- Introdução
A esquistossomose é endêmica em 74 países, constituindo um grande problema de saúde pública, sendo o número de infectados estimado em 240 milhões. Cerca de 700 milhões de pessoas encontram-se em áreas de risco para a infecção por uma ou mais das seis espécies que podem infectar os seres humanos:1
- Schistosoma haematobium;
- S. intercalatum;
- S. japonicum;
- S. mansoni;
- S. mekongi;
- S. malayensis.
No entanto, apenas o S. mansoni estabeleceu-se no Brasil por ter encontrado caramujos do gênero Biomphalaria spp., seus hospedeiros intermediários.2 No Brasil, estima-se que cerca de 25 milhões são expostos aos riscos de contrair a doença, variando as taxas de prevalência de Estado para Estado.3 No território nacional, o Ministério da Saúde estima que haja cerca de 7 milhões de indivíduos infectados, com a maior parte dos casos concentrada nos estados do Nordeste.4,5
Os movimentos de refugiados, os deslocamentos migratórios, religiosos e turísticos de pessoas, além de erros na gestão da água-doce, podem promover a disseminação da esquistossomose.6–8 A falta de infraestrutura de saúde, em muitas dessas áreas, dificulta tanto o diagnóstico como o acesso ao tratamento precoce, favorecendo a evolução para formas crônicas debilitantes.
Assim, as estratégias de controle devem ser desenvolvidas com o objetivo de vencer esse desafio e garantir o acesso precoce ao diagnóstico e tratamento não só da esquistossomose, como também das outras helmintíases.9–11
Trata-se de uma infecção parasitária de veiculação hídrica, cujo ciclo biológico ocorre em dois hospedeiros: um definitivo e o outro intermediário. O ciclo definitivo de S. mansoni é sexuado, intravascular, se desenvolve no hospedeiro definitivo (o homem ou outro mamífero) e se completa após o desenvolvimento de machos, fêmeas adultas e a oviposição. Os ovos de S. mansoni podem ser eliminados nas fezes, retornar ao fígado ou ficarem aderidos à parede intestinal. Os ovos contidos nas fezes do indivíduo infectado, em contato com ambiente aquático, liberam miracídeos (larva ciliada), que infectam o molusco do gênero Biomphalaria. Nesse molusco, se desenvolve o ciclo intermediário, assexuado, que se completa após a liberação das cercárias, as quais são as formas larvárias infectantes ao homem. Três espécies de caramujos do gênero Biomphalaria atuam eficientemente como hospedeiros intermediários:12,13
- B. glabrata (Say, 1818);
- B. tenagophila (Orbigny, 1835);
- B. straminea (Dunker, 1848).
Nota da Editora: os medicamentos que estiverem com um asterisco (*) ao lado estão detalhados no Suplemento constante no final deste volume.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- revisar os sinais clínicos da esquistossomose mansoni;
- diferenciar as fases e formas clínicas da doença;
- realizar o diagnóstico clínico da esquistossomose mansoni;
- promover o tratamento adequado para cada fase da doença;
- avaliar as medidas preventivas de controle da esquistossomose mansoni.
- Esquema conceitual
Caso clínico 1
Homem de 28 anos, procedente da Bahia, procurou atendimento médico com queixas de dor abdominal em aperto há cerca de 4 anos, progressiva, que passou a ser constante em flanco esquerdo, irradiando para o hipogástrio, associada à urgência evacuatória e tenesmo, além de episódios de diarreia aquosa sem muco ou sangue (várias vezes ao dia).
O paciente refere ainda astenia. Negava náuseas, vômitos, febre, perda de peso, acolia fecal, colúria, melena e hematêmese. Nega outras comorbidades. Nega tabagismo ou uso de substâncias ilícitas. Refere etilismo anterior (10 garrafas de cerveja por fim de semana durante 10 anos), tendo deixado o hábito há 8 anos.
As provas de função hepática foram normais, e o hemograma completo cursava com leucopenia e plaquetopenia. As sorologias para hepatites B e C, HIV e vírus T linfotrópico humano (HTLVvírus T linfotrópico humano) foram negativas. O paciente realizou investigação com endoscopia digestiva alta (EDAendoscopia digestiva alta), que revelou a presença de três cordões de varizes esofágicas de médio calibre e gastrite erosiva.
A ultrassonografia abdominal revelou hiperecogenicidade em torno dos vasos portais e esplenomegalia. Na terceira amostra, o exame parasitológico de fezes identificou ovos com espícula lateral.
Assim, a hipótese diagnóstica do paciente é esquistossomose mansoni, na fase crônica, em forma hepatoesplênica compensada.
Caso clínico 2
Homem de 20 anos, natural de Volta Redonda, há 10 dias iniciou quadro de febre (38ºC), associado à adinamia, anorexia e sonolência. No mesmo período, apresentou tosse produtiva, porém sem expectoração. Refere também diarreia, além de exantema papuloeritematoso em região torácica.
O paciente nega vômitos, sangramentos ou alterações urinárias. Refere ter visitado parentes em Teófilo Otoni, Minas Gerais, há 30 dias, quando nadou em rio e lagoa. Não apresentou alterações na história de saúde pregressa, negando tabagismo ou alergia respiratória. Ao exame físico, foram observados:
- presença de regular estado geral;
- exantema maculopapular difuso;
- discreta hepatomegalia;
- espaço de Traube ocupado;
- broncoespasmo moderado.
