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LESÃO PULMONAR AUTOINFLIGIDA: CONCEITO, MONITORIZAÇÃO E PREVENÇÃO

Eduardo Augusto Pinto Rodrigues

epub-BR-PROFISIO-ADUL-C12V1_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever o mecanismo de desenvolvimento dos cálculos de mecânica respiratória e sua participação no processo da ventilação mecânica (VM) e da lesão pulmonar;
  • conhecer uma breve perspectiva histórica da patient self inflicted lung injury (P-SILI);
  • identificar as estratégias de proteção pulmonar descritas na literatura, com suas evidências e os desafios futuros.

Esquema conceitual

Introdução

Por muitos anos, mais especificamente desde a descrição de Ashbaugh e colaboradores,1 em 1967, as atenções para os cuidados clínicos da síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) estavam voltadas para o controle dos parâmetros da VM e como melhor ventilar esses pulmões acometidos.

Durante décadas, o objetivo do manejo da VM estava na homeostase gasosa, buscando bons níveis de oxigenação e de dióxido de carbono (CO2) a qualquer custo. Para tal, elevados volumes correntes (VCs) eram utilizados — algo em torno de 12mL/kg de peso; consequentemente, elevadas pressões eram aplicadas em todo sistema respiratório e, obviamente, nos pulmões. Consequências desastrosas foram associadas a essa conduta, e a taxa de mortalidade beirava os 80% para aqueles que necessitavam de VM.2

Na década de 1990, um trabalho conduzido por um grupo brasileiro,3 pela primeira vez mostrou ao mundo uma nova forma de ventilar esses pacientes, buscando menores pressões inspiratórias, por meio da redução do VC para 6mL/kg de peso predito e do controle adequado da pressão positiva ao final da expiração (PEEP) através da análise da curva pressão × volume. Mais tarde, um grande estudo conduzido por um grupo americano4 corroborou a eficácia da chamada “estratégia protetora” de ventilação.

A partir de então, muitos estudos foram desenvolvidos para tentar aperfeiçoar essa estratégia e reduzir a mortalidade, que culminou com uma redução substancial (40%). Ao longo de todo esse tempo, os trabalhos, em sua grande maioria, não se concentraram em análises que levassem em consideração a atuação da musculatura respiratória e seus potenciais efeitos no desenvolvimento da lesão pulmonar.5

A publicação do estudo ACURASYS,6 no renomado jornal The New England Journal of Medicine, em 2010, mostrou redução da mortalidade em pacientes com SDRA com relação PaO2/FiO2 ≤150mmHg submetidos ao uso de bloqueio neuromuscular em comparação àqueles que utilizaram a musculatura respiratória. Nesse estudo, os pesquisadores deram mais atenção à relação entre a presença da atividade muscular e o desenvolvimento da lesão pulmonar.

Diversos estudos experimentais foram, então, conduzidos para analisar as consequências da presença da atividade muscular na inflamação do pulmão com desfechos extremamente desfavoráveis.7–9 As evidências sugerem que ela deva ser controlada, ou até mesmo evitada, na presença de heterogeneidade pulmonar e elevada variação da pressão transpulmonar (ΔPL).10

Brochard e colaboradores11 conseguiram expandir o entendimento sobre a lesão pulmonar induzida pelo ventilador (LPIV) ao introduzir um conceito sobre a presença de lesão pulmonar associada ao esforço muscular respiratório intenso, chamando-a, então, de lesão pulmonar autoinfligida (do inglês, patient self inflicted lung injury [P-SILI]).

Neste capítulo, a atenção será voltada para toda a mecânica do sistema respiratório na presença de atividade muscular, bem como suas consequências para o pulmão, principalmente as relacionadas ao drive respiratório exacerbado, importante causador da P-SILI,12 e as possíveis formas de se evitar ou minimizar esse processo.

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