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PLANEJAMENTO DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA APOIO À SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Autores: Aida Maris Peres, Danielle Borges Fogliatto, Taynara Lourenço de Souza, Rucieli Maria Moreira Toniolo , Isabeli Chevonik
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • identificar os elementos que contribuem para a organização da assistência de enfermagem e para o processo de ensino-aprendizagem da Sistematização da Assistência de Enfermagem;
  • reconhecer o suporte técnico-científico ao enfermeiro por meio de ferramentas que sustentam e direcionam a Sistematização da Assistência de Enfermagem;
  • descrever modelos de planejamento de educação permanente em saúde para o desenvolvimento de competências do enfermeiro para a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem.

Esquema conceitual

Introdução

Neste capítulo, a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é abordada como um processo de ensino-aprendizagem, utilizando-se do campo da educação permanente em saúde (EPS) para a compreensão dessa lógica. Isso porque há possibilidades, durante a aplicabilidade da SAE, de uma elevada produção de conhecimento, que se mobiliza por meio da realidade, da experiência vivida e de ações realizadas mediante os problemas enfrentados pelos profissionais da enfermagem em seu cotidiano.

Afirma-se, portanto, que, para a atualização que dá suporte à transformação profissional, a EPS é uma estratégia político-pedagógica. Como tal, ela pode contribuir para a prática gerencial por meio da aprendizagem no trabalho, que incorpora o ato de aprender e ensinar no cotidiano do labor como um espaço de discussão e ressignificação do conhecimento, contrapondo-se à restrição de transferência do conhecimento, relacionada exclusivamente às normas e aos protocolos.1

Para tanto, neste capítulo, pretende-se demonstrar a importância da formação permanente e do desenvolvimento contínuo dos trabalhadores de enfermagem em relação à SAE. Assim, a constância dos componentes que a constituem, no tocante à educação e ao trabalho, permitem que se eduque com foco na organização da assistência e do cuidado em saúde.

Por decorrência das suas particularidades, a SAE torna-se uma importante ferramenta de gestão para o enfermeiro. Essa afirmação é sustentada pela Resolução Cofen nº 358/2009, que a define como o modo de organizar o trabalho da enfermagem quanto ao método, ao pessoal e aos instrumentos, para tornar possível a operacionalização do processo de enfermagem (PE).2

Nesse sentido, para além da necessidade de conhecimentos, habilidades e atitudes do profissional enfermeiro, deve-se ter o discernimento de que a SAE não pode ser realizada isoladamente; logo, são necessários uma equipe completa em números, apoio do ambiente hospitalar, utilização de formas de registros e protocolos adequados para sua aplicação, comprometimento de todos os profissionais de enfermagem e respeito dos demais profissionais de saúde.3 Contudo, além das competências já citadas, cabe ao enfermeiro que aplica a SAE entendimento e sólido embasamento teórico de sua aplicação em seu ambiente de trabalho.

Com a aplicação da SAE de modo conciso e científico, o usuário/paciente pode ser beneficiado direta e indiretamente de várias maneiras. Quando a confiança entre cuidado e cuidador é potencializada, torna-se possível realizar uma coleta de dados substancial para a efetivação de planos de ação, identificar sinais e sintomas, remover empirismos, abrir caminhos para novos diagnósticos e prognósticos e, consequentemente, manter-se em consonância com os princípios do Código de Ética da profissão, proporcionando maior segurança profissional.4

Da mesma forma, o serviço em que a SAE é aplicada também é beneficiado. A realização competente do planejamento do cuidado gera menos custo ao utilizar apenas o necessário para o cuidado do paciente, como insumos, medicamentos ou afins, impactando a melhoria operacional, a rotatividade de leitos, o tempo médio de internação,5 entre outros indicadores institucionais.

Embora existam diversas potencialidades na aplicação da SAE para o cuidado que já foram relatadas, alguns fatores ainda influenciam na sua implantação e continuidade, como dificuldades para a aplicação da SAE em sua totalidade, deficiências do ensino na formação do enfermeiro, falta de recursos humanos, físicos e materiais, tempos diferentes entre planejamento e execução devido à burocracia, falta de apoio institucional e dificuldades gerenciais somadas ao acúmulo de tarefas não inerentes à função, não cumprimento de indicadores, desinteresse do enfermeiro, alto fluxo de substituição de profissionais, raciocínio clínico e diagnóstico insuficiente e, por fim, falta do despertar para a essência do modelo sistemático, mantendo as lacunas, resistências e dificuldades para sua implementação.6

Para garantir tal inserção, a participação ativa do responsável institucional pela enfermagem nos setores em que a SAE está sendo implementada transmite apoio ao enfermeiro, que, por sua vez, ao ressignificar a importância do cuidado, dá visibilidade aos resultados para a instituição por meio dos indicadores que seu trabalho promove com a aplicação da SAE. Tais indicadores podem gerar respaldo e autonomia, ampliar a visibilidade profissional, diminuir os custos, melhorar o dimensionamento de pessoal, entre outros benefícios.7

Consequentemente, enquanto a comunicação escrita e a implementação da SAE de maneira integral forem negligenciadas pelos profissionais, com registros incompletos e escassos, a comunicação entre os profissionais de enfermagem e os demais profissionais da área da saúde continuará sendo afetada, e a SAE como ferramenta de independência do cuidado não será reconhecida por colegas, instituições, sistema público, planos de saúde e população em geral.7

As dificuldades e as potencialidades para a realização da SAE apresentadas até aqui suscitam algumas reflexões e, junto delas, desafios relacionados às contribuições teóricas que apoiam a prática profissional da enfermagem. A partir desse contexto, surgiu a necessidade de apresentação de modelos de planejamento para EPS que sejam viáveis para instrumentalizar enfermeiros no desenvolvimento de competências sobre o assunto, tendo em vista a importância da SAE para a organização do trabalho e a autonomia da enfermagem.

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