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PÓS-OPERATÓRIO DA CIRURGIA BARIÁTRICA: A QUE O PSIQUIATRA PRECISA ESTAR ATENTO

Autor: Marcelo Papelbaum
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  • Introdução

A prevalência de obesidade vem crescendo ao longo dos últimos anos e é considerada uma epidemia, segundo o Centres for Disease Control and Prevention (CDCCentres for Disease Control and Prevention).1 Estima-se, por exemplo, que mais de 50% da população americana seja obesa. Essa tendência tem sido observada no Brasil e é considerada um problema de saúde pública. A pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)2 observou um aumento no percentual de pessoas acima de peso entre 2006 e 2011 de 42,7% para 48,5%. Da mesma forma, houve um crescimento na proporção de pessoas obesas de 11,4% para 15,8% no mesmo período. Em 2016, a taxa encontrada foi de 18,9%.

Além dos aspectos multifatoriais relacionados com a obesidade, a baixa eficácia dos tratamentos convencionais (mudanças de estilo de vida, orientações nutricionais e tratamento farmacológico), sobretudo na manutenção do peso,3 tem contribuído para o aumento da prevalência da obesidade. Consequentemente, tem-se observado um aumento significativo na realização de cirurgias bariátricas (CBcirurgias bariátricas) ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBMSociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) indicam que foram realizadas 105.642 cirurgias no ano de 2017 no País, ou seja, 5,6% a mais do que em 2016, o que representa um aumento de 46,7% entre 2012 e 2017.4

Em função do grande número de procedimentos bariátricos e da importância de um bom funcionamento psicossocial no seguimento pós-operatório e das orientações clínicas e nutricionais, diversos estudos procuraram avaliar a saúde mental dessa população. De uma forma geral, a população obesa candidata à CBcirurgias bariátricas apresenta prevalência elevada de comorbidades psiquiátricas, com taxas que podem variar entre 36,8 e 72,6%.5

Em uma metanálise, Dawes e colaboradores encontraram taxas de depressão (19%), ansiedade (12%) e ideação suicida (9%) maiores do que as encontradas na população em geral.4 Além disso, indivíduos candidatos à realização da CBcirurgias bariátricas costumam apresentar taxas elevadas de transtornos alimentares e comportamentos alimentares alterados, com prevalências maiores do que as encontradas na população geral ou mesmo entre pacientes em tratamento clínico para obesidade.6

Desde o National Institute of Health Consensus Conference Development Panel,7 realizado em 1991, existe a recomendação de equipe multidisciplinar no tratamento cirúrgico da obesidade mórbida. Atualmente, cerca de 80% dos programas de CBcirurgias bariátricas americanos adotam algum tipo de avaliação psicossocial. O objetivo primário dessa avaliação é o de prover o rastreamento e a identificação de fatores de risco ou desafios potenciais pós-operatórios que possam contribuir para um desfecho pós-operatório ruim. Além disso, serve para obter informações que podem ser repassadas aos outros profissionais da equipe multidisciplinar que estarão acompanhando o paciente no pré e pós-operatório da CBcirurgias bariátricas.8

A despeito da avaliação psicológica e/ou psiquiátrica pré-operatória, aspectos psiquiátricos relacionados com o pós-operatório da CBcirurgias bariátricas têm sido considerados fatores de risco na manutenção do peso ou na ocorrência de complicações clínicas pós-operatórias. Além disso, o manejo de condições psiquiátricas após a cirurgia apresenta particularidades que devem ser consideradas. Dessa forma, o profissional de saúde mental deve estar atento no seguimento do paciente bariátrico, de forma a preservar tanto o sucesso cirúrgico como o bem-estar psíquico do paciente.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • discorrer acerca da história natural dos transtornos psiquiátricos no pós-operatório da CBcirurgias bariátricas;
  • inferir sobre o impacto da presença de psicopatologia geral e/ou alimentar nos desfechos clínicos da CBcirurgias bariátricas;
  • sistematizar a avaliação e conduta de condições psiquiátricas, considerando as particularidades envolvidas nos cuidados pós-operatórios da CBcirurgias bariátricas.
  • Esquema conceitual
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