, considerando não somente a mortalidade, mas também a morbidade, devido principalmente às repercussões na qualidade de vida dos idosos que vivenciaram danos.13,21
O cuidado inseguro expressa-se pelo aumento do risco de danos desnecessários ao paciente, que podem ter impacto negativo nos resultados do cuidado de saúde.19
Para apoiar os enfermeiros na tarefa de promover assistência mais segura, foi criada, em 2008, a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSPRede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente), como estratégia direcionada aos profissionais de enfermagem para o desenvolvimento de articulação e de cooperação entre instituições de saúde e educação, assim como o fortalecimento da assistência de enfermagem segura e com qualidade.22
A REBRAENSPRede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente é vinculada à Rede Internacional de Enfermagem e Segurança do Paciente, criada pela Unidade dos Recursos Humanos para a Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde.20
Entre os profissionais da saúde, a equipe de enfermagem é a mais suscetível a cometer eventos adversos, visto que realiza diversas intervenções invasivas e permanece por um tempo prolongado junto ao paciente.20,29
Embora a maioria dos idosos tenha diagnóstico de pelo menos uma doença crônica, nem todos ficam limitados.2,7 Considera-se, portanto, como estratégia viável para a segurança do paciente com DRCdoença renal crônica a prevenção de quedas, dos desequilíbrios eletrolíticos, das infecções e das iatrogenias, evitando possíveis agravos, riscos, danos e prejuízos decorrentes.
Nesse âmbito, algumas condições de saúde no idoso podem incitar eventos adversos, como as síndromes geriátricas, que são condições apresentadas por idosos que não se encaixam em categorias de doenças específicas, mas que são altamente prevalentes, têm etiologia multifatorial e associam-se a múltiplas comorbidades e desfechos negativos, como incapacidade e piora da qualidade de vida.2,6,7,14
Como síndromes geriátricas, destacam-se a incapacidade cognitiva, a instabilidade postural, a imobilidade e a incapacidade comunicativa, denotando a importância do cultivo da cultura da segurança do paciente, em especial os idosos em tratamento hemodialítico.
As unidades de HDhemodiálise devem instituir o NSPNúcleo de Segurança do Paciente, responsável por elaborar e implantar um plano de segurança que aponte situações de risco e proponha estratégias para o seu gerenciamento, buscando a prevenção e a redução dos eventos adversos.19
Existe alta proporção de idosos com DRCdoença renal crônica que experimentam eventos relacionados à segurança. Esse fator coloca em evidência a vulnerabilidade dessa população aos potenciais efeitos adversos dos cuidados.13,17
Partindo do princípio de que o cuidado de enfermagem é executado com segurança, diversos protocolos, bundle, procedimentos operacionais padrão (POP) e normativas podem ser ferramentas que qualificam a assistência e previnem eventos adversos.13,21
Cuidar da saúde dos idosos exige equilíbrio na tomada de decisões complexas, em ambiente terapêutico predominantemente tecnológico, sendo essencial promover conforto e bem-estar.13,21