Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir a morte súbita e inesperada (em inglês, sudden unexpected death in epilepsy [SUDEP]) e seus subtipos;
- estimar a magnitude da SUDEP (epidemiologia);
- descrever a fisiopatologia da SUDEP — o continuum neurocardiovascular;
- identificar os fatores de risco para SUDEP;
- reconhecer as técnicas de abordagem da SUDEP no consultório;
- indicar medidas de prevenção da SUDEP junto ao paciente.
Esquema conceitual
Introdução
A epilepsia é uma das condições neurológicas crônicas mais comuns na prática clínica, afetando cerca de 1% da população, o que representa aproximadamente 65 milhões de pessoas de todas as faixas etárias no mundo todo.1 O tratamento padrão é medicamentoso, requerendo o uso contínuo, muitas vezes, por toda a vida, de medicamentos anticrise (MACs); porém, aproximadamente 30 a 40% das pessoas com epilepsia (PCEs) não obtêm controle satisfatório das crises epilépticas, condição que define, portanto, as epilepsias farmacorresistentes. Esses indivíduos possuem maiores taxas de morbidade e mortalidade, incluindo morte prematura, em comparação à população geral.2
Apesar da prevalência e do impacto drástico à saúde, a maioria das PCEs e de seus familiares não é devidamente informada dos riscos da mortalidade prematura associada à epilepsia. Essa desinformação se deve não só ao desconhecimento da SUDEP pelos próprios profissionais da saúde, mas também ao receio ou à dificuldade de médicos em abordar o tema.3
Historicamente, os pacientes cardiológicos, sejam aqueles com doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca ou canalopatias, apresentam risco aumentado de mortalidade prematura e morte súbita. Dessa forma, um maior envolvimento da cardiologia com a epilepsia e a SUDEP é necessário, inaugurando uma nova fronteira, a cardioepilepsia, com o intuito de mitigar o elevado risco daqueles indivíduos.