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PSICONEUROIMUNOENDOCRINOLOGIA DAS DOENÇAS AFETIVAS

Autor: Mario Francisco Juruena
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  • Introdução

Um problema chave do diagnóstico em psiquiatria é o fato de que os elaborados sistemas de classificação hoje existentes baseiam-se somente em descrições subjetivas dos sintomas. Tal fenomenologia detalhada inclui a descrição de múltiplos subtipos clínicos; no entanto, não há uma característica biológica que diferencie um subtipo do outro.

Uma variedade de transtornos pode exibir sintomas clínicos semelhantes e um mesmo transtorno pode se manifestar de forma distinta em pessoas diferentes. Assim, uma abordagem de pesquisa que descreva achados neurobiológicos confiáveis, com base na síndrome psicopatológica, seria mais consistente do que um sistema não etiológico de classificação. Um futuro sistema de critérios diagnósticos, em que a etiologia e a fisiopatologia sejam essenciais na tomada de decisões diagnósticas, colocaria a psiquiatria mais próxima de outras especialidades médicas.

A relação entre o estresse e a enfermidade é um forte exemplo de uma área de estudo que pode ser mais bem compreendida a partir de uma perspectiva integradora, o potencial de um enfoque integrador para contribuir com as melhorias.1 Essa abordagem mostra, muito claramente e sem nenhuma dúvida, que as causas, o desenvolvimento e o prognóstico dos transtornos são determinados pelas interações de fatores psicológicos, sociais e culturais com a bioquímica e a fisiologia.

A bioquímica e a fisiologia não estão desconectadas e nem estão isoladas do restante das experiências e dos eventos de vida do indivíduo.

Esse sistema está baseado nos estudos atuais, que relataram que o cérebro e seus processos cognitivos funcionam em extraordinária sincronia. Consequentemente, hoje é possível aceitar o complexo cérebro-corpo-mente quando se sabe que os três sistemas – neurológico, endócrino e imune – possuem receptores em células críticas que podem receber informação (via moléculas mensageiras) de cada um dos outros sistemas. O quarto sistema, a mente (nossos pensamentos e sentimentos e nossas crenças e esperanças), é a parte do funcionamento do cérebro que integra o paradigma da psiconeuroimunoendocrinologia.

A interação corpo-mente, um funcionamento explícito do cérebro, é crítica para a manutenção da homeostase e do bem-estar.1 Hoje, é amplamente aceito que o estresse psicológico pode alterar o estado homeostático interno de um indivíduo. Durante o estresse agudo, ocorrem respostas fisiológicas adaptativas, incluindo o aumento da secreção adrenocortical de hormônios, principalmente de cortisol. Sempre que existe uma interrupção aguda desse equilíbrio, a enfermidade pode sobrevir.

Merecem especial interesse e, neste artigo, serão revisados:

 

  • o estresse psicológico (estresse na mente);
  • o estresse precoce;
  • as interações dos sistemas neurológico, endócrino e imune.

Os ambientes sociais e físicos têm um enorme impacto na fisiologia e no comportamento do indivíduo e influenciam o processo de adaptação, ou “alostase”.2 Ao mesmo tempo, as experiências alteram o cérebro e os pensamentos, isso é, modificam a neurobiologia. Essa ação do cérebro é a primeira linha de defesa do corpo contra a enfermidade, contra o envelhecimento e a favor da saúde e do bem-estar.

Os genes, o estresse precoce, as experiências na vida adulta, o estilo de vida e as experiências de vida estressantes contribuem com a forma pela qual o corpo se adapta a um meio ambiente mutável, e todos esses fatores ajudam a determinar o custo para o corpo – ou a “carga alostática”.

A interação entre o comportamento, a neurobiologia e o sistema endócrino, que pode resultar em imunossupressão, é a descoberta mais interessante na medicina atual, e suas implicações são importantes para a prevenção e o tratamento das doenças somáticas.3

  • Objetivos

Após a leitura deste artigo, o leitor será capaz de:

 

  • comparar o papel dos fatores genéticos e ambientais na etiologia das doenças afetivas recorrentes;
  • analisar as evidências relativas à correlação entre doenças afetivas e alterações psiconeuroimunoendócrinas no estresse;
  • discutir as teorias que dizem respeito à prevenção ou à reversão das consequências do estresse;
  • explorar a importância dos novos conceitos apresentados para as diretrizes de tratamento.
  • Esquema conceitual
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