- Introdução
“Não pode haver cura sem cuidar, mas o cuidar pode existir sem a cura”.1
No campo da saúde, o conceito de cuidar apresenta-se como polissêmico, complexo e multidisciplinar. Na enfermagem, configura-se como o eixo central orientador das dimensões estabelecidas no trabalho do enfermeiro. Ao refletir sobre sua especificidade no cuidado de enfermagem com os idosos, identificam-se diferentes definições, as quais exploram várias perspectivas que se complementam.
Na reflexão sobre o cuidar, adota-se a concepção de Madeleine Leininger, para quem o cuidado é o que torna as pessoas humanas, conferindo-lhes dignidade, inspirando-as a ficarem bem e a ajudar os outros.1,2
Ao desenvolver a teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural, Leininger definiu o cuidar como sendo as ações e atividades dirigidas para a assistência, o apoio ou a capacitação de outro indivíduo ou grupo com necessidades evidentes ou antecipadas, para melhorar uma condição humana ou forma de vida ou para encarar a morte.1,2
No campo das práticas da enfermagem, defende-se a existência de uma dimensão cultural, pela qual o enfermeiro busca evitar que o cuidado seja apenas empírico ou tecnicista, alcançando um processo fundamentado em referências teóricas próprias e evidências científicas.3
Assumir a tarefa de cuidar de idosos dependentes no ambiente domiciliar desponta como um fenômeno crescente na sociedade brasileira, principalmente nas últimas décadas, em decorrência do aumento acelerado da população idosa.4,5
Na cultura brasileira, o cuidado dos idosos é considerado um dever da família, embora esta, por vezes, não apresente preparação, conhecimento ou suporte adequados para desempenhar esse papel.4,5
A tarefa de cuidar de um idoso em contexto domiciliar provoca repercussões na vida cotidiana do familiar cuidador, acarretando dificuldades de ordem emocional, física, econômica e social, com consequente risco a sua saúde e seu bem-estar.6
Estudiosos do campo da gerontologia descrevem que é preciso oferecer condições adequadas, como infraestrutura e suporte, para que a família exerça de forma apropriada o papel de cuidar de idosos dependentes.7,8,9
Essa realidade tem requerido a formação de enfermeiros com competências e habilidades para apoiar as famílias e os indivíduos em seu processo de envelhecimento na comunidade, com intervenções específicas que os ajudem a manter a funcionalidade no domicílio e contribuam para o enfrentamento dos desafios quando demandarem a atenção pelo sistema de saúde.
No caso de prestar assistência e oferecer suporte a familiares que desempenham o papel de cuidadores de idosos dependentes, o enfermeiro precisa desenvolver ações de cuidado tomando como ponto de partida as concepções e vivências desses pacientes. Em vez de dar ênfase unicamente às respostas a tratamentos ou doenças com as quais o idoso convive, por meio de um olhar ampliado, deve considerar o binômio idoso–cuidador, com as experiências de cuidar oriundas da cultura em que se encontram inseridos.3,10
Com essas considerações, este capítulo apresenta a contribuição da teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural de Madeleine Leininger, destacando-se os modos de decisão e as ações de enfermagem com a coparticipação do cliente. O conteúdo apresentado apoia-se nas experiências de cuidadores familiares ao cuidarem de idosos dependentes, ressaltando-se as potencialidades e as fragilidades identificadas por eles, considerando-se o contexto cultural em que vivenciam essa função.
O conteúdo deste texto, além do referencial da teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural de Madeleine Leininger, tem como base o estudo do fenômeno “o contexto de vida e a experiência de cuidar de idosos dependentes, no ambiente domiciliar, por familiares cuidadores, que apresentam sobrecarga e desconforto emocional”, o qual foi objeto de investigação em dissertação de mestrado.3,11
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer a importância da utilização de teorias de enfermagem na prática profissional;
- descrever a teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural de Madeleine Leininger;
- identificar potencialidades e fragilidades no contexto do cuidado familiar a idosos dependentes;
- estabelecer a relação entre a teoria do cuidado cultural e a assistência de enfermagem ao idoso, ao cuidador e à família.
- Esquema conceitual