Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- compreender as ondas ultrassônicas e a formação de imagens;
- reconhecer a ultrassonografia cinesiológica (USC) e seu uso pelo fisioterapeuta;
- discutir a aplicabilidade da USC no contexto da terapia intensiva e da pós-hospitalização;
- analisar imagens de alterações pleuropulmonares em pacientes suspeitos e confirmados com covid-19;
- aplicar a USC na avaliação de pacientes com insuficiência respiratória e nos pacientes com ventilação não invasiva (VNI) e invasiva (VMI);
- avaliar o sucesso e o insucesso no processo de desmame;
- identificar alterações morfológicas e funcionais nos músculos respiratórios e na muscular apendicular.
Esquema conceitual
Introdução
A USC é um exame de imagem que permite ao fisioterapeuta investigar a morfologia e a funcionalidade das estruturas a serem trabalhadas. É uma ferramenta de avaliação que vem crescendo no mundo e garantindo o acompanhamento em tempo real das estruturas tratadas, quantificando e qualificando a coleta de dados indispensáveis na evidência clínica e científica.
A Lei nº 6.316/19751 e a resolução COFFITO 80/19872 regulamentam o uso da ultrassonografia (US) pelo fisioterapeuta para fins de elaboração do diagnóstico fisioterapêutico compreendido como avaliação físico-funcional, solicitação, realização e interpretação desse exame complementar. Ademais, a Lei nº 12.842/2013,3 que regulamenta o exercício da medicina no Brasil, não contempla a utilização da US como ato privativo do médico, deixando claro que o Artigo. 4°, inciso III da referida lei, limita aos médicos apenas a execução de procedimentos diagnósticos invasivos, o que não se aplica à USC.
No contexto gerado pela pandemia da covid-19, a US ganhou destaque em função de alguns fatores bem relevantes, como:
- avaliação à beira do leito, sem necessidade de deslocamento do paciente e de toda equipe para o setor de radiologia;
- boa correlação com a tomografia computadorizada (TC) de tórax para observação de áreas comprometidas e superioridade em relação à radiografia de tórax;
- agilidade na avaliação e possibilidade de diversas reavaliações ao longo do período;
- não utiliza radiação (as ondas ultrassônicas são ondas mecânicas);
- elevada sensibilidade no rastreio de suspeitos com covid-19, com insuficiência respiratória e nos casos de comprometimento pulmonar moderado e grave;4
- avaliação no processo do desmame da ventilação mecânica (VM) com preditores na avaliação pleuropulmonar — escore ultrassonográfico pulmonar (em inglês, lung ultrasound score [LUS score]) e na avaliação diafragmática (definição de atrofia muscular e disfunção diafragmática);5
- avaliação rápida de intubação correta e redução da morbidade e mortalidade gerada pela intubação incorreta em pacientes graves;6
- rastreamento das alterações morfofuncionais que acometem a musculatura esquelética apendicular.7
Algumas dificuldades para realização da avaliação estão relacionadas aos seguintes aspectos:4
- não disponibilidade do equipamento ou de todas as sondas (transdutores ou probes) necessários para análise;
- baixa qualidade dos equipamentos e sondas;
- capacidade insuficiente ou ausente da equipe e necessidade de profissional com expertise para análises adequadas;
- variabilidade intra e interoperador (avaliador-dependente).