- Introdução
As leishmanioses são doenças que têm mudado o perfil epidemiológico no Brasil e no mundo, com aumento das áreas endêmicas. Clinicamente, se apresentam nas formas visceral e tegumentar, e as manifestações clínicas variam de acordo com a espécie de Leishmania (L.) envolvida e em decorrência da resposta do hospedeiro.
Pacientes imunodeprimidos apresentam formas clínicas atípicas, menor sucesso terapêutico, maior toxicidade aos medicamentos e maior frequência de recidiva. O diagnóstico é feito por métodos parasitológicos diretos e imunológicos (sorologia e provas cutâneas de hipersensibilidade retardada); a sensibilidade destas depende da forma clínica, do tempo de doença, da presença de comorbidades e fatores inerentes à técnica executante.
O tratamento baseia-se no uso de 4 medicamentos: antimonial pentavalente, anfotericina B, pentamidina e miltefosina, sendo os 2 primeiros os principais no Brasil. Para evitar a doença não se dispõe de vacina atualmente. O controle vetorial, eliminação do reservatório, diagnóstico e tratamento precoce dos casos humanos são as bases da prevenção. As leishmanioses são doenças de notificação compulsória no Brasil.
As leishmanioses, nas formas visceral e tegumentar, afetam principalmente indivíduos de países em desenvolvimento, sendo estimados aproximadamente 2 milhões de novos casos a cada ano, com mais de 350 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco de adquirir a infecção no mundo.1 O termo leishmaniose do “Velho Mundo” refere-se às formas clínicas presentes na África, Ásia, Oriente Médio e Mediterrâneo, cujos vetores são do gênero Phlebotomus, enquanto que os vetores do gênero Lutzomyia são os transmissores da doença no “Novo Mundo”, região que compreende as áreas endêmicas de toda a América.2
No Brasil, as leishmanioses estão presentes nas 5 regiões e ocorrem de forma endêmica, com maior concentração de casos em determinados Estados. Na década de 1950, a leishmaniose visceral (LVleishmaniose visceral) ocorria principalmente em áreas rurais da região Nordeste, porém, ao longo dos anos, a doença apresentou modificações nas suas características epidemiológicas, apresentando ciclo periurbano e posteriormente em região urbana. Há descrição de casos em grandes cidades como Natal, Fortaleza, Campo Grande e Belo Horizonte, além da região noroeste do Estado de São Paulo, mostrando franca expansão geográfica no Brasil.3
Atualmente, a LVleishmaniose visceral ocorre de forma autóctone nas 5 regiões do Brasil, podendo haver número maior de casos em decorrência da subnotificação, mesmo a doença sendo de notificação compulsória. A leishmaniose tegumentar (LTleishmaniose tegumentar) também está presente nas 5 regiões e pode apresentar ciclos de transmissão silvestre e periurbano, dependendo da espécie de Leishmania envolvida. Diversos aspectos contribuem para a disseminação da doença, tais como fatores relacionados ao meio ambiente, ao parasito e ao hospedeiro vertebrado. Adicionalmente, a expansão e interiorização da infecção pelo HIV e o uso mais rotineiro de medicamentos imunossupressores têm modificado as características clínicas das leishmanioses, uma vez que manifestações não usuais podem ser detectadas nessa população de imunodeprimidos, o que dificulta ainda mais o diagnóstico e o tratamento dessa enfermidade.
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1. Sintetize seus conhecimentos sobre a epidemiologia das leishmanioses. Compare sua resposta com o texto a seguir.
2. Qual tipo de leishmaniose apresenta-se como doença fatal se não tratada? Compare sua resposta com o texto a seguir.
- Objetivos
Ao final da leitura do artigo, o leitor poderá:
- identificar as áreas endêmicas para as leishmanioses (visceral ou tegumentar), reconhecendo seus respectivos agentes etiológicos e vetores;
- caracterizar o ciclo biológico da leishmaniose;
- diagnosticar um caso de leishmaniose visceral ou tegumentar, de acordo com características clínicas, epidemiológicas e laboratoriais;
- propor o tratamento específico para cada tipo de leishmaniose diagnosticada, detalhando possíveis eventos adversos de cada medicamento.
- Esquema conceitual