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PENSAMENTO COMPLEXO E SUAS REPERCUSSÕES NA GERÊNCIA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM

Lucilane Maria Sales da Silva

Jéssica Costa Brito Pacheco Moura

Maria Verônica Sales da Silva

Ana Izabel Bezerra Cavalcante

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Introdução

Na saúde e, consequentemente, na enfermagem, toda prática e ação estão baseadas em determinada forma de pensar. O paradigma que mais tem dominado essa área tem sido o mecanicista, conhecido também como paradigma cartesiano, cujas linhas essenciais datam do século XVII. Para a visão mecanicista, tudo pode ser controlado de forma racional; o que acontece possui uma causa definida e gera um efeito definido.1

As características fundamentais do paradigma mecanicista são:

 

  • mecanicismo — parte da concepção de que o universo, a natureza, o homem são governados por leis matemáticas exatas, como se fossem máquinas;
  • empirismo — o conhecimento, para ter valor científico, precisa ser construído a partir de fatos concretos, que possam ser percebidos pelos sentidos e que sejam passíveis de serem medidos e quantificados;
  • determinismo — a evolução dos fenômenos pode ser determinada uma vez que se conheçam as leis que os causam;
  • fragmentação — o objeto de estudo pode ser decomposto em partes ou componentes, perdendo-se, muitas vezes, a visão do todo;
  • reducionismo — permite a perda da visão sistêmica e complexa dos processos;
  • dicotomia — estabelece a separação entre mente e corpo, sujeito e objeto, ser humano e natureza, razão e intuição.

Na tentativa de superar o mecanicismo, a compreensão do conceito de saúde deve estar relacionada aos determinantes sociais, econômicos, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos. Assim, saúde é um fenômeno complexo que pode ser explicado a partir de várias perspectivas teóricas, conforme o surgimento de novos paradigmas, entre eles o paradigma da complexidade.

Nesse contexto, a enfermagem, enquanto ciência e profissão da área da saúde, ampara-se em referenciais teóricos e conceitos que embasam seu fazer e sua forma de pensar o mundo e o cuidado. Entre esses referenciais, o pensamento complexo é um dos que podem explicar e conduzir sua prática na gerência do cuidado de enfermagem.

A teoria da complexidade tem como seu representante Edgar Morin. Nascido em Paris, em 1921, formou-se em história, geografia e direito e, posteriormente, migrou para a filosofia, a sociologia e a epistemologia. É considerado um dos mais importantes pensadores do século XX.2

Complexus significa o que foi tecido junto; há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. O pensamento complexo caracteriza-se por uma formação voltada a uma compreensão multidimensional.2

Para ajudar a pensar na complexidade, Morin apresenta três princípios: dialógico, recursivo e hologramático.2

Morin faz uma reelaboração do conceito de sistemas e indica a superação de alguns conceitos clássicos como uma evolução rumo ao paradigma da complexidade. De uma relação linear de causa-efeito determinista, passam-se a considerar relações recíprocas que condizem com a auto-organização e o dinamismo do sistema. Assim, a gerência do cuidado de enfermagem, na linha do pensamento complexo, deve superar:3

 

  • o reducionismo, que busca compreender o todo com base nas descrições das partes;
  • o holismo, que apresenta vertente totalizante e simplificadora, pois reduz o que é por natureza complexo a uma única instância-chave (o todo), terminando por negligenciar as partes;
  • o hierarquismo, pois impõe uma precedência unilateral do todo sobre as partes, por meio de sistemas que englobem sistemas, entre outros.

Neste capítulo, é abordada a gerência do cuidado de enfermagem contextualizada com a abordagem teórica da complexidade, no intuito de compreender todo o processo que envolve e explica o papel do enfermeiro na gerência do cuidado no cenário hospitalar e da atenção primária à saúde (APS).

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • considerar o pensamento complexo e seus princípios como a dimensão ontológica da gerência do cuidado e sua abrangência na práxis da enfermagem;
  • analisar a repercussão do pensamento complexo na gerência do cuidado de enfermagem;
  • descrever o papel do gestor de enfermagem que tem sua práxis orientada pelo pensamento complexo;
  • refletir sobre o papel gerencial e a atuação do enfermeiro pautada na complexidade para a área de atuação hospitalar e atenção primária.

Esquema conceitual

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