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DESOSPITALIZAÇÃO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA AO DOMICÍLIO: O PROTAGONISMO DO FISIOTERAPEUTA EM TODO O PROCESSO

Laerte Honorato Borges Júnior

Vinícius Pafume de Oliveira

Ruy Camargo Pires Neto

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • compreender o que é desospitalização e quais são as etapas e o planejamento a serem executados nesse processo;
  • reconhecer o papel do fisioterapeuta em cada fase da jornada do paciente;
  • reconhecer as diferentes tecnologias em ventilação mecânica (VM) domiciliar e os recursos atuais de telemonitoramento disponíveis;
  • identificar os fatores que devem ser considerados para os casos de reabilitação funcional e para os casos de cuidados paliativos;
  • avaliar a necessidade de mudança de atuação e do comportamento profissional frente a essa nova tendência de desospitalização e transição do cuidado.

Esquema conceitual

Introdução

A desospitalização é definida como um processo para a alta hospitalar oportuna e responsável que deve fazer parte da discussão e da rotina da assistência e da gestão hospitalar, conforme previsto na Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP), que estabelece as diretrizes para a organização do componente hospitalar na Rede de Atenção à Saúde (RAS).1

A desospitalização é uma opção que tem se mostrado extremamente vantajosa no universo da saúde, e sua principal vantagem é tratar dos pacientes em um ambiente mais adequado à sua condição clínica e mais cômodo, evitando complicações e infecções hospitalares, além de ter menores custos operacionais. Esse processo surge para que os hospitais possam focar no atendimento de casos agudos, cirúrgicos e de alta complexidade, com o objetivo de que os pacientes permaneçam internados pelo período no qual necessitam de cuidado profissional e da tecnologia que o hospital oferece, junto às facilidades e aos recursos oferecidos pelas suas estruturas, além de melhor acesso e qualidade de cuidado, com mais humanização da assistência.2

A teoria dessa prática vem se consolidando em busca de uma redução do tempo de permanência em internações hospitalares. O ambiente hospitalar passou a ser considerado potencialmente iatrogênico, recomendando-se, portanto, que os pacientes voltem o mais rápido possível para o convívio familiar e social. O desenvolvimento científico e tecnológico permite a transferência de cuidados e procedimentos para fora do hospital.3

Nessa lógica, as internações hospitalares longas decorrem, na maioria das vezes, da dependência de tecnologias de alta complexidade (oxigenoterapia, ventiladores mecânicos, etc.), da perda de funcionalidade e da consequente dependência para autocuidado e/ou falta de suporte da RAS responsável pelo caso. Isso faz com que o paciente permaneça internado mesmo após sua estabilização clínica, aumentando, assim, o tempo de permanência hospitalar e reduzindo a disponibilidade de leitos, que já é menor do que a preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece três leitos para cada 1.000 habitantes.4

Para muitos pacientes, o hospital passa a ser o local de moradia, servindo como garantia de suporte ao cuidado, pois vários serviços de saúde, principalmente os alocados em municípios de pequeno e médio porte, não têm o conhecimento de como podem oferecer esse tratamento em casa, com o suporte da RAS, gerando mais um importante problema para o sistema público de saúde brasileiro.5

É no hospital que a maioria das pessoas nasce, são cuidadas em situações mais graves e morrem.5 As hospitalizações prolongadas vão de encontro à PNHOSP e apresentam um alto custo para o sistema de saúde, as quais poderiam ser evitadas se fossem substituídas por internações domiciliares.

Nesse contexto, a alta hospitalar deve ser pensada desde o início da internação para todos os casos agudos, crônicos e crônicos agudizados, em todas as faixas etárias (neonatal, pediátrica, adulta e principalmente entre os idosos), incluindo os que são admitidos em unidades de terapia intensiva (UTIs). Contudo, coloca-se um desafio para muitos profissionais, que é o de comparar espaços de cuidados diferentes, pois o hospital e o domicílio são ambientes contrapostos por aspectos históricos e culturais.6

De um lado, há o hospital — um ambiente público que representa o modelo centrado em tecnologias duras e nas condições biológicas; do outro, o domicílio — um ambiente privado, com baixa densidade tecnológica, que representa a vida como ela é, onde a questão central é a biografia individual das pessoas. Nesse sentido, cuidar em casa envolve maior compreensão, respeito aos determinantes sociais e aos valores pessoais dos usuários de forma mais intensa do que em geral ocorre no ambiente hospitalar.6

Toda a equipe multiprofissional deve atuar no processo de desospitalização, pois, na maioria dos casos, existe comprometimento da esfera biopsicossocial.7 O fisioterapeuta, como membro da equipe, exerce um importante papel em toda a jornada do paciente, desde a UTI até a permanência dos cuidados no domicílio ou até a articulação de acesso a um serviço especializado de fisioterapia.

A profissão do fisioterapeuta está diretamente ligada ao processo de reabilitação das causas que geram alta taxa de permanência hospitalar, e é importante conhecer as necessidades dos pacientes e das famílias, que também possuem responsabilidades no planejamento das ações, para oferecer apoio e articulação com outros setores.

O trabalho da fisioterapia na desospitalização deve conter ações educativas (treinamento familiar) e assistenciais, visando à segurança do paciente, promoção da saúde, reabilitação funcional e oferta de cuidados paliativos, porque também é necessário compreender os casos para os quais não há possibilidade de cura. Cada etapa desse processo exige do fisioterapeuta habilidades, competências e atitudes para avaliar as demandas de cada paciente e elaborar um plano de cuidados articulado com os demais atores da equipe multidisciplinar e os familiares responsáveis.7

Considera-se que todo paciente, independentemente da patologia e da causa da internação, deve ter um plano de alta que vise à desospitalização assim que o motivo que causou a internação se resolva.

Neste capítulo, discutem-se casos nos quais os pacientes apresentam dependência da ventilação mecânica invasiva (VMI) ou não invasiva (VNI), pois, nesses cenários, o fisioterapeuta passa ser o protagonista.

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