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DELIRIUM NO DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA

Autores: Júlio César Garcia de Alencar, Lucas de Moraes Soler
epub-BR-PROMEDE-C6V3_Artigo1

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • diagnosticar delirium no departamento de emergência;
  • avaliar os principais diagnósticos etiológicos associados ao delirium;
  • tratar pacientes com delirium de forma simples, correta e baseada em evidências.

Esquema conceitual

Introdução

Delirium é uma emergência neuropsiquiátrica, caracterizada como uma síndrome clínica composta por uma alteração aguda e flutuante da consciência.1 A alteração cognitiva angular do delirium é a desatenção, habitualmente acompanhada por desorientação, desorganização do pensamento e, mais raramente, quadros alucinatórios e delusionais. Comprometimento do nível de consciência também é uma apresentação possível e, embora acredite-se que casos de sonolência e torpor sejam mais comuns, estados de hipervigilância e agitação representam até 80% dos casos diagnosticados.1,2

O delirium é uma condição presente em 7 a 35% dos pacientes idosos atendidos no departamento de emergência, mesmo assim, estima-se que até 60% dos casos não sejam diagnosticados. O diagnóstico de delirium correlaciona-se de modo consistente com o aumento da morbidade e da mortalidade, a necessidade de internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI) e os aumentos dos custos de internação.2,3

Pode-se dividir os fatores de risco para delirium, no diagnóstico de enfermagem (DE), em fatores predisponentes (Quadro 1) e fatores precipitantes (Quadro 2).4 A identificação dos fatores precipitantes é essencial, uma vez que a investigação e o tratamento devem ser direcionados a eles.5

É importante reconhecer os fatores predisponentes para compreender o risco de delirium de cada paciente e realizar diagnóstico diferencial adequado com suas condições de base e limitações funcionais prévias.

QUADRO 1

DELIRIUM

Fatores predisponentes

  • aumento da idade
  • morador de instituição de longa permanência
  • uso de benzodiazepínicos, anticolinérgicos, inibidor de bomba de prótons
  • demência ou comprometimento cognitivo prévio
  • AVC prévio
  • fragilidade

AVC: acidente vascular cerebral.

// Fonte: Elaborado pelos autores.

QUADRO 2

FATORES PRECIPITANTES DE DELIRIUM

Infecções

Pneumonia, infecção do trato urinário, infecção de pele e partes moles, infecção trato gastrintestinal, infecção do sistema nervoso central

Distúrbios metabólicos

Distúrbios hidreletrolíticos, disglicemia, hipoxemia, distúrbios tireoidianos, encefalopatia hepática, uremia, hipercalcemia

Neurológico

Crise convulsiva, traumatismo craniencefálico, encefalopatia hipertensiva

Cardiovascular

Infarto agudo do miocárdio, arritmias, choque, insuficiência cardíaca

Medicações/intoxicações

Suspensão abrupta de medicamentos (benzodiazepínicos e inibidores de receptação seletiva de serotonina), introdução de novos medicamentos (anticolinérgicos, como escopolamina, ou moduladores do apetite com anti-histamínicos), intoxicação crônica por medicamentos de uso regular (lítio, digoxina), intoxicação ou abstinência a álcool e a drogas de abuso

Outros

Permanência no departamento de emergência por mais de 12 horas, contenção física, dispositivos invasivos (sonda vesical de demora, sonda nasoenteral), privação de sono, mudança de ambiente (internação)

// Fonte: Elaborado pelos autores.

A fisiopatologia do delirium é complexa, multifatorial e pouco compreendida. Algumas teorias foram desenvolvidas, entretanto nenhuma delas isoladamente é capaz de esgotar a multiplicidade causal e de manifestações do estado confusional agudo. Resumidamente, acredita-se que o delirium seja resultado de insultos inflamatórios, estresse oxidativo, desregulação neuroendócrina e do ciclo circadiano, levando a falência na integração de sistemas culminando em insuficiência cerebral aguda.6

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