- Introdução
A estereotaxia humana foi inicialmente desenvolvida para tratar doenças por meio da segmentação de estruturas subcorticais–alvo usando lesões circunscritas ou estimulação elétrica crônica focal.1 Com o tempo, a estereotaxia funcional — devido ao desaparecimento da psicocirurgia após a era da lobotomia, aos abusos das primeiras tentativas de estimulação cerebral profunda (ECPestimulação cerebral profunda) em pacientes psiquiátricos e à introdução de neurolépticos — limitou-se ao tratamento da doença de Parkinson (DPdoença de Parkinson) e de outras doenças neurológicas (distonia e tremor de ação).2 Tal tratamento envolvia principalmente lesões de vários subnúcleos talâmicos e estruturas dos gânglios de base ([GBgânglios de base] globo pálido e região subtalâmica).3
A ECPestimulação cerebral profunda é um método reversível que ressurgiu na década de 1990 como uma alternativa mais branda à cirurgia lesional na DPdoença de Parkinson avançada, especialmente em procedimentos bilaterais, tendo como alvos os núcleos subtalâmicos (NBTnúcleos subtalâmicos).
A escolha dos NBTnúcleos subtalâmicos como alvo para a DPdoença de Parkinson surgiu de estudos sobre a 1-m1til-4-fenil-1,2,3,6-tetra-hidropirina em modelo de macacos com DPdoença de Parkinson, que mostraram aumento da atividade neuronal nos NBTnúcleos subtalâmicos e melhoria acentuada das características parkinsonianas após a lesão.1 Nesse modelo e em pacientes com DPdoença de Parkinson, esse efeito antiparkinsoniano pode ser reproduzido com a ECPestimulação cerebral profunda nos NBTnúcleos subtalâmicos.4
Mais recentemente, a ECPestimulação cerebral profunda foi introduzida no campo da psiquiatria para modular a atividade neuronal nas mesmas áreas que foram alvo de lesões no passado,1 graças aos progressos alcançados na neuroimagem funcional e à melhor compreensão da fisiopatologia dos transtornos psiquiátricos. Nesse contexto, a ECPestimulação cerebral profunda oferece várias vantagens: primeiro, a eficácia pode ser testada em ensaios clínicos randomizados, duplo–cegos e controlados; em segundo lugar, a ECPestimulação cerebral profunda pode ser ligada e desligada, para que efeitos agudos possam ser estudados em humanos; em terceiro lugar, pode ser usada em estudos de neuroimagem funcional; por último, os eletrodos implantados podem ser usados para registrar atividade dentro do cérebro enquanto o paciente realiza tarefas emocionais ou motoras.5
Portanto, a ECPestimulação cerebral profunda não é apenas uma técnica terapêutica, mas também uma ferramenta poderosa para o estudo das funções cerebrais. Assim, neste artigo, serão apresentados conteúdos referentes à história da ECPestimulação cerebral profunda, aos mecanismos básicos da ECPestimulação cerebral profunda e às aplicações clínicas da ECPestimulação cerebral profunda no campo da psiquiatria.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- descrever a história da ECPestimulação cerebral profunda;
- identificar os mecanismos da ECPestimulação cerebral profunda;
- utilizar a ECPestimulação cerebral profunda em doenças psiquiátricas.
- Esquema conceitual