Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- compreender a importância e a prevalência das queimaduras e lesões térmicas em departamentos de emergência;
- identificar os principais aspectos clínicos associados às queimaduras e lesões térmicas;
- reconhecer os principais achados em exames complementares de queimaduras e lesões térmicas;
- definir as abordagens terapêuticas iniciais e subsequentes para queimaduras e lesões térmicas;
- identificar as complicações mais comuns relacionadas às queimaduras e lesões térmicas.
Esquema conceitual
Introdução
As queimaduras e lesões térmicas representam um motivo significativo de visitas aos departamentos de emergência no mundo todo. No Brasil, estima-se que, anualmente, milhares de pessoas buscam atendimento médico devido a essas lesões.1 A gravidade pode variar de lesões leves a quadros críticos, com consequências que vão além da pele e que podem afetar sistemas orgânicos completos.
Importância e prevalência
No mundo, as queimaduras são a quinta causa mais comum de mortes não intencionais, resultando em mais de 300 mil mortes anualmente.2 No Brasil, os dados mostram uma prevalência significativa, sobretudo em populações pediátricas e idosas, que são mais vulneráveis.3
As queimaduras constituem uma preocupação significativa em saúde pública devido a sua morbidade, a sua mortalidade e a seu impacto socioeconômico. O Quadro 1 apresenta sua importância epidemiológica e sua prevalência em diferentes regiões.
QUADRO 1
IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E PREVALÊNCIA DAS QUEIMADURAS EM DIFERENTES REGIÕES |
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Brasil |
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Estados Unidos |
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Globalmente |
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SIH-SUS: Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde; OMS: Organização Mundial da Saúde.
// Fonte: Adaptado de American Burn Association;1 World Health Organization;2 Brasil.3
Em resumo, as queimaduras e lesões térmicas têm uma importância epidemiológica significativa, com impactos consideráveis no sistema de saúde, na economia e na sociedade. As intervenções de prevenção são essenciais para reduzir a incidência e a gravidade dessas lesões.
Quadro clínico
Os sinais e sintomas variam de acordo com o grau da queimadura:
- 1º grau — vermelhidão, dor leve a moderada, pele seca e sem bolhas;
- 2º grau — bolhas, pele úmida, dor intensa e coloração branca/rosada ou vermelha;
- 3º grau — pele branca ou carbonizada, textura de couro, insensibilidade ao toque.
As queimaduras são classificadas com base em sua profundidade, sua extensão e suas causas. O Quadro 2 apresenta a classificação geral das queimaduras, e o Quadro 3, as classificações mais comuns com base na profundidade.
QUADRO 2
CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS QUEIMADURAS |
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Queimaduras de primeiro grau (superficiais) |
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Queimaduras de segundo grau (parcialmente espessas) |
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Queimaduras de terceiro grau (totalmente espessas) |
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QUADRO 3
CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS DE ACORDO COM A PROFUNDIDADE |
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Grau |
Características |
Sensibilidade à dor |
Evolução |
Cicatrizes |
Primeiro grau |
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A dor está presente. |
Acontece cura espontânea em 3 a 7 dias. |
Não deixam cicatrizes. |
Segundo grau |
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Há dor intensa. |
A cura ocorre em 1 ou mais semanas. |
Podem deixar cicatrizes (se não forem bem cuidadas). |
Terceiro grau |
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Não há presença de dor (as terminações nervosas são destruídas). |
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Sempre deixam cicatrizes. |
// Fonte: Elaborado pelos autores.
Além da classificação baseada na profundidade, as queimaduras também podem ser classificadas com base em suas causas (Quadro 4).
QUADRO 4
CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS COM BASE EM SUAS CAUSAS |
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Térmicas |
Causadas por fontes de calor como fogo, líquidos quentes, objetos quentes e vapor. |
Químicas |
Causadas por contato com substâncias químicas corrosivas. |
Elétricas |
Devido à exposição à eletricidade. |
Por radiação |
Queimaduras solares, por exemplo, ou exposição a outras formas de radiação. |
Por fricção |
Como as causadas por arrastar a pele contra um tapete ou asfalto (também conhecido como “road rash”). |
É fundamental buscar atendimento médico adequado para queimaduras graves ou em áreas sensíveis, como o rosto, as mãos, os pés ou os genitais.
ATIVIDADES
1. Assinale a alternativa que apresenta a quinta causa mais comum de mortes não intencionais no mundo.
A) Afogamentos.
B) Quedas.
C) Queimaduras.
D) Acidentes de trânsito.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
As queimaduras são a quinta causa mais comum de mortes não intencionais no mundo, resultando em mais de 300 mil mortes anualmente.
Resposta correta.
As queimaduras são a quinta causa mais comum de mortes não intencionais no mundo, resultando em mais de 300 mil mortes anualmente.
A alternativa correta é a "C".
As queimaduras são a quinta causa mais comum de mortes não intencionais no mundo, resultando em mais de 300 mil mortes anualmente.
2. Considerando a descrição dos sinais e sintomas de queimaduras em diferentes graus, assinale a alternativa que NÃO corresponde à classificação correta do grau da queimadura.
A) 1º grau: vermelhidão, dor leve a moderada, pele seca e sem bolhas.
B) 2º grau: bolhas, pele úmida, dor intensa e coloração branca/rosada ou vermelha.
