Introdução
A disfunção respiratória (DRdisfunção respiratória), também chamada de respiração disfuncional, refere-se a pacientes com alterações do padrão respiratório, crônicas ou intermitentes, que podem gerar sintomas respiratórios e não respiratórios.1
Estima-se que a prevalência de DRdisfunção respiratória na população adulta seja de, aproximadamente, 10%, e se observa essa condição majoritariamente em mulheres e em pacientes com asma.2 Além disso, encontrou-se o diagnóstico positivo de DRdisfunção respiratória em um terço das mulheres e em um quinto dos homens com asma.3 Essa disfunção é caracterizada, sobretudo, por episódios de respiração apical, hiperventilação e suspiros profundos periódicos. Alguns dos sintomas sistêmicos mais reportados são4
- sensação de restrição torácica;
- vertigem;
- parestesia;
- palpitações.
A etiologia dessa disfunção ainda precisa ser mais bem investigada. Entretanto, até o momento, caracteriza-se a DRdisfunção respiratória como uma condição de ordem principalmente psicossomática, vinculada a transtornos de ansiedade e depressão, e/ou estrutural/fisiológica, vinculada a condições como asma e insuficiência cardíaca.5–7
Apesar de a DRdisfunção respiratória secundária a alterações estruturais/fisiológicas ser mais facilmente compreendida por profissionais de saúde, ela se confunde em meio a inúmeras outras doenças nas quais os sintomas apresentados são semelhantes, como, por exemplo, palpitação e dispneia. Sendo assim, estima-se que grande parte da população com DRdisfunção respiratória não seja diagnosticada de forma apropriada e, portanto, sofra com essa condição sem receber um tratamento adequado.
As diretrizes da British Thoracic Society/Scottish Intercollegiate Guidelines Network e da Global Initiative for Asthma destacam a importância de se estudar, diagnosticar e tratar a DRdisfunção respiratória de forma mais eficiente.8,9 Embora a DRdisfunção respiratória tenha sido estudada de modo sistemático por décadas, suas definições ainda variam, e não se desenvolveu nenhuma ferramenta diagnóstica validada para identificar essa condição.10
O questionário de Nijmegen (QN) é uma ferramenta originalmente criada para identificar sinais característicos de síndrome da hiperventilação (SHVsíndrome da hiperventilação), mas tem sido muito utilizada, erroneamente, para diagnosticar SHVsíndrome da hiperventilação e DRdisfunção respiratória.11 Além disso, o teste cardiopulmonar de exercício (TCPEteste cardiopulmonar de exercício) é a ferramenta de escolha para confirmar o diagnóstico de SHVsíndrome da hiperventilação.12,13 Entretanto, pesquisadores relatam a existência de SHVsíndrome da hiperventilação sem que a hiperventilação seja necessariamente desencadeada pelo exercício.14 Isso faz com que clínicos e pesquisadores não tenham certeza em relação à compreensão da condição, favorecendo, portanto, diagnósticos imprecisos.
A literatura aponta a existência de conhecimento clínico e prático sobre DRdisfunção respiratória, mas pouca informação realmente se baseia em evidências científicas. A investigação de sintomas respiratórios, alterações bioquímicas e biomecânicas foi previamente sugerida como o “caminho a seguir” para uma melhor compreensão da DRdisfunção respiratória.11,15 Além disso, os domínios psicológico, social e fisiológico parecem desempenhar um papel importante nessa condição. Portanto, até o presente momento, faz-se necessária uma avaliação multidimensional desses pacientes, inclusive para diferenciar DRdisfunção respiratória de outras condições de saúde.
Os pacientes com dispneia a esclarecer, assim como aqueles já diagnosticados com asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOCdoença pulmonar obstrutiva crônica), são comumente encaminhados para fisioterapia respiratória. O fisioterapeuta é habilitado a realizar uma avaliação detalhada, diagnóstico e tratamento fisioterapêutico e acompanhamento do paciente, baseando sua prática em evidências científicas.
As evidências existentes em relação ao diagnóstico e ao tratamento de pacientes com DRdisfunção respiratória são limitadas. Portanto, o fisioterapeuta pode desempenhar um papel importante nesse processo. A coleta do histórico detalhado do paciente, a avaliação individualizada, o acompanhamento e a abordagem interdisciplinar são fatores essenciais para o diagnóstico diferencial de DRdisfunção respiratória.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir a DRdisfunção respiratória de acordo com a evidência da literatura;
- identificar os sinais e os testes a serem realizados em um paciente com suspeita de DRdisfunção respiratória;
- reconhecer as limitações existentes em relação ao diagnóstico da DRdisfunção respiratória;
- reconhecer a forma de interagir com outros profissionais de saúde em busca do diagnóstico diferencial para DRdisfunção respiratória.