Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- diagnosticar delirium no departamento de emergência;
- avaliar os principais diagnósticos etiológicos associados ao delirium;
- tratar pacientes com delirium de forma simples, correta e baseada em evidências.
Esquema conceitual
Introdução
Delirium é uma emergência neuropsiquiátrica, caracterizada como uma síndrome clínica composta por uma alteração aguda e flutuante da consciência.1 A alteração cognitiva angular do delirium é a desatenção, habitualmente acompanhada por desorientação, desorganização do pensamento e, mais raramente, quadros alucinatórios e delusionais. Comprometimento do nível de consciência também é uma apresentação possível e, embora acredite-se que casos de sonolência e torpor sejam mais comuns, estados de hipervigilância e agitação representam até 80% dos casos diagnosticados.1,2
O delirium é uma condição presente em 7 a 35% dos pacientes idosos atendidos no departamento de emergência, mesmo assim, estima-se que até 60% dos casos não sejam diagnosticados. O diagnóstico de delirium correlaciona-se de modo consistente com o aumento da morbidade e da mortalidade, a necessidade de internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI) e os aumentos dos custos de internação.2,3
Pode-se dividir os fatores de risco para delirium, no diagnóstico de enfermagem (DE), em fatores predisponentes (Quadro 1) e fatores precipitantes (Quadro 2).4 A identificação dos fatores precipitantes é essencial, uma vez que a investigação e o tratamento devem ser direcionados a eles.5
É importante reconhecer os fatores predisponentes para compreender o risco de delirium de cada paciente e realizar diagnóstico diferencial adequado com suas condições de base e limitações funcionais prévias.
QUADRO 1
DELIRIUM |
Fatores predisponentes |
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AVC: acidente vascular cerebral.
// Fonte: Elaborado pelos autores.
QUADRO 2
FATORES PRECIPITANTES DE DELIRIUM |
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Infecções |
Pneumonia, infecção do trato urinário, infecção de pele e partes moles, infecção trato gastrintestinal, infecção do sistema nervoso central |
Distúrbios metabólicos |
Distúrbios hidreletrolíticos, disglicemia, hipoxemia, distúrbios tireoidianos, encefalopatia hepática, uremia, hipercalcemia |
Neurológico |
Crise convulsiva, traumatismo craniencefálico, encefalopatia hipertensiva |
Cardiovascular |
Infarto agudo do miocárdio, arritmias, choque, insuficiência cardíaca |
Medicações/intoxicações |
Suspensão abrupta de medicamentos (benzodiazepínicos e inibidores de receptação seletiva de serotonina), introdução de novos medicamentos (anticolinérgicos, como escopolamina, ou moduladores do apetite com anti-histamínicos), intoxicação crônica por medicamentos de uso regular (lítio, digoxina), intoxicação ou abstinência a álcool e a drogas de abuso |
Outros |
Permanência no departamento de emergência por mais de 12 horas, contenção física, dispositivos invasivos (sonda vesical de demora, sonda nasoenteral), privação de sono, mudança de ambiente (internação) |
// Fonte: Elaborado pelos autores.
A fisiopatologia do delirium é complexa, multifatorial e pouco compreendida. Algumas teorias foram desenvolvidas, entretanto nenhuma delas isoladamente é capaz de esgotar a multiplicidade causal e de manifestações do estado confusional agudo. Resumidamente, acredita-se que o delirium seja resultado de insultos inflamatórios, estresse oxidativo, desregulação neuroendócrina e do ciclo circadiano, levando a falência na integração de sistemas culminando em insuficiência cerebral aguda.6