- Introdução
Os mecanismos biológicos para explicar o processo de envelhecimento humano são complexos e ainda não se encontram suficientemente esclarecidos. Múltiplas teorias já foram propostas com essa finalidade. No entanto, nenhuma fornece respostas que desvendem tais mecanismos de forma integral. Além do indiscutível papel da genética, e também de alterações nos processos metabólicos da biologia celular e molecular, muito se especula que o envelhecimento humano seja influenciado por disfunções em eixos neuroendócrinos.1
Com base nessa premissa, também já foram propostas muitas modalidades de intervenções de natureza neuroendócrina, visando a interromper, reverter ou “modular” o processo de envelhecimento. Segundo essas teorias, o envelhecimento orgânico resultaria de determinados déficits hormonais (por exemplo, de hormônios sexuais), cuja reposição modificaria certas características típicas do envelhecimento, como a redução da massa, força e desempenho muscular (sarcopenia) e as alterações na composição corporal (aumento da proporção de gordura e redução da água corporal).2
No século XIX, Brown-Séquard relatou o suposto efeito rejuvenecedor e prolongador da vida humana atribuído a injeções subcutâneas de extrato aquoso de testículo canino, em um famoso e polêmico experimento em que o veterano cientista, aos 72 anos, fez autoaplicações de seu elixir e posteriormente registrou os efeitos observados.3 Embora estudos subsequentes não tenham confirmado os resultados descritos por Brown-Séquard, a crença nos efeitos antienvelhecimento de certos hormônios prevaleceu durante praticamente todo o século XX, sendo mais fortemente contestada a partir da publicação dos dados do Women’s Health Initiative.4
No início dos anos 2000, tal estudo demonstrou que, contrariando grande parte daquilo que se acreditava serem os efeitos benéficos da reposição estrogênica em mulheres na menopausa, esse tratamento aumentava os riscos de coronariopatias, acidentes vasculares encefálicos, eventos tromboembólicos e demência, além de também aumentar o risco de morte. Isso motivou a publicação antecipada de seus resultados e levou a mudanças substanciais na prescrição de terapia de reposição hormonal na menopausa, que deixou de ser um procedimento rotineiro e disseminado e tornou-se uma prática recomendada em casos selecionados e com monitoração cautelosa.
Na realidade, a despeito da proibição de grande parte das chamadas “terapias antienvelhecimento”, e também da falta de evidência científica de qualidade que comprove a eficácia desse tipo de intervenção, as ofertas desses tratamentos continuam muito comuns, e não faltam interessados em desembolsar elevadas somas monetárias para “manter-se jovem” ou “combater o envelhecimento”. Por outro lado, têm crescido os estudos relacionados à chamada “síndrome da fragilidade”, que muitos autores já citam como uma das grandes síndromes geriátricas, a qual é caracterizada pela tríade sarcopenia, déficit imunológico e déficit neuroendócrino.2,5
Seguramente, a síndrome da fragilidade é uma das atuais fronteiras do conhecimento mais importantes em Geriatria e Gerontologia, que precisa ser ultrapassada para permitir que o envelhecimento populacional no século XXI se realize de forma sustentável, mediante a promoção da velhice saudável. Logicamente, isso representa também uma mudança de perspectiva, pois o que se busca não é a “prevenção do envelhecimento”, pois esse não é uma doença a ser combatida, mas um processo normal da vida humana; o verdadeiro foco é a promoção da velhice com os maiores graus possíveis de funcionalidade e qualidade de vida.5
- Objetivos
Ao final da leitura desse artigo, o leitor será capaz de:
- conhecer as principais alterações neuroendócrinas (fisiológicas) características do processo de envelhecimento humano;
- entender os principais distúrbios do processo de envelhecimento humano;
- conhecer a síndrome da fragilidade e suas implicações;
- compreender o embasamento pelo qual atualmente não se permite o emprego das “terapias antienvelhecimento” baseadas no uso de uso de hormônios.
- Esquema conceitual
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1. Sintetize seus conhecimentos sobre a fisiologia do envelhecimento humano. Compare sua resposta com o texto a seguir.
2. Por que o estudo do envelhecimento do sistema endócrino tem uma problemática peculiar? Compare sua resposta com o texto a seguir.
3. Qual o único eixo hormonal que apresenta alterações bem conhecidas associadas ao envelhecimento? Compare sua resposta com o texto a seguir.
4. Comente as dificuldades da prática clínica atual relacionadas ao diagnóstico do idoso com distúrbios neuroendócrinos. Compare sua resposta com o texto a seguir.
5. Mencione alterações endócrinas associadas ao envelhecimento humano. Compare sua resposta com o texto a seguir.