- Introdução
A insuficiência cardíaca (ICinsuficiência cardíaca) é uma das causas mais comuns de necessidade de cuidados em saúde no mundo, podendo se manifestar por diversos sinais e sintomas, como a dispneia, o cansaço aos esforços (ou mesmo em repouso), a dor torácica e a congestão pulmonar e periférica, por exemplo. É considerada a etapa final comum da maioria das cardiopatias, sendo, portanto, um grande problema de saúde pública.
O diagnóstico de ICinsuficiência cardíaca prevê grande perda de qualidade de vida e mortalidade precoce em relação a sua ausência, mas os avanços em terapias baseadas em evidências têm melhorado os desfechos desses pacientes.
O termo “insuficiência” denota a incapacidade do coração em suprir a perfusão adequada dos tecidos a fim de que disponham de oxigênio suficiente para suas necessidades metabólicas. Segundo a guideline da American Heart Association (AHAAmerican Heart Association) e do American College of Cardiology (ACCAmerican College of Cardiology), a ICinsuficiência cardíaca é definida como “uma síndrome clínica complexa que pode resultar de qualquer distúrbio cardíaco estrutural ou funcional que comprometa a habilidade do ventrículo de se encher de ou ejetar sangue”, sendo seu diagnóstico fundamentado em uma cuidadosa anamnese e em exame físico.1
A prevalência da ICinsuficiência cardíaca vem aumentando concomitantemente ao acréscimo da expectativa de vida da população mundial, ganhando cada vez mais importância no que tange à necessidade de intervenções para sua prevenção e tratamento. Sendo assim, é de suma importância que o profissional da atenção primária faça a correta identificação dos fatores de risco (FRfatores de riscos) modificáveis para doenças cardiovasculares (DCVdoenças cardiovascularess) que podem culminar nesse problema, como a hipertensão arterial sistêmica (HAShipertensão arterial sistêmica), o diabetes melito, o tabagismo, a obesidade, o consumo de álcool e a dislipidemia.
Muitos distúrbios podem levar à ICinsuficiência cardíaca, causando, primeiramente, taquicardia e aumento da pré-carga e do volume circulatório. Há diversos mecanismos que, juntos, causam a instalação dessa síndrome, desde alterações mecânicas até respostas neuroendócrinas e imunológicas.
A proposta deste artigo é instrumentalizar o médico que trabalha na atenção primária à saúde (APSatenção primária à saúde) para reconhecer o risco para o desenvolvimento da ICinsuficiência cardíaca e saber como manejá-la quando já instalada, assim como conhecer as possibilidades e necessidades de manejo multidisciplinar e de referência para consultas especializadas quando ultrapassada a capacidade da APSatenção primária à saúde de atender à demanda específica desses pacientes.
- Objetivos
Após a leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- identificar pacientes sob risco de desenvolver ICinsuficiência cardíaca;
- diagnosticar pacientes com ICinsuficiência cardíaca, reconhecendo seus sinais e sintomas;
- interpretar a classe funcional do paciente portador de ICinsuficiência cardíaca para seu correto manejo;
- verificar quando e quais exames complementares solicitar para auxiliar o diagnóstico de ICinsuficiência cardíaca;
- iniciar, manter e modificar (caso necessário) o tratamento de pacientes com a síndrome já estabelecida, incluindo a devida atenção à melhoria na qualidade de vida, orientando medidas não farmacológicas e escolhendo medicações e posologia apropriadas;
- prever a necessidade de referir para consulta especializada pacientes com demanda para atenção secundária à saúde, evitando encaminhamentos desnecessários que podem prejudicar a coordenação do cuidado;
- reconhecer a necessidade de internação hospitalar de pacientes com ICinsuficiência cardíaca descompensada.
- Esquema conceitual