C) 3º grau: pele branca ou carbonizada, textura de couro, insensibilidade ao toque.
D) 1º grau: bolhas, pele úmida, dor intensa e coloração branca/rosada ou vermelha.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
A descrição do 1º grau inclui vermelhidão, dor leve a moderada, pele seca e sem bolhas. A presença de bolhas, pele úmida e dor intensa está associada ao 2º grau. O 1º grau é caracterizado por danos superficiais na epiderme, enquanto o 2º grau envolve a derme, formando bolhas. O 3º grau, por sua vez, apresenta características mais graves, como pele branca ou carbonizada, textura de couro e insensibilidade ao toque.
Resposta correta.
A descrição do 1º grau inclui vermelhidão, dor leve a moderada, pele seca e sem bolhas. A presença de bolhas, pele úmida e dor intensa está associada ao 2º grau. O 1º grau é caracterizado por danos superficiais na epiderme, enquanto o 2º grau envolve a derme, formando bolhas. O 3º grau, por sua vez, apresenta características mais graves, como pele branca ou carbonizada, textura de couro e insensibilidade ao toque.
A alternativa correta é a "D".
A descrição do 1º grau inclui vermelhidão, dor leve a moderada, pele seca e sem bolhas. A presença de bolhas, pele úmida e dor intensa está associada ao 2º grau. O 1º grau é caracterizado por danos superficiais na epiderme, enquanto o 2º grau envolve a derme, formando bolhas. O 3º grau, por sua vez, apresenta características mais graves, como pele branca ou carbonizada, textura de couro e insensibilidade ao toque.
3. Assinale a alternativa que contém a classificação INCORRETA das queimaduras com base em suas causas.
A) Queimaduras por radiação: por exemplo, queimaduras solares ou exposição a outras formas de radiação.
B) Queimaduras por fricção: como as causadas por arrastar a pele contra um tapete ou asfalto (também conhecido como “road rash”).
C) Queimaduras térmicas: queimaduras solares ou causadas por vapor.
D) Queimaduras químicas: causadas por contato com substâncias químicas corrosivas.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
Queimaduras térmicas são causadas por fontes de calor como fogo, líquidos quentes, objetos quentes e vapor. As queimaduras solares são queimaduras por radiação, portanto, a alternativa incorreta é a C.
Resposta correta.
Queimaduras térmicas são causadas por fontes de calor como fogo, líquidos quentes, objetos quentes e vapor. As queimaduras solares são queimaduras por radiação, portanto, a alternativa incorreta é a C.
A alternativa correta é a "C".
Queimaduras térmicas são causadas por fontes de calor como fogo, líquidos quentes, objetos quentes e vapor. As queimaduras solares são queimaduras por radiação, portanto, a alternativa incorreta é a C.
Diagnóstico e estimativa da superfície corporal queimada no departamento de emergência
O diagnóstico e a avaliação da extensão de queimaduras e lesões térmicas são etapas fundamentais no atendimento inicial ao paciente queimado. Além da determinação da profundidade da queimadura, a estimativa da porcentagem da superfície corporal queimada (%SCQ) é crucial para a tomada de decisões clínicas, particularmente em relação à ressuscitação volêmica.4
Diagnóstico de queimaduras e lesões térmicas
O diagnóstico de queimaduras baseia-se predominantemente no exame clínico, incluindo inspeção e palpação da área afetada.5
A avaliação inicial deve determinar a profundidade da queimadura, conforme apresentado a seguir.5
- Queimaduras de primeiro grau — São eritematosas, dolorosas e envolvem apenas a epiderme. Típicas queimaduras solares são exemplos clássicos.
- Queimaduras de segundo grau — Podem ser superficiais ou profundas. As superficiais apresentam-se com bolhas, são dolorosas e a base da bolha é rosada. As profundas têm uma coloração mais pálida, são menos dolorosas e podem não formar bolhas.
- Queimaduras de terceiro grau — A pele pode parecer branca, carbonizada ou de aspecto couro. Essas queimaduras são insensíveis ao toque devido à destruição das terminações nervosas.
Estimativa da superfície corporal queimada
A avaliação da %SCQ é vital para a gestão de fluidos, a estimativa do prognóstico e a decisão sobre a necessidade de transferência para um centro de queimados especializado. O Quadro 5 apresenta métodos de avaliação.
QUADRO 5
MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DA SUPERFÍCIE CORPORAL QUEIMADA |
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Regra dos Nove |
Amplamente usada em adultos, esta técnica divide o corpo em regiões que representam 9% (ou múltiplos de 9%) da superfície corporal total, por exemplo, cabeça e pescoço — 9%; cada braço — 9%; cada perna — 18% (9% anterior, 9% posterior); tronco anterior — 18%; tronco posterior — 18%; genitália — 1%.6 |
Diagrama de Lund-Browder |
É mais preciso do que a regra dos nove, especialmente em crianças, nas quais as proporções da superfície corporal variam com a idade. Este gráfico divide o corpo em várias regiões e ajusta a porcentagem de SCQ com base na idade do paciente.7 |
Método da palma |
Para queimaduras menores ou irregulares, a palma da mão do paciente (excluindo os dedos) representa aproximadamente 1% de sua SCQ e pode ser usada para estimar a extensão da queimadura.8 |
A Figura 1 apresenta o método da regra dos nove, utilizada para adultos, e a Figura 2 apresenta a tabela de Lund-Browder, utilizado para crianças.
