- Introdução
A feminização da velhice é um fenômeno decorrente do envelhecimento das populações em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil. Dados do último censo brasileiro mostram que a proporção de mulheres com 60 anos ou mais passou de 4,7% da população total em 2000 para 6% em 2010.1
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua identificou que, em 2017, havia 30,2 milhões de idosos no País, dos quais 56% eram mulheres (16,9 milhões).2 Além de a proporção de mulheres idosas ser maior do que a de homens idosos, sua expectativa de vida também tem aumentado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2014, a expectativa de vida da mulher brasileira era de 78,8 anos, e estima-se que, em 2050, será na faixa de 90 a 95 anos.3
Com efeito, ao superar a mortalidade por problemas reprodutivos e crônicos de saúde, a população feminina ganha com o aumento da expectativa de vida.4 Entretanto, trata-se de um grupo de mulheres ainda com características que as colocam em posição de vulnerabilidade física, psíquica e social. Por viverem mais tempo, elas também têm maior probabilidade de apresentar:4–6
- condições crônicas de saúde;
- incapacidades;
- declínio cognitivo;
- autoestima baixa.
No Brasil, grande parte das mulheres em processo de envelhecimento possui baixa renda e escolaridade, com qualificação profissional deficiente, além de ser mais dependente de familiares e de serviços sociais do que pessoas de outra faixa de idade. Elas sofrem com as desigualdades sociais, políticas e econômicas, assim como com a discriminação.4–6
Essas mulheres são vítimas mais frequentes da violência doméstica e de discriminação no acesso a educação, salário, alimentação, trabalho significativo, assistência à saúde, heranças, medidas de seguro social e poder político.7
Mais anos de vida trazem às idosas maiores possibilidades de enviuvar, sobreviver aos amigos, viver sozinhas e sentir solidão. A elas, em geral, cabe a tarefa de cuidar dos pais que se tornaram dependentes e, não raro, dos netos quando seus filhos precisam dessa ajuda.4,6
O envelhecimento populacional fez com que aumentassem as demandas por serviços sociais e de saúde para as pessoas mais velhas. Todavia, por mais que a atenção à saúde dos idosos deva ser uma preocupação dos profissionais de saúde, é necessário um olhar mais atento às especificidades do envelhecer das mulheres.8
A enfermagem tem o compromisso com essas pessoas, considerando suas ações não somente para as mulheres mais velhas de hoje (idosas de 60 anos ou mais), mas de igual modo para aquelas que serão idosas no futuro (as de meia-idade com 40 a 59 anos).8
Para todas as pessoas, o envelhecimento deve ser um aspecto a ser considerado ao longo do curso da vida. Nesse sentido, deve ser saudável, um “processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que permite o bem-estar na idade avançada”.9
Nessa perspectiva, o envelhecimento das mulheres deve ser considerado um processo ativo de busca por oportunidades de vida saudável, participativa e segura, assim como de aprendizado das coisas e das situações que lhes são ofertadas enquanto vivem. É essencial que enfermeiros se envolvam nesse processo ofertando assistência em todos os níveis de atenção, em especial no da atenção básica.
Neste capítulo, serão abordados aspectos da avaliação da saúde de mulheres em processo de envelhecimento para os quais os enfermeiros devem atentar, com vistas a identificar e avaliar suas necessidades de saúde, tendo como foco o envelhecimento saudável.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer a importância da avaliação da saúde das mulheres em processo de envelhecimento para a promoção do envelhecimento ativo e saudável;
- identificar as necessidades de saúde das mulheres em processo de envelhecimento por meio da avaliação multidimensional.
- Esquema conceitual
