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PESQUISA NASCER NO BRASIL: ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NA MUDANÇA DO MODELO DE ASSISTÊNCIA AO PARTO E NASCIMENTO

Silvana Granado Nogueira da Gama

Edymara Tatagiba Medina

Sabrina Lins Seibert

Ricardo José Oliveira Mouta

epub-BR-PROENF-SMN-C13V2_Artigo3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • contextualizar a pesquisa Nascer no Brasil;
  • descrever os principais achados da pesquisa na gravidez e no pré-natal, no pré-parto e na assistência ao parto e ao recém-nascido (RN);
  • apontar os possíveis caminhos para a utilização de boas práticas em saúde e destacar as contribuições da enfermagem obstétrica na consolidação do modelo humanizado e desmedicalizado na atenção ao parto e nascimento.

Esquema conceitual

Introdução

A pesquisa Nascer no Brasil — inquérito nacional sobre parto e nascimento, coordenada pelo grupo de pesquisa de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — contou com a participação de pesquisadores de várias instituições científicas do País. A finalidade foi conhecer a atenção ao pré-natal, ao parto, ao nascimento e ao puerpério no Brasil, assim como estimar a prevalência da prematuridade e a incidência de complicações clínicas imediatas ao parto e pós-parto, tanto em mães quanto em RNs, além de verificar a prevalência de morbidade materna grave (near miss materno) e morbidade neonatal grave (near miss neonatal).1,2

Os dados da pesquisa foram coletados em 266 hospitais de 191 municípios, incluindo capitais e algumas cidades do interior de todos os estados do Brasil. Apresentou como amostra 23.894 mulheres e seus bebês em estabelecimentos públicos de saúde, conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), e estabelecimentos privados, que realizaram mais de 500 partos por ano, entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012.3

Nas questões relacionadas com a assistência ao parto, a pesquisa mostrou que as mulheres estão expostas aos riscos de iatrogenia no parto, principalmente pelo excesso de intervenções prejudiciais e∕ou desnecessárias. As mulheres de grupos socioeconômicos mais altos estão mais propensas a sofrer os efeitos adversos do uso da tecnologia médica. Já as mulheres socioeconomicamente desfavorecidas foram mais expostas à utilização de procedimentos dolorosos, mas esse grupo teve mais acesso às boas práticas no trabalho de parto e parto, pela maior participação dos enfermeiros/enfermeiros obstétricos na assistência ao parto.1,3

Os enfermeiros obstétricos destacam-se na consolidação do modelo humanizado, principalmente pela desmedicalização da atenção à mulher como eixo norteador do processo de cuidar, respeitando a fisiologia feminina e valorizando a autonomia das mulheres na perspectiva das tecnologias não invasivas de cuidado de enfermagem obstétrica (TNICEOs).4–6

As TNICEOs são conhecimentos estruturados, desenvolvidos e utilizados por enfermeiros obstétricos, para oferecer outras possibilidades às mulheres no momento do parto e nascimento.4–6

Cabe salientar que as TNICEOs estão relacionadas com uma assistência obstétrica segura, de qualidade e com resultados maternos e neonatais amplamente favoráveis em comparação às práticas da modalidade medicalizada. Esse tipo de tecnologia envolve mudanças de atitude na relação com as mulheres por meio do estabelecimento de vínculo de confiança com o enfermeiro obstétrico, na qual os profissionais desempenham um papel coadjuvante e percebem o cuidado como uma construção compartilhada que estimula o empoderamento feminino.6,7

Assim, com a utilização de TNICEOs, o enfermeiro obstétrico promove a humanização da assistência ao parto e nascimento, respeitando as mulheres, além de proporcionar um ambiente satisfatório para o cuidado centrado nelas. Esse cuidado está relacionado com as boas práticas ao parto e ao nascimento, preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo uso de evidências científicas, com o intuito de resgatar o protagonismo da mulher no cenário obstétrico.7–9

A incorporação das boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento foi reforçada pelo Ministério da Saúde (MS) por meio da política indutora denominada Rede Cegonha, instituída em 2011, em que foram estabelecidas novas pactuações, com ações mais enfáticas para a mudança paradigmática do modelo de assistência ao parto, como capacitação profissional, principalmente formação e qualificação de enfermeiros obstétricos, ampliação da cobertura pré-natal, implementação do acolhimento e classificação de risco no pré-natal e nas maternidades, estímulo à reestruturação de ambiências de maternidade, para adequação às recomendações da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 36, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).10,11

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