O paciente mantinha saturação de 96% em ar ambiente e boa perfusão periférica. O hemograma mostrou leucocitose de 32.000/mm3 e 72% de eosinófilos. As provas de função hepática apontaram discreto aumento de alanino-aminotransferase (ALTalanino-aminotransferase) 80U/L (normal de 5 a 40U/L) e aspartato aminotransferase (ASTaspartato aminotransferase) 75U/L (normal de 7 a 56U/L).
As sorologias para hepatites B e C, HIV e HTLVvírus T linfotrópico humano foram negativas. Ao exame radiológico de tórax, observou-se a presença de infiltrados peri-hilares bilaterais. A ultrassonografia abdominal apontou hepatoesplenomegalia discreta. O exame parasitológico de fezes mostrou a presença de Giardia lamblia e de ovos de ancilostomídeos. Após 15 dias, em novo exame, observou-se a presença de ovos de S. mansoni no exame parasitológico de fezes.
Assim, a hipótese diagnóstica do paciente é esquistossomose mansoni, fase aguda, forma aguda.
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ATIVIDADES |
1. O parasita S. mansoni utiliza
A) um vertebrado como hospedeiro intermediário.
B) dois tipos de hospedeiros, um intermediário e um definitivo.
C) dois tipos de hospedeiros, ambos vertebrados.
D) um único tipo de hospedeiro, que pode ser um vertebrado ou um invertebrado.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
O ciclo biológico de S. mansoni ocorre em dois hospedeiros: um definitivo e o outro intermediário. O ciclo definitivo de S. mansoni é sexuado, intravascular, se desenvolve no hospedeiro definitivo (o homem ou outro mamífero) e se completa após o desenvolvimento de machos, fêmeas adultas e a oviposição. Os ovos de S. mansoni podem ser eliminados nas fezes, retornar ao fígado ou ficarem aderidos à parede intestinal. Os ovos contidos nas fezes do indivíduo infectado, em contato com ambiente aquático, liberam miracídeos (larva ciliada), que infectam o molusco do gênero Biomphalaria. Nesse molusco, se desenvolve o ciclo intermediário, assexuado, que se completa após a liberação das cercárias, as quais são as formas larvárias infectantes ao homem. Três espécies de caramujos do gênero Biomphalaria atuam eficientemente como hospedeiros intermediários: B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea.
Resposta correta.
O ciclo biológico de S. mansoni ocorre em dois hospedeiros: um definitivo e o outro intermediário. O ciclo definitivo de S. mansoni é sexuado, intravascular, se desenvolve no hospedeiro definitivo (o homem ou outro mamífero) e se completa após o desenvolvimento de machos, fêmeas adultas e a oviposição. Os ovos de S. mansoni podem ser eliminados nas fezes, retornar ao fígado ou ficarem aderidos à parede intestinal. Os ovos contidos nas fezes do indivíduo infectado, em contato com ambiente aquático, liberam miracídeos (larva ciliada), que infectam o molusco do gênero Biomphalaria. Nesse molusco, se desenvolve o ciclo intermediário, assexuado, que se completa após a liberação das cercárias, as quais são as formas larvárias infectantes ao homem. Três espécies de caramujos do gênero Biomphalaria atuam eficientemente como hospedeiros intermediários: B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea.
A alternativa correta é a "B".
O ciclo biológico de S. mansoni ocorre em dois hospedeiros: um definitivo e o outro intermediário. O ciclo definitivo de S. mansoni é sexuado, intravascular, se desenvolve no hospedeiro definitivo (o homem ou outro mamífero) e se completa após o desenvolvimento de machos, fêmeas adultas e a oviposição. Os ovos de S. mansoni podem ser eliminados nas fezes, retornar ao fígado ou ficarem aderidos à parede intestinal. Os ovos contidos nas fezes do indivíduo infectado, em contato com ambiente aquático, liberam miracídeos (larva ciliada), que infectam o molusco do gênero Biomphalaria. Nesse molusco, se desenvolve o ciclo intermediário, assexuado, que se completa após a liberação das cercárias, as quais são as formas larvárias infectantes ao homem. Três espécies de caramujos do gênero Biomphalaria atuam eficientemente como hospedeiros intermediários: B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea.
2. Assinale a alternativa em que a pessoa tem maior risco de se contaminar com o verme da esquistossomose.
A) Trabalhadores da construção civil.
B) Pessoas que lavam roupas em águas doces ou trabalham na lavoura.
C) Pessoas que trabalham na praia (por exemplo, salva-vidas).
D) Pessoas que trabalham nas indústrias (por exemplo, metalúrgicos).
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
A esquistossomose é uma infecção parasitária de veiculação hídrica, que ocorre em água doce. Os movimentos de refugiados, os deslocamentos migratórios, religiosos e turísticos de pessoas e os erros na gestão da água doce podem promover a disseminação da esquistossomose.
Resposta correta.
A esquistossomose é uma infecção parasitária de veiculação hídrica, que ocorre em água doce. Os movimentos de refugiados, os deslocamentos migratórios, religiosos e turísticos de pessoas e os erros na gestão da água doce podem promover a disseminação da esquistossomose.
A alternativa correta é a "B".
A esquistossomose é uma infecção parasitária de veiculação hídrica, que ocorre em água doce. Os movimentos de refugiados, os deslocamentos migratórios, religiosos e turísticos de pessoas e os erros na gestão da água doce podem promover a disseminação da esquistossomose.