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DOR CRÔNICA NA PESSOA IDOSA: CUIDADOS DE ENFERMAGEM

Fabíola de Araújo Leite Medeiros

Élyman Patrícia da Silva Freitas

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • reconhecer a dor crônica como um desafio para o cuidado de enfermagem gerontológico;
  • considerar o impacto da dor crônica na vulnerabilidade de indivíduos idosos;
  • distinguir os tipos de dor no indivíduo idoso;
  • descrever a avaliação da dor pelo profissional de saúde, incluindo os cuidados de enfermagem;
  • listar possíveis manejos da dor e cuidados de enfermagem em indivíduos idosos.

Esquema conceitual

Introdução

O envelhecimento populacional é um fenômeno social que vem acontecendo no Brasil e no mundo, referendando a demanda por formação Gerontológica e Geriátrica nas diversas áreas do conhecimento, incluindo a Saúde. O aumento da população com idade igual ou superior a 60 anos é visto como um marco importante na sociedade brasileira, mas só poderá ser considerado um indicador de qualidade de vida quando os indivíduos idosos gozarem da sua longevidade com apoio social e governamental diante das suas necessidades básicas de vida.1

Os avanços tecnológicos ocorridos relacionados à promoção de saúde, prevenção e controle de doenças infectocontagiosas, assim como o monitoramento de doenças crônicas e outras iniciativas sociais, têm corroborado para o aumento dos anos de vida de um indivíduo. Ou seja, tem culminado em respostas positivas à longevidade: o surgimento de medicamentos mais modernos; o incremento de métodos diagnósticos para a prevenção e o controle de problemas crônicos de saúde; o desenvolvimento de modelos de atenção integral em saúde; os incentivos aos programas de imunização e controle de agravos infecciosos; as melhorias dos determinantes sociais de saúde.2

A previsão é de que, em 2025, o Brasil ocupará o 6º lugar no mundo em quantidade de idosos, e se estima que o número de pessoas com mais de 60 anos superará o de brasileiros com idade inferior a 30 anos até 2055.3 Além disso, considera-se que o processo de envelhecer implica em aumento do risco para o desenvolvimento de vulnerabilidades de natureza biológica, socioeconômica e psicossocial em virtude do declínio biológico típico da senescência, o qual interage com processos socioculturais.4

O envelhecimento se refere a um processo amplo, multifacetado e natural que caracteriza uma etapa da vida do homem, e acontece por mudanças físicas, psicológicas e sociais, que acometem de forma particular cada indivíduo com sobrevida prolongada.5 Isso ocorre de tal modo que, em maior ou menor grau, aspectos individuais, coletivos, contextuais e históricos das experiências de desenvolvimento e de envelhecimento geram possibilidades de adoecimento e dificuldades de acesso aos recursos de proteção disponíveis na sociedade.6

No indivíduo idoso, é comum que experiências dolorosas, especialmente as crônicas, possam gerar maior fragilidade, impedindo, muitas vezes, que eles se utilizem da sua funcionalidade e da sua capacidade de realizar as atividades rotineiras, podendo limitar potencialmente sua interação e seu convívio social, diminuindo consideravelmente sua qualidade de vida.7 A presença de dor no idoso traz muitos problemas adjacentes relacionados com síndromes geriátricas mais evidentes, como instabilidade postural, imobilidades, depressão, polifarmácia, entre outras.8

Envelhecer não é o mesmo que adoecer. O envelhecimento com aumento da prevalência de problemas crônicos de saúde e de incapacidades eleva o aparecimento de doenças associadas à dor. Na presença da dor, o indivíduo idoso tende a tornar-se mais vulnerável, ou seja, com capacidade de autodeterminação reduzida, podendo apresentar dificuldades para proteger seus próprios interesses em decorrência de déficits de poder, inteligência, educação, recursos, força ou outros atributos. Isso acaba levando ao comprometimento da sua autonomia devido às instabilidades cognitivas e de humor, o que afeta diretamente sua independência.9

O novo cenário da realidade nacional e as demandas da área da saúde quanto à condição de dor em pessoas idosas incitaram novos questionamentos, novas possibilidades de olhar no campo de suas práticas e na produção de saberes. O desenvolvimento de ações psicoeducativas ou psicoprofiláticas, junto aos mais diferentes atores e processos de saúde, pode potencializar não apenas as técnicas em si de manejo da dor, mas o papel dos profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros.10

Além disso, no indivíduo idoso, a dor é uma condição clínica comum, sendo um sintoma desafiador que muitas vezes é subestimado e subtratado, apesar de impactar negativamente a vida das pessoas, comprometendo de modo direto a capacidade funcional.9,11

Com isso, verifica-se que há uma necessidade de avaliação da dor no idoso para compreender o que há por traz dela: uma doença crônica real? Um problema psicossomático? Um sinal de alerta para uma condição crônica? Uma iatrogenia?

Deve-se investigar e analisar as possíveis características da presença da dor crônica na pessoa idosa: a relação dessa dor com o processo fisiológico do envelhecimento humano, a presença de doença crônica e incapacitante, a qualidade de vida afetada, o suporte familiar e social, a vulnerabilidade perante o envelhecimento bem como a compreensão do que leva muitos indivíduos idosos com dores crônicas ao isolamento social e ao declínio funcional.

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