Introdução
A insuficiência cardíaca (IC), que é a fase final comum das cardiopatias, em função do envelhecimento da população, é uma síndrome cada vez mais frequente que evolui com elevada morbidade e mortalidade nas formas avançadas.1,2
O tratamento da IC, como muitos outros na cardiologia, é fundamentado na medicina baseada em evidências, principalmente nos estudos randomizados. Durante anos, o tratamento não foi modificado e se baseava no bloqueio neuro-hormonal, que continua eficaz, sendo, ainda, nos dias de hoje, a base do tratamento da IC. Assim, tem comprovada eficiência o bloqueio neuro-hormonal tríplice, com um bloqueador do sistema renina-angiotensina — inibidor da enzima conversora da angiotensina (IECA) ou um bloqueador dos receptores da angiotensina (BRA) —, um antagonista dos receptores mineralocorticoide (ARM) e um betabloqueador (BB).1,2
Apesar de bem fundamentado o bloqueio neuro-hormonal tríplice, muitos médicos não o utilizam como as diretrizes recomendam, isto é, não o prescrevem nas doses que tiveram sua eficácia comprovada nos ensaios clínicos randomizados. Na prática clínica, são prescritos, com frequência, em doses inferiores às recomendadas, o que leva seu benefício a ser inferior ao desejado.3 Doses baixas nunca tiveram sua eficácia comprovada.
Contribuem, para a subprescrição, o quadro clínico dos pacientes muitos hipotensos e idosos, e a necessidade de se prescrever doses elevadas dos IECAs e BBs, as quais não são usuais para a maioria dos clínicos, mas que, talvez, sejam a principal causa do receio do clínico em promover efeitos colaterais aos pacientes com sua prescrição.3,4 Outro possível motivo para não se atingir as doses de eficácia comprovada pode ser a falta de metas no tratamento da IC.
O tratamento das dislipidemias e da hipertensão arterial tem metas bem definidas e, quando não são atingidas, sabe-se que o tratamento deveria ser implementado para se obter os melhores resultados.5 Para a IC, busca-se a melhora dos sintomas ou o atingimento das doses prescritas nos ensaios clínicos, orientação que não tem se mostrado um bom guia de eficácia de tratamento.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever as mais recentes novidades do tratamento da IC;
- reconhecer a importância de prescrever corretamente os medicamentos utilizados no tratamento da IC;
- explicar as orientações das diretrizes para o tratamento da IC.