FIGURA 1: Regra dos nove (para adultos). // Fonte: Adaptada de Art e Moncrie.9
FIGURA 2: Tabela de Lund-Browder (para crianças). // Fonte: Adaptada de Art e Moncrie.9
A avaliação precisa da profundidade e da extensão das queimaduras é essencial para a gestão adequada dos pacientes. O uso da regra dos nove, do diagrama de Lund-Browder e do método da palma são ferramentas valiosas para estimar o %SCQ em diferentes cenários.
Achados em exames complementares
A tomografia pode ser útil para avaliar lesões inalatórias e a extensão em queimaduras profundas. Exames laboratoriais, como hemograma e dosagem de proteínas totais e frações, auxiliam na avaliação do estado inflamatório e nutricional.
A realização de exames complementares não deve postergar a decisão e a intervenção de urgência caso o exame clínico já evidencie risco iminente de deterioração clínica e respiratória.
Tratamento inicial no departamento de emergência
A seguir, é apresentado o tratamento inicial do paciente queimado no departamento de emergência.
Resfriamento local com água corrente
O manejo inicial de queimaduras de 1º e 2º graus no departamento de emergência é crucial para minimizar o dano tecidual. O resfriamento local com água corrente a uma temperatura entre 15 e 25°C é uma medida eficaz para interromper a progressão da queimadura e aliviar a dor. Estudos recentes enfatizam a importância do resfriamento precoce, realizado nos primeiros 20 minutos após a lesão, para otimizar os resultados.10
Analgesia
O controle da dor é uma prioridade no manejo de pacientes com queimaduras. A administração de analgésicos, como opioides de ação rápida, deve ser realizada conforme a intensidade da dor e a resposta individual do paciente. A abordagem multimodal, integrando analgésicos não opioides, como o paracetamol, pode ser benéfica. Pesquisadores publicaram recentemente um estudo em que ressaltam a eficácia da analgesia multimodal para proporcionar alívio adequado, sem comprometimento da estabilidade hemodinâmica.11
Hidratação intravenosa em grandes queimaduras
As queimaduras representam uma condição clínica desafiadora, com impacto significativo na homeostase fisiológica do paciente. A administração adequada de fluidos desempenha um papel crucial na gestão eficaz dos grandes queimados. Entre as estratégias disponíveis, a fórmula de Parkland tem sido amplamente reconhecida como uma abordagem eficaz para guiar a reposição volêmica nas primeiras 24 horas pós-queimadura. Além disso, a administração cuidadosa de eletrólitos é essencial para manter o equilíbrio hidreletrolítico. Há estudos que destacam a importância da individualização da terapia, considerando fatores como idade, comorbidades e extensão da queimadura.12
A fórmula de Parkland, proposta por Baxter e Shires,13 baseia-se na extensão da área de queimadura e no peso corporal do paciente. A fórmula é expressa como segue.
Vazão de fluido (mL/h) = 4 × superfície corporal queimada (%) × peso corporal (kg)
Essa abordagem tem como objetivo garantir a reposição adequada de líquidos durante as primeiras 24 horas após a queimadura, com metade do volume total administrado nas primeiras 8 horas e a outra metade nas subsequentes 16 horas. Sua eficácia baseia-se na manutenção da perfusão tecidual, prevenção da hipovolemia e minimização das complicações associadas.13 Estudos clínicos14 demonstraram uma correlação direta entre a aplicação adequada da fórmula de Parkland e a melhora das taxas de sobrevida em pacientes com grandes queimaduras.
É fundamental um monitoramento clínico contínuo para ajustar a taxa de infusão de fluidos conforme a resposta individual do paciente. A avaliação da diurese, da pressão arterial, do lactato e do débito cardíaco contribui para a adaptação dinâmica da terapia de reposição volêmica.
Em casos de queimaduras elétricas, a fórmula de Parkland pode necessitar de ajustes, dado o risco aumentado de lesões musculares e de mioglobinúria. Além disso, pacientes com comorbidades prévias, como insuficiência cardíaca, podem requerer uma abordagem personalizada.
Profilaxia infecciosa com o uso de cremes antibacterianos
A prevenção de infecções é uma preocupação constante no tratamento de grandes queimados. O uso de cremes antibacterianos, como a sulfadiazina de prata, é uma prática comum e eficaz para reduzir o risco de infecções locais, mas deve-se manter vigilância ativa para monitorar a possível toxicidade sistêmica associada aos potenciais efeitos adversos desses fármacos.15
A abordagem no departamento de emergência para pacientes com grandes queimaduras requer uma integração cuidadosa de estratégias, incluindo o resfriamento local precoce, o manejo analgésico adequado, a reposição volêmica personalizada e a prevenção eficaz de infecções. A literatura científica oferece diretrizes valiosas, mas a adaptação a cada caso clínico específico é essencial para otimizar os resultados clínicos.
ATIVIDADES
4. Em relação ao tratamento inicial dos queimados, marque V (verdadeiro) ou F (falso).
O resfriamento local com água corrente deve ser feito com água a uma temperatura entre 5 e 15°C.
A analgesia multimodal não é eficaz em pacientes queimados.
