Entrar

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO NO LACTENTE

Nilzete Liberato Bresolin

Maria Goretti Moreira Guimarães Penido

epub-BR-PROPED-C7V4_Artigo3

Introdução

A infecção do trato urinário (ITUinfecção do trato urinário) é uma doença aguda, bastante frequente na infância (afeta 2% das crianças menores de 2 anos), que pode ou não ser acompanhada por febre e outros sintomas constitucionais. Dependendo da faixa etária e da localização da infecção, pode apresentar ainda sintomas locais de dor lombar e irritação da bexiga.1,2

Em uma revisão sistemática de 18 estudos, que envolveu 22.919 crianças, a prevalência de ITUinfecção do trato urinário em crianças febris foi de 7,0% (intervalo de confiança [IC] 95% 5,5–8,4) em crianças de 0 a 24 meses e 7,8% (IC de 95% 6,6–8,9) em crianças mais velhas. Em meninos, as taxas de prevalência foram mais altas nos primeiros 3 meses de vida com queda posterior. Em meninas, as taxas não se alteram.3

A ITUinfecção do trato urinário é responsável por morbidade significativa, que pode ser minimizada por avaliação rápida e apropriada. Em lactentes e crianças, a preocupação é ainda maior devido à potencial associação com mortalidade aguda (isto é, urosepsis) e/ou problemas médicos crônicos, como ocorrência de cicatriz renal, hipertensão arterial e doença renal crônica.1,2

A ITUinfecção do trato urinário pode ser a primeira manifestação clínica de anormalidades congênitas dos rins e do trato urinário (CAKUT, do em inglês, congenital abnormalities of the kidneys and urinary tract) ou de anormalidades da função da bexiga.4

Em publicação recente, a European Association of Urology afirma que 30% das crianças com anormalidades do trato urinário têm como primeiro sinal a ITUinfecção do trato urinário. Não reconhecer os pacientes em risco pode potencializar o dano do trato urinário superior com consequências clínicas evolutivas.5

Em uma publicação recente de Shaikh e colaboradores, com 1.280 crianças de 0 a 18 anos no seu primeiro episódio de ITUinfecção do trato urinário febril, os autores observaram cicatriz renal em 15% dos participantes. Os fatores considerados de alto risco para o desenvolvimento de cicatriz renal nesses lactentes, crianças e adolescentes foram o achado ultrassonográfico renal anormal ou a combinação de febre alta (maior ou igual a 39ºC) e organismo etiológico diferente de Escherichia coli.6 A cicatriz renal é a sequela mais preocupante a longo prazo.7

A ITUinfecção do trato urinário é definida como a multiplicação de germes patogênicos em qualquer segmento do trato urinário, o qual é geralmente estéril. Diz-se multiplicação de germes patogênicos porque alguns pacientes podem desenvolver bacteriúria assintomática. Nesses pacientes, há bacteriúria significativa em amostras repetidas de urina durante longos períodos em crianças sem sinais ou sintomas ou com sinais e sintomas leves.3,5,8

A bacteriúria assintomática é considerada uma entidade à parte e indica atenuação da bactéria uropatogência pelo hospedeiro ou colonização da bexiga por bactéria não virulenta.5 Em geral, não progride para ITUinfecção do trato urinário sintomática, cicatriz renal e comprometimento do crescimento ou da função renal.8,9

LEMBRAR

O tratamento da bacteriúria assintomática não é recomendado, uma vez que pode resultar em erradicação da flora normal, emergência de cepas patogênicas e invasão tecidual com possibilidade de evolução para quadro de pielonefrite por diferentes espécies bacterianas.8

Deve-se manter acompanhamento clínico nos pacientes com uropatias, redução da função renal ou cicatriz renal. O tratamento está indicado em imunodeficiência, antes de procedimentos urológicos, lesão de mucosa, biópsia de mucosa durante cistoscopia, gravidez e se surgirem sintomas.8

Nota da Editora: os medicamentos que estiverem com um asterisco (*) ao lado estão detalhados no Suplemento constante no final deste volume.

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • identificar os lactentes de risco para ocorrência de ITUinfecção do trato urinário;
  • escolher o melhor método para coletar a urina para diagnóstico de ITUinfecção do trato urinário;
  • reconhecer os fatores de risco para anomalias renais e do trato urinário;
  • descrever os fatores predisponentes associados à ITUinfecção do trato urinário;
  • decidir sobre como e quando investigar crianças com ITUinfecção do trato urinário;
  • propor o melhor tratamento para o lactente;
  • instituir a quimioprofilaxia para os pacientes nos quais esteja indicada;
  • definir quais pacientes devem ser encaminhados ao nefrologista pediátrico e/ou urologista.

Esquema conceitual

Este programa de atualização não está mais disponível para ser adquirido.
Já tem uma conta? Faça login