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VIOLÊNCIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Autores: Carmen Luiza Corrêa Fernandes, Lêda Chaves Dias, Luciana Cortese Mazzoncini
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  • Introdução

A violência é, sem dúvida, um dos maiores problemas do mundo atual, dado que, embora sempre tenha existido, hoje se encontra em expansão. O resultado é uma endemia que leva a uma perda na qualidade e quantidade de vidas. A violência se transformou em um complexo problema de saúde pública, caracterizando uma das formas mais graves de violação dos direitos humanos.1

Em 2002, a violência foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMSOrganização Mundial da Saúde) como o uso intencional de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou tenha grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação.1

A inclusão de "uso do poder" em sua definição expande a compreensão convencional do conceito “violência”.1 A palavra "poder", junto a "uso de força física", amplia a natureza de um ato violento e expande o conceito usual de violência para incluir os atos que resultam de uma relação de poder, incluindo ameaças e intimidação. A expressão “uso de poder” também leva a incluir a negligência ou atos de omissão, somados a atos violentos mais óbvios de execução propriamente dita.2

O “uso de força física ou poder" inclui abandono, negligência e todos os tipos de abuso físico, sexual e psicológico, bem como o suicídio e outros atos autoinfligidos. Essa definição cobre uma ampla gama de resultados, incluindo injúria psicológica, abandono e negligência afetivos, econômicos e sociais. Ela reflete um crescente reconhecimento entre pesquisadores da necessidade de incluir a violência que não produza necessariamente sofrimento ou morte, mas que, apesar disso, imponha um peso substancial a indivíduos, famílias, comunidades e sistemas de saúde em todo o mundo.2

A violência, em muitas de suas formas, pode ser prevenida e evitada, e seus efeitos podem limitar-se se for prontamente reconhecida, abordada e contida. Em grande parte das vezes em que ocorre, uma situação de violência pode ser evitada. Seus fatores desencadeantes são passíveis de modificação, como pobreza extrema e concentrações urbanas com insegurança social (alimentação, trabalho, segurança, propriedade e infraestrutura básica), associadas às desigualdades de educação, social, de gênero, racial e de saúde.

Estima-se que a violência seja, atualmente, uma das principais causas de morte de pessoas entre 15 e 44 anos em todo o mundo.2

Os dados sobre a violência são imprecisos por subnotificação, pela falta de um sistema de registro único e pela diversidade de formas de apresentação social. No entanto, seu custo pode ser estimado em bilhões de dólares de despesas anuais com cuidados de saúde, acrescidos de outros bilhões relativos ao trabalho (por perdas, acidentes e absenteísmo) e à perda do investimento.

O presente artigo trata sobre a violência no microssistema com forma de abordagem direta à demanda do médico de família e comunidade (MFCmédico de família e comunidade). É preciso reconhecer que muitos MFCmédico de família e comunidades, na defesa da sua comunidade, devem inteirar-se de maneira mais aprofundada e com bibliografia específica das situações de violência coletiva (terrorismo, guerra, rebeliões e movimentos sociais urbanos específicos).

A partir da década de 1980, graças ao trabalho de um grande número de médicos, pesquisadores e sistemas da saúde, a área da saúde pública tem desempenhado um papel cada vez mais positivo a respeito da compreensão das raízes da violência e de sua prevenção.2

LEMBRAR

Não há um fator único capaz de explicar por que alguns indivíduos se comportam de forma violenta com outros ou por que a violência é mais comum em algumas comunidades do que em outras. Isso porque a violência resulta da complexa interação de fatores individuais, relacionais, sociais, culturais e ambientais. A compreensão de como esses fatores estão relacionados com a violência é um dos passos centrais na abordagem por parte da saúde pública para a prevenção da violência.2

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • reconhecer a demanda crescente de atendimento associado à violência na Atenção Primária à Saúde (APSAtenção Primária à Saúde);
  • distinguir a demanda associada à violência fora dos serviços de emergência;
  • reorganizar o conhecimento prévio sobre a violência, avaliando formas de detecção precoce no cotidiano e facilitando uma intervenção;
  • explicar a necessidade de qualificar a participação do MFCmédico de família e comunidade nas diversas instâncias do trabalho multidisciplinar;
  • identificar sinais e sintomas de violência apresentados, como queixas clínicas, que são a forma de acessar o serviço de saúde;
  • explicar a necessidade de trabalhar em equipe para lidar com a violência, mediante a sensibilização do MFCmédico de família e comunidade para que se responsabilize pela detecção, a notificação e o seguimento do caso;
  • detectar, de forma ágil, um caso de violência a fim de limitar o dano à vítima.

 

  • Esquema conceitual
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