A administração adequada de fluidos desempenha um papel crucial na gestão eficaz dos grandes queimados.
O uso de cremes antibacterianos é uma prática comum e eficaz para reduzir o risco de infecções locais, mas deve-se atentar para possível toxicidade sistêmica.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — F
B) F — V — F — V
C) F — F — V — V
D) V — V — F — F
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
O resfriamento local deve ser com água corrente a uma temperatura entre 15 e 25°C. Idealmente, deve ocorrer de forma precoce, sendo realizado nos primeiros 20 minutos após a lesão, para otimizar os resultados. Pesquisadores publicaram recentemente um estudo em que ressaltam a eficácia da analgesia multimodal para proporcionar alívio adequado, sem comprometimento da estabilidade hemodinâmica.
Resposta correta.
O resfriamento local deve ser com água corrente a uma temperatura entre 15 e 25°C. Idealmente, deve ocorrer de forma precoce, sendo realizado nos primeiros 20 minutos após a lesão, para otimizar os resultados. Pesquisadores publicaram recentemente um estudo em que ressaltam a eficácia da analgesia multimodal para proporcionar alívio adequado, sem comprometimento da estabilidade hemodinâmica.
A alternativa correta é a "C".
O resfriamento local deve ser com água corrente a uma temperatura entre 15 e 25°C. Idealmente, deve ocorrer de forma precoce, sendo realizado nos primeiros 20 minutos após a lesão, para otimizar os resultados. Pesquisadores publicaram recentemente um estudo em que ressaltam a eficácia da analgesia multimodal para proporcionar alívio adequado, sem comprometimento da estabilidade hemodinâmica.
Tratamento subsequente de pacientes vítimas de queimaduras térmicas: abordagem multidisciplinar e intervenções específicas
A seguir, são apresentadas a abordagem e as intervenções específicas do tratamento subsequente dos pacientes vítimas de queimaduras térmicas.
Desbridamento cirúrgico
Após a fase inicial de estabilização no departamento de emergência, o desbridamento cirúrgico emerge como uma intervenção crucial no continuum de cuidados para pacientes vítimas de queimaduras térmicas. Esse procedimento visa à remoção de tecido necrótico e contaminado, facilitando a cicatrização e reduzindo o risco de infecções, conforme evidenciado em estudos que comprovaram a importância do desbridamento precoce para otimizar os resultados a longo prazo.16
O principal objetivo do desbridamento cirúrgico é a remoção seletiva de tecido necrótico, contaminado e prejudicado pela lesão térmica. A extensão do desbridamento pode variar conforme a profundidade e a extensão das queimaduras, sendo fundamental a avaliação clínica detalhada para determinar a necessidade e a abrangência do procedimento. A realização dessa intervenção nas fases iniciais após a lesão térmica não apenas promove a eliminação de tecidos não viáveis, mas também cria condições propícias para a aplicação de técnicas de enxertia, favorecendo a regeneração tecidual.16
O desbridamento pode ser realizado por meio de técnicas diversas, incluindo o desbridamento cirúrgico tangencial, que remove camadas sucessivas da epiderme e derme até atingir um tecido viável. Adicionalmente, métodos mais avançados, como o desbridamento enzimático, podem ser empregados em determinadas situações clínicas, oferecendo uma abordagem mais seletiva em relação ao tecido necrótico.
É essencial destacar que o desbridamento cirúrgico não se limita à remoção de tecido, mas também proporciona a oportunidade de avaliação visual direta da extensão da lesão e das estruturas subjacentes. Esse exame aprofundado é crucial para o planejamento subsequente da reconstrução, incluindo a possível aplicação de enxertos ou retalhos cutâneos.16,17
Enxertos, retalhos cutâneos e matriz dérmica
A reconstrução da integridade cutânea frequentemente requer a aplicação de enxertos cutâneos e retalhos. Enxertos autólogos, provenientes do próprio paciente, são comumente utilizados para cobrir áreas extensas. Retalhos, por sua vez, oferecem vantagens em regiões anatomicamente desafiadoras.18
A utilização de matrizes dérmicas representa uma inovação significativa no arsenal terapêutico para o tratamento de queimaduras extensas, apresentando-se como uma estratégia promissora na promoção da regeneração tecidual. Esses biomateriais proporcionam suporte estrutural e promovem a regeneração de tecido, com eficácia comprovada na melhoria da qualidade da cicatrização e na redução das complicações associadas,19 criando ambiente propício à cicatrização.
