- Introdução
A restrição de crescimento fetal intrauterino (RCIUrestrição de crescimento fetal intrauterino) é a falha que o feto apresenta em alcançar seu potencial de crescimento pleno.
O diagnóstico genérico de pequeno para a idade gestacional (PIGpequeno para a idade gestacional) é realizado com base no peso fetal estimado (PFEpeso fetal estimado) abaixo de um determinado limite, mais comumente o percentil 10. Apesar de não ser ideal, essa classificação permite identificar um subgrupo de gestações de alto risco fetal que apresenta piores resultados perinatais.
A identificação de gestações de alto risco fetal possibilita prevenir os casos de morte fetal intrauterina, lesão cerebral perinatal e sofrimento fetal intraparto grave.1
Atualmente, observa-se que quando são utilizados os parâmetros tradicionais de avaliação fetal com tomadas de decisão baseadas nos referidos achados não é possível diminuir as mortes fetais de mau desfecho perinatal abaixo de um certo nível, com uma expressiva predominância de mortes periparto — que, em tese, seriam passíveis de diagnóstico pré-natal. Essa constatação provocou uma mudança de estratégia no diagnóstico do feto PIGpequeno para a idade gestacional e nas condutas a serem tomadas perante esse diagnóstico.
Nesse contexto, destacam-se dois grupos muito fortes em produções científicas na área de medicina fetal na atualidade, que são o grupo de Barcelona, liderado pelo Prof. Dr. Eduardo Gratacós, e o grupo de Maryland, do Prof. Dr. Armed Baschat. Essa nova perspectiva da RCIUrestrição de crescimento fetal intrauterino foi corroborada em um consenso que reuniu diversos profissionais de todo o mundo por intermédio de um Delphi Procedure, coordenado pelo Prof. Dr. Gordijn, da Holanda, em 2016.2
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- diferenciar o feto com crescimento restrito normal do patológico;
- comparar as tabelas de peso fetal existentes e seu impacto sobre o diagnóstico correto do crescimento fetal restrito;
- comparar a classificação clássica da restrição de crescimento intrauterino com a classificação atual;
- abordar o uso da dopplervelocimetria materno-fetal nos casos de fetos com crescimento restrito;
- conceituar a razão cerebroplacentar e compreender sua aplicabilidade na restrição de crescimento intrauterino;
- diferenciar os riscos fetais associados à restrição de crescimento de início precoce daquela de início tardio;
- explicar as recomendações atuais referentes ao momento de interrupção da gestação nos casos de restrição de crescimento intrauterino;
- contextualizar a situação brasileira com a nova proposta de investigação e manejo do feto com crescimento restrito.
- Esquema conceitual