Introdução
A insuficiência cardíaca (IC) é uma doença grave, com morbidade e mortalidade elevadas, maiores que as de muitas formas de câncer se a IC não for tratada adequadamente.1 É importante ressaltar que, na maioria das vezes, com a internação hospitalar, o paciente tem uma rápida melhora dos sinais e sintomas da IC e tem alta, em média, com cinco dias.2
A internação hospitalar é um marcador independente de gravidade e prognóstico da IC e implica uma mudança fundamental no seu curso clínico, aumentando em 20 a 30% o risco de morte em 1 ano. Assim, um dos objetivos da hospitalização deve ser não apenas a melhora dos sintomas, mas definir um plano de otimização do tratamento objetivando evitar a reinternação e aumentar a sobrevida.2
Os dados relacionados ao conceito de IC, sua definição e estágios, classificação (pela fração de ejeção [FE] e de acordo com a gravidade e a progressão da doença), aspectos diagnósticos (clínico e por exames complementares), bem como aspectos epidemiológicos (no Brasil e no mundo), já foram abordados. Da mesma forma, as recomendações para o manejo do paciente durante o período da internação3,4 e os cuidados que se deve ter para diminuir o período de internação, já foram abordados.
O propósito deste capítulo é propiciar ao leitor, ao final da leitura, uma visão bastante clara sobre o moderno manejo da IC, enfatizando as considerações específicas sobre o período que se inicia com a alta hospitalar, seja ela motivada por um primeiro episódio de IC (IC nova), seja por uma reinternação (piora de IC prévia).
A menos que seja especificamente mencionado, as recomendações aqui contidas referem-se à insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr). Os aspectos específicos da insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp) serão tratados em outra publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- desenvolver uma visão clara sobre o moderno manejo da IC, desde a busca inicial por um fator etiológico e seu eventual tratamento, até o uso judicioso e fundamentado das alternativas farmacológicas e não farmacológicas, que tem demonstrado impacto na sobrevida;
- reconhecer a importância da conscientização de forma clara ao paciente e aos familiares (cuidadores) sobre a gravidade IC, do seu significado clínico, do seu curso evolutivo e do seu prognóstico;
- inferir a importância fundamental da aderência ao tratamento da IC como fator essencial de sucesso, com envolvimento integral do paciente;
- ressaltar a importância de que, após a alta hospitalar, o paciente deve ter um serviço ao qual recorrer, tanto para o seu acompanhamento como para auxiliá-lo sempre que ele perceba que esteja ocorrendo uma progressão dos sintomas da IC;
- identificar a necessidade de que o paciente com IC esteja bem informado quanto aos sinais e sintomas de piora clínica, propiciando-lhe acesso fácil e imediato ao profissional/serviço envolvido no seu tratamento.