Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- explicar o impacto da EHI no DNPM;
- resumir o mecanismo de ação da HT na EHI;
- comparar as modalidades de aplicação da HT na população neonatal;
- identificar as indicações e contraindicações da HT;
- reconhecer o impacto do suporte ventilatório durante a HT no DNPM.
- compreender a importância do seguimento da criança com EHI.
Esquema conceitual
Introdução
A hipotermia terapêutica (HT) consiste no resfriamento corpóreo iniciado dentro das seis primeiras horas de vida, visando uma temperatura central-alvo pelo período de 72 horas.1
A HT tem sido utilizada como tratamento do recém-nascido (RN) com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) com classificação de moderada à grave,2 com idade gestacional (IG) ≥36 semanas, considerada standard of care (nível de evidência: 1A),3 sendo indicada em até seis horas após o nascimento, a fim de alcançar a janela terapêutica e inibir os mecanismos lesivos do sistema nervoso central (SNC).3–5
Apesar de os estudos demonstrarem efeitos da HT no aumento da sobrevida sem aumentar as incapacidades nos sobreviventes, alguns RNs com EHI, principalmente os classificados como graves, permanecem em risco significativo de morte ou comprometimento grave do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), enfatizando-se a necessidade de estratégias adicionais de tratamento.6 Nesse contexto, é reiterada a importância de se avaliar o impacto da asfixia nos diversos sistemas e órgãos, dentre eles, o sistema respiratório.
Durante a asfixia perinatal, há falência respiratória em graus variados, sendo necessário o suporte ventilatório, que exige especial atenção devido à adaptação cardiorrespiratória variável pós-natal e à dificuldade em monitorar ou interpretar medições gasométricas. O impacto da HT e o reaquecimento na mecânica pulmonar em RNs não foram adequadamente descritos em literatura, tampouco as recomendações específicas de suporte ventilatório para essa população.7
Apesar do exposto, há ampla evidência do potencial modulador da pressão parcial de gás carbônico (pCO2) sobre o fluxo sanguíneo cerebral, ocasionando risco de lesão cerebral isquêmica e de hemorragia intraventricular,7 bem como há evidências do efeito prejudicial ao cérebro da exposição excessiva à pressão parcial de oxigênio (pO2) devido ao aumento do estresse oxidativo.8
A normoxia (valores de pO2 dentro da faixa ideal) e a normocapnia (valores de pCO2 na faixa ideal), alcançáveis por meio do monitoramento rigoroso e do suporte ventilatório individualizado, parecem ser objetivos terapêuticos adequados para RNs com EHI, favorecendo resultados mais favoráveis no DNPM.