As matrizes dérmicas são concebidas para mimetizar a arquitetura da derme natural, fornecendo uma estrutura tridimensional que serve como arcabouço para a migração celular, angiogênese e deposição de matriz extracelular, facilitando a adesão e a proliferação celular e promovendo, também, a regeneração de vasos sanguíneos, essencial para o fornecimento adequado de nutrientes e oxigênio durante o processo de cicatrização.20
A seleção adequada da matriz dérmica é uma consideração crítica, levando em conta a extensão da queimadura, a localização anatômica e as características individuais do paciente. A personalização do tratamento é essencial para garantir a melhor resposta
Apesar dos avanços, desafios persistem, como a necessidade de aprimorar ainda mais a integração e a vascularização das matrizes dérmicas. Pesquisas contínuas buscam aprimorar esses aspectos, bem como explorar novas tecnologias para aperfeiçoar a eficácia e a versatilidade desses biomateriais.21-23
Reabilitação física e ocupacional
A reabilitação pós-queimadura desempenha um papel determinante na restauração funcional e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes afetados por queimaduras térmicas com uma abordagem integrada que vai além dos aspectos físicos, considerando também os aspectos psicossociais do paciente. A reabilitação precoce é fundamental para otimizar os resultados funcionais, envolvendo ativamente uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, visando à otimização da mobilidade, ao fortalecimento muscular e à adaptação às limitações impostas pelas sequelas das queimaduras.24
A mobilidade comprometida é uma das principais sequelas das queimaduras, resultando de cicatrizes contráteis e aderências teciduais. A intervenção precoce da fisioterapia visa preservar e melhorar a amplitude de movimento por meio de exercícios terapêuticos e de alongamentos. Além disso, o fortalecimento muscular é essencial para restaurar a força e a resistência, compensando possíveis perdas de função, com papel na prevenção e na gestão de possíveis condições secundárias, como contraturas e deformidades articulares.24
Terapeutas ocupacionais desempenham um papel fundamental na adaptação do paciente às limitações impostas pelas queimaduras, incluindo o treinamento em atividades da vida diária, a prescrição de dispositivos de assistência e a orientação para o uso de técnicas compensatórias, visando otimizar a independência funcional do paciente vítima de queimadura térmica.25,26
Além dos aspectos físicos, é essencial considerar o impacto psicossocial das queimaduras. Profissionais de reabilitação desempenham um papel crucial no suporte emocional, fornecendo estratégias para enfrentar o estigma social e promovendo a aceitação da nova realidade do paciente.
Complicações sistêmicas
As queimaduras representam uma condição clínica desafiadora que frequentemente requer uma abordagem intensiva e especializada no departamento de emergência. Pacientes com grandes queimaduras apresentam uma série de desafios clínicos, incluindo o risco significativo de complicações sistêmicas.
Infecções
A incidência de infecções é uma preocupação constante em pacientes grandes queimados devido à perda da barreira cutânea protetora. As áreas queimadas proporcionam um ambiente propício para a colonização bacteriana, aumentando o risco de infecções locais e sistêmicas. O desbridamento precoce e a cobertura adequada das lesões são cruciais para reduzir essa vulnerabilidade. É de fundamental importância a utilização de estratégias de prevenção de infecções em pacientes queimados, entre as quais se destacam a administração profilática de antibióticos e a vigilância rigorosa para a detecção precoce de sinais de infecção.27
Cicatrizes e contraturas
As cicatrizes resultantes de queimaduras podem ter impactos significativos na funcionalidade e na qualidade de vida dos pacientes. A formação excessiva de tecido cicatricial pode levar a contraturas, limitando a amplitude de movimento e causando deformidades permanentes. A terapia ocupacional e fisioterapia desempenham um papel crucial na prevenção e no tratamento dessas complicações. Técnicas de alongamento, exercícios terapêuticos e o uso de dispositivos de suporte são estratégias precoces valiosas para minimizar o impacto das cicatrizes e para preservar a função articular.28
Lesão inalatória
A lesão inalatória é uma complicação séria em pacientes grandes queimados, especialmente quando a queimadura envolve a face e as vias aéreas. A inalação de produtos tóxicos pode resultar em edema das vias aéreas, obstrução e comprometimento da função pulmonar. A monitoração da saturação de oxigênio, a gasometria arterial e a avaliação clínica são cruciais para identificar precocemente a necessidade de intervenção. A administração de oxigenoterapia e de suporte ventilatório adequado e, em alguns casos, a realização de broncoscopia para a avaliação direta das vias aéreas são estratégias essenciais na gestão dessa complicação,29 como será descrito a seguir.
Síndrome da resposta inflamatória sistêmica
Pacientes grandes queimados frequentemente desenvolvem uma resposta inflamatória sistêmica exacerbada, conhecida como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). Essa condição, quando não controlada, pode evoluir para choque séptico e disfunção de múltiplos órgãos.30
A administração adequada de fluidos, a monitoração hemodinâmica e a utilização de estratégias de suporte imunomodulatório são cruciais para mitigar os efeitos adversos da SIRS.30
Estudos ressaltam a complexidade da resposta inflamatória em pacientes queimados e a necessidade de uma abordagem individualizada.30 Não há consenso na utilização de anti-inflamatórios e imunossupressores como uma estratégia para a modulação da resposta inflamatória exacerbada.
Rabdomiólise
A rabdomiólise é uma complicação potencial em pacientes grandes queimados devido à lesão direta dos músculos esqueléticos. A liberação de mioglobina na corrente sanguínea pode resultar em insuficiência renal aguda e em outros distúrbios eletrolíticos.31
A monitoração rigorosa da função renal, dos níveis de creatinina fosfoquinase (CPK) e de mioglobina são essenciais para a detecção precoce e a gestão eficaz.31
A hidratação agressiva e a atenção cuidadosa à monitoração laboratorial são estratégias preventivas importantes para minimizar o impacto da rabdomiólise em pacientes queimados, evitando complicações renais associadas.31
Disfunção renal aguda
A disfunção renal aguda é uma complicação grave em pacientes grandes queimados, muitas vezes de causa multifatorial, resultante de desidratação, da rabdomiólise e da resposta inflamatória sistêmica. Estratégias de suporte, como a administração adequada de fluidos e o controle do equilíbrio hidreletrolítico, são fundamentais no manejo dessa complicação. Estudos comprovaram a importância de estratégias personalizadas para prevenir a disfunção renal em pacientes queimados.32 A ênfase na ressuscitação volêmica adequada e a atenção à função renal ao longo do tratamento são aspectos fundamentais na abordagem desses casos.
