Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer os processos envolvidos na fisiologia do ingurgitamento mamário (IM);
- discutir a anatomia e a fisiologia subjacentes à síntese e à secreção de leite materno;
- identificar o IM na lactante;
- diferenciar o IM fisiológico do IM patológico;
- delinear a intervenção de enfermagem com o uso do método kinesio taping (em inglês, kinesio taping method [KTM]) diante de lactantes com IM.
Esquema conceitual
Introdução
O IM na mulher lactante (que produz leite, que amamenta) tem sido amplamente estudado, no entanto, permanecem algumas lacunas a respeito, principalmente quanto a sua caracterização. Isso se deve à multiplicidade de sinais e sintomas que a mulher puérpera pode apresentar e a sua gravidade. Tal fato resulta na subvalorização dessa situação clínica, relacionada com a capacidade versus incapacidade dos enfermeiros e/ou de outros profissionais de saúde para sua identificação, que está associada à inexistência de um consenso mundial.1
A prevenção ou rápida resolução do IM é fundamental, uma vez que ele pode comprometer o sucesso da amamentação, levando ao desmame precoce e indesejado.2 As consequências disso são nefastas para a saúde da criança e da mãe em curto, médio e longo prazo. Do ponto de vista familiar, social e ambiental, esse fato também gera impactos que fundamentam o aprofundamento no tema.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por meio do programa mundial Baby Friendly Initiative, têm incentivado, empreendido e divulgado orientações facilitadoras do incremento do aleitamento natural.3–5 A despeito disso, ainda são observados inúmeros fatores que podem limitar a alimentação saudável desde o início de vida. Mesmo as famílias que pretendem alimentar naturalmente seus filhos se deparam com obstáculos de ordem pessoal, familiar ou social, muitas vezes, decorrentes do IM.
Diferentes estudos, conduzidos em vários países, documentam taxas variáveis de IM em mulheres que amamentam. Um trabalho com 50 mães, realizado na Amazônia, Brasil, demonstrou uma incidência de 13%,6 enquanto a pesquisa de Humenick e colaboradores7 resultou em um índice de 95%. Essa situação, como dito, pode condicionar a continuidade da amamentação, particularmente nas mulheres primíparas e com outros problemas associados, sejam maternos ou do recém-nascido (RN).
O IM na lactante tem potencial para comprometer a expectativa da mulher quanto ao seu projeto de amamentação. No estudo de Odom e colaboradores, tal comprometimento não foi superado por 10,9% das díades (mãe–criança), impelindo ao desmame em uma fase inicial da amamentação.2 Um estudo realizado na Indonésia, com 163 díades em aleitamento natural (materno), mostrou uma prevalência de IM de 53,4%. Esse fator aumentou o risco de suspensão do aleitamento materno exclusivo (AME) em 1,97. Às 12 semanas pós-parto, apenas 14,94% das mães mantinham o AME.8
Como visto, o IM parece ser uma das maiores dificuldades que a mulher que amamenta enfrenta, especialmente durante a primeira semana pós-parto. No entanto, a condição pode surgir na segunda semana (com diferentes padrões)7 e, menos frequentemente, até a oitava semana pós-parto.9
O KTM tem sido utilizado como recurso em diferentes condições de saúde. O método é muito divulgado entre atletas de alta competição e pessoas com alterações de saúde variadas. Mais recentemente, também foi aplicado a lactantes com IM por três grupos de pesquisadores.
O KTM, apesar de ainda pouco investigado, é inovador na área dos cuidados de saúde. Este capítulo abordará seu potencial para a aplicação de uma eventual proposta de intervenção complexa, integrando múltiplas atividades a serem implementadas em contextos complexos e interligadas a outras intervenções fundamentais para a resolução do IM, a fim de favorecer o bem-estar e a estabilidade da lactante.