Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever os aspectos da resposta imune na sepse;
- conceituar imunoparalisia;
- revisar as características clínicas e laboratoriais que ocorrem na imunoparalisia;
- considerar novas terapias em desenvolvimento.
Esquema conceitual
Introdução
A sepse é definida como uma resposta desregulada do organismo a um insulto infeccioso.1 Representa uma das principais afecções em unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIPs), tanto por sua frequência quanto pela sua gravidade na população pediátrica. Sua incidência vem aumentando, principalmente pela maior sobrevida de recém-nascidos prematuros (RNPs) e crianças com doenças malignas/neoplásicas.2 Apesar de numerosos esforços, a mortalidade por sepse em crianças permanece elevada.3,4
Nas últimas décadas, observou-se um melhor entendimento da fisiopatologia da sepse. Estudos demonstraram que, na fase precoce (primeiras 24 horas), as respostas pró e anti-inflamatória coexistem, e cada indivíduo, dependendo de características individuais, do agente infectante e do meio, pode evoluir de uma maneira diferente. Os pacientes que não são capazes de manter o equilíbrio entre as respostas pró e anti-inflamatórias evoluem com disfunções orgânicas que os colocam em risco de vida.1,5
Pode-se dividir a resposta a sepse em quatro diferentes padrões de pacientes sépticos:1,5,6
- indivíduos imunologicamente competentes, que conseguem um equilíbrio entre resposta pró e anti-inflamatória até o final da primeira semana de doença;
- indivíduos que evoluem para óbito na fase precoce da doença, em decorrência de uma resposta pró-inflamatória exacerbada (“tempestade de citocinas”) e choque refratário;
- indivíduos que vão morrer em uma fase mais tardia (após a primeira semana de doença), em decorrência de incapacidade de erradicar a infecção inicial e da suscetibilidade a infecções secundárias ou oportunistas e disfunções orgânicas — os quais apresentam uma resposta anti-inflamatória persistente, denominada imunoparalisia;
- indivíduos que se tornam cronicamente doentes e alternam predomínio de pró e anti-inflamação durante um curso prolongado da doença crítica, os quais evoluem para óbito tardiamente.
Neste capítulo, serão abordados os aspectos da resposta imune na sepse, mais especificamente a imunoparalisia. De modo a tornar mais fácil a compreensão do conceito de imunoparalisia, será revisado brevemente o funcionamento do sistema imunológico, serão apresentadas as características laboratoriais da imunoparalisia e será detalhado seu papel em diferentes cenários de doenças críticas em pediatria. As estratégias mais modernas de tratamento também serão apresentadas de maneira breve.