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TEMPERATURA CORPORAL NA SEPSE: AVANÇOS CONCEITUAIS E APLICAÇÕES PRÁTICAS

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • identificar a febre como uma resposta regulada do hospedeiro, que auxilia o sistema imune no combate a infecções;
  • reconhecer que várias das percepções sobre os “perigos” da febre não têm fundamento científico e levam ao fenômeno conhecido como febrefobia;
  • contextualizar a relação custo–benefício da febre de acordo com a progressão e a gravidade das doenças infecciosas;
  • identificar a peculiaridade da relação custo–benefício da febre em pacientes com lesões encefálicas;
  • discutir, com base nos estudos disponíveis, recomendações quanto ao uso racional da antipirese, seja farmacológica (uso de medicamento), seja física (resfriamento forçado);
  • desenvolver uma postura mais crítica com relação à hipotermia que se desenvolve em pacientes sépticos, notando que ela nem sempre representa uma anormalidade que deve ser revertida a qualquer custo.

Esquema conceitual

Introdução

A importância da temperatura corporal no diagnóstico de doenças infecciosas é algo primordial e bem compreendido pelos profissionais de saúde. Por outro lado, não há protocolos estabelecidos sobre o que fazer com a temperatura corporal de pacientes infectados.

Prevalece a percepção de que alterações na temperatura corporal para cima (febre) ou para baixo (hipotermia) representam anormalidades e de que a reversão dessas alterações melhora a condição do paciente. Entretanto, uma análise da literatura científica revela que a febre não é uma anormalidade, mas um componente integral da defesa de hospedeiros contra patógenos.1,2 Ainda, evidências recentes indicam que o desenvolvimento de hipotermia nos casos mais graves de sepse pode ser uma resposta adaptativa alternativa à febre, desencadeada quando a necessidade de preservar funções vitais excede a necessidade de combate ao patógeno.3

Considerando o cenário supracitado, a abordagem de normal versus anormal deve dar espaço a uma discussão de “novos normais” diante de mudanças nas prioridades do organismo de indivíduos infectados.

Neste capítulo, serão apresentados os avanços conceituais sobre o desenvolvimento de febre ou hipotermia em infecções e sepse, assim como suas implicações clínicas e terapêuticas. Em sua maioria, os estudos clínicos aqui discutidos se referem a pacientes adultos, porém, quando pertinentes, peculiaridades de pacientes pediátricos serão descritas. Febres de origem não infecciosa não serão abordadas, com exceção daquelas decorrentes de lesões neurológicas, por sua relevância em pacientes de unidade de terapia intensiva (UTI) que, porventura, desenvolvam sepse.

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