Terapia de suporte
A seguir, são apresentadas diferentes modalidades de terapia de suporte no tratamento de pacientes grandes queimados.
Intubação orotraqueal precoce
A intubação orotraqueal precoce desempenha um papel crucial no manejo de pacientes grandes queimados, especialmente quando há comprometimento das vias aéreas superiores ou suspeita de lesão inalatória. Esse procedimento, muitas vezes subestimado, desencadeia uma série de benefícios essenciais para a estabilização do paciente e a prevenção de complicações decorrentes das queimaduras térmicas.
A decisão de realizar a intubação orotraqueal em um paciente queimado deve ser guiada por sinais clínicos específicos que indicam a necessidade iminente de suporte ventilatório. A dispneia grave, caracterizada por um esforço respiratório exacerbado e ineficaz, é um marcador claro da insuficiência respiratória iminente. Além disso, a presença de estridor, um som agudo durante a respiração, pode indicar obstrução significativa das vias aéreas superiores, justificando a intervenção rápida.33
Persistência de cianose, secundária à oxigenação inadequada, é um sinal alarmante que aponta para a insuficiência respiratória e a necessidade de intervenção imediata. Alterações acentuadas no estado mental, como confusão ou sonolência excessiva, são indicadores de comprometimento sistêmico e podem ser agravadas pela hipoxemia, justificando a intubação para otimizar a oxigenação cerebral.33
Evidências de obstrução das vias aéreas, como estridor persistente, e da musculatura acessória são indicativos claros de que a capacidade do paciente de manter uma via aérea permeável está comprometida. Esses sinais, quando presentes em pacientes vítimas de queimaduras térmicas, requerem uma avaliação rápida e uma decisão ágil sobre a intubação orotraqueal.
Intubação orotraqueal com broncoscopia ou fibroscopia
A intubação orotraqueal, associada à broncoscopia ou fibroscopia, representa uma estratégia valiosa no manejo de pacientes vítimas de queimaduras térmicas, proporcionando benefícios adicionais no monitoramento das vias aéreas e na otimização da assistência respiratória. Essa abordagem, respaldada por evidências científicas, é especialmente crucial em cenários clínicos desafiadores, em que as complicações das vias aéreas são uma preocupação primordial.
A utilização da broncoscopia ou da fibroscopia durante a intubação orotraqueal oferece uma visão direta e dinâmica das vias aéreas, permitindo uma abordagem mais precisa e segura. Essas técnicas possibilitam a visualização direta da laringe, da traqueia e dos brônquios, auxiliando na identificação de possíveis lesões, edema, obstruções ou acúmulo de secreções. A fibroscopia, em particular, utiliza fibras ópticas flexíveis para examinar as vias respiratórias, sendo valiosa na detecção de alterações anatômicas e funcionais. Além disso, a broncoscopia oferece a vantagem adicional de permitir intervenções terapêuticas imediatas, como a remoção de corpos estranhos ou a aspiração de secreções.
O Quadro 6 apresenta indicações específicas para a intubação orotraqueal com broncoscopia ou fibroscopia em queimaduras térmicas.
QUADRO 6
INDICAÇÕES ESPECÍFICAS PARA A INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL COM BRONCOSCOPIA OU FIBROSCOPIA EM QUEIMADURAS TÉRMICAS |
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Suspeita de lesão inalatória |
Em casos de queimaduras térmicas, a presença de fumaça ou gases tóxicos pode resultar em lesões nas vias aéreas superiores e inferiores. A broncoscopia ou fibroscopia é indicada para avaliar diretamente o impacto dessas lesões, orientando a decisão de intubar o paciente e fornecendo informações cruciais para o planejamento terapêutico. |
Edema de via aérea |
O edema das vias aéreas é uma complicação comum em queimaduras térmicas, podendo comprometer significativamente a ventilação. A visualização direta das vias aéreas por meio dessas técnicas permite a avaliação imediata do grau de edema, influenciando a decisão de intubação. |
Obstrução de vias aéreas |
A presença de corpos estranhos, hipersecreção ou obstruções mecânicas nas vias aéreas pode exigir intervenção imediata. A broncoscopia ou fibroscopia facilita a identificação e a remoção dessas obstruções, contribuindo para a resolução imediata de potenciais fontes de insuficiência respiratória. |
Avaliação da extensão das lesões |
Em queimaduras térmicas extensas, a extensão das lesões nas vias aéreas pode variar. A broncoscopia ou fibroscopia fornece uma avaliação detalhada, permitindo a adaptação da estratégia de intubação e a antecipação de possíveis complicações, como estenoses ou granulomas cicatriciais. |
Estudos ressaltam a importância de uma abordagem proativa na decisão de intubar pacientes queimados.30 A intervenção rápida diante de sinais de insuficiência respiratória não apenas estabiliza o paciente imediatamente, mas também previne complicações graves associadas à lesão inalatória.
A abordagem proativa na intubação orotraqueal em pacientes queimados é respaldada pela necessidade de garantir uma oferta adequada de oxigênio aos tecidos, prevenindo hipoxemia e reduzindo o risco de falência de múltiplos órgãos. A estabilização das vias aéreas contribui para a otimização do suporte ventilatório, reduzindo o esforço respiratório do paciente e promovendo uma resposta mais eficaz ao tratamento.
Sedoanalgesia contínua e manejo da dor
A sedoanalgesia contínua desempenha papel crucial na gestão da dor intensa associada a queimaduras extensas e procedimentos invasivos frequentemente necessários. A administração contínua de analgésicos, como opiáceos e anestésicos, é essencial para assegurar o conforto do paciente e permitir a realização de intervenções necessárias.
Estudos destacam a relevância da abordagem multimodal no manejo da dor em pacientes queimados.34 O uso de bombas de analgesia controlada pelo paciente (PCA) é uma estratégia eficaz, permitindo ao paciente ajustar a administração de analgésicos conforme suas necessidades individuais.
Obtenção de acesso venoso central
A obtenção de acesso venoso central é um passo crucial na terapia de suporte de emergência para pacientes grandes queimados, facilitando a administração rápida e eficaz de fluidos, eletrólitos e medicamentos. A escolha do local de inserção, frequentemente em veia subclávia ou jugular interna, deve considerar a avaliação clínica do paciente, levando em conta as condições da pele queimada. A literatura médica destaca a relevância da rapidez na obtenção de acesso vascular central em situações de emergência.35
A administração intravenosa precoce é fundamental para a ressuscitação volêmica inicial e para a implementação de terapias farmacológicas, quando indicadas, e a administração através de acesso venoso central pode ser justificada em casos em que os pacientes não dispõem de acesso venoso periférico calibroso devido ao comprometimento cutâneo pela lesão térmica ou à descontinuidade da pele nesses sítios.
Utilidade da medida de pressão venosa central para avaliação da volemia durante hidratação
A medida da pressão venosa central (PVC) é com frequência utilizada como indicador da volemia e da eficácia da ressuscitação volêmica em pacientes queimados. Valores normais de PVC geralmente indicam adequada expansão volêmica, enquanto quedas persistentes podem sinalizar a necessidade de ajustes na terapia de suporte.36 A monitoração contínua da PVC é crucial, permitindo uma abordagem individualizada e adaptativa à resposta do paciente à terapia de fluidos.
Monitoração hemodinâmica minimamente invasiva na avaliação da volemia
A monitoração hemodinâmica minimamente invasiva desempenha papel crescente na avaliação da volemia em pacientes queimados. Técnicas como a monitoração da saturação venosa central (SvcO2) e a medida contínua do débito cardíaco minimamente invasiva, por meio de diversas tecnologias atualmente disponíveis, fornecem informações detalhadas sobre o estado hemodinâmico do paciente, permitindo ajustes dinâmicos da abordagem terapêutica, minimizando complicações relacionadas a distúrbios circulatórios.37
Avaliação precoce de rabdomiólise e indicação de terapia de substituição renal
A rabdomiólise é uma complicação frequente em pacientes grandes queimados, decorrente da lesão muscular resultante da queimadura ou dos procedimentos cirúrgicos. A monitoração dos níveis de creatina fosfoquinase (CPK) é essencial para a detecção precoce dessa condição.38
Em casos graves de rabdomiólise, a terapia de substituição renal pode ser indicada.38
A avaliação precoce da rabdomiólise é fundamental para guiar a intervenção oportuna, visando prevenir complicações renais. Modalidades dialíticas, como hemodiálise ou hemofiltração, são frequentemente empregadas para remover produtos tóxicos resultantes da rabdomiólise e para controlar a hipervolemia, quando presente.38
ATIVIDADES
5. Analise as afirmativas a seguir sobre a associação entre exame e conduta em pacientes vítimas de queimaduras.
I. A tomografia pode ser útil para avaliar lesões inalatórias e a extensão em queimaduras profundas.
II. O hemograma auxilia na avaliação do estado inflamatório.
III. A monitoração dos níveis de CPK é essencial para a detecção precoce de rabdomiólise.
IV. Dosagens proteicas auxiliam a determinar o momento da decisão e a intervenção de urgência.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I, a III e a IV.
C) Apenas a III e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
A afirmativa IV está incorreta, pois a realização de exames complementares não deve postergar a decisão e a intervenção de urgência caso o exame clínico já evidencie risco iminente de deterioração clínica e respiratória. As demais afirmativas apresentam associações corretas.
Resposta correta.
A afirmativa IV está incorreta, pois a realização de exames complementares não deve postergar a decisão e a intervenção de urgência caso o exame clínico já evidencie risco iminente de deterioração clínica e respiratória. As demais afirmativas apresentam associações corretas.
A alternativa correta é a "B".
A afirmativa IV está incorreta, pois a realização de exames complementares não deve postergar a decisão e a intervenção de urgência caso o exame clínico já evidencie risco iminente de deterioração clínica e respiratória. As demais afirmativas apresentam associações corretas.
6. Analise as afirmativas a seguir em relação às indicações para o tratamento subsequente de pacientes vítimas de queimaduras térmicas.
I. Desbridamento cirúrgico.
II. Uso de anti-inflamatórios e imunossupressores para modulação da resposta inflamatória exacerbada.
III. Uso de enxertos e retalhos cutâneos e de matriz dérmica.
IV. Reabilitação física e ocupacional.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I, a III e a IV.
C) Apenas a III e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
Não há consenso na utilização de anti-inflamatórios e imunossupressores como uma estratégia para modulação da resposta inflamatória exacerbada. As demais alternativas são modalidades do tratamento subsequentes de vítimas de queimaduras térmicas.
Resposta correta.
Não há consenso na utilização de anti-inflamatórios e imunossupressores como uma estratégia para modulação da resposta inflamatória exacerbada. As demais alternativas são modalidades do tratamento subsequentes de vítimas de queimaduras térmicas.
A alternativa correta é a "B".
Não há consenso na utilização de anti-inflamatórios e imunossupressores como uma estratégia para modulação da resposta inflamatória exacerbada. As demais alternativas são modalidades do tratamento subsequentes de vítimas de queimaduras térmicas.
7. Considerando as indicações de intubação orotraqueal precoce em pacientes grandes queimados descritas no texto, analise as afirmativas a seguir, que são indicações para esse procedimento.
I. Dispneia grave com esforço respiratório ineficaz.
II. Presença de estridor durante a respiração.
III. Manutenção da saturação de oxigênio dentro dos parâmetros normais.
IV. Alterações acentuadas no estado mental, como confusão ou sonolência excessiva.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I, a II e a IV.
C) Apenas a III e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
A saturação de oxigênio dentro dos parâmetros normais não seria, por si só, uma indicação direta para intubação orotraqueal precoce. As indicações citadas no texto envolvem sinais de insuficiência respiratória, obstrução significativa das vias aéreas superiores, cianose persistente, alterações no estado mental e evidências de obstrução das vias aéreas. A manutenção adequada da saturação de oxigênio é desejável, mas não é uma indicação isolada para a intubação precoce.
Resposta correta.
A saturação de oxigênio dentro dos parâmetros normais não seria, por si só, uma indicação direta para intubação orotraqueal precoce. As indicações citadas no texto envolvem sinais de insuficiência respiratória, obstrução significativa das vias aéreas superiores, cianose persistente, alterações no estado mental e evidências de obstrução das vias aéreas. A manutenção adequada da saturação de oxigênio é desejável, mas não é uma indicação isolada para a intubação precoce.
A alternativa correta é a "B".
A saturação de oxigênio dentro dos parâmetros normais não seria, por si só, uma indicação direta para intubação orotraqueal precoce. As indicações citadas no texto envolvem sinais de insuficiência respiratória, obstrução significativa das vias aéreas superiores, cianose persistente, alterações no estado mental e evidências de obstrução das vias aéreas. A manutenção adequada da saturação de oxigênio é desejável, mas não é uma indicação isolada para a intubação precoce.
8. Considerando as indicações de intubação orotraqueal precoce com auxílio de broncoscopia ou fibroscopia em pacientes vítimas de queimaduras térmicas, analise as afirmativas a seguir, que apresentam indicações adequadas para esse procedimento.
I. Suspeita de lesão inalatória.
II. Avaliação da extensão das lesões cutâneas.
III. Presença de estridor persistente.
IV. Obstrução de vias aéreas devido a corpos estranhos.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I, a III e a IV.
C) Apenas a III e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
A avaliação da extensão das lesões cutâneas não é uma indicação direta para a intubação orotraqueal com auxílio de broncoscopia ou fibroscopia. Essas técnicas são particularmente úteis para situações como suspeita de lesão inalatória, presença de estridor persistente, obstrução de vias aéreas devido a corpos estranhos e edema de via aérea. A avaliação da extensão das lesões cutâneas seria mais relacionada à avaliação inicial e ao manejo geral das queimaduras térmicas.
Resposta correta.
A avaliação da extensão das lesões cutâneas não é uma indicação direta para a intubação orotraqueal com auxílio de broncoscopia ou fibroscopia. Essas técnicas são particularmente úteis para situações como suspeita de lesão inalatória, presença de estridor persistente, obstrução de vias aéreas devido a corpos estranhos e edema de via aérea. A avaliação da extensão das lesões cutâneas seria mais relacionada à avaliação inicial e ao manejo geral das queimaduras térmicas.
A alternativa correta é a "C".
A avaliação da extensão das lesões cutâneas não é uma indicação direta para a intubação orotraqueal com auxílio de broncoscopia ou fibroscopia. Essas técnicas são particularmente úteis para situações como suspeita de lesão inalatória, presença de estridor persistente, obstrução de vias aéreas devido a corpos estranhos e edema de via aérea. A avaliação da extensão das lesões cutâneas seria mais relacionada à avaliação inicial e ao manejo geral das queimaduras térmicas.
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Paciente Sílvia, 60 anos de idade, 1,75m e 80kg, portadora de hipertensão arterial sistêmica e diabetes melito não insulino-dependente, foi socorrida em seu domicílio pelo serviço de atendimento móvel de urgência (Samu) após ser vítima de uma queimadura por explosão de álcool em sua lareira, afetando várias áreas do corpo da paciente, incluindo face, nariz e cabelos (apresenta eritema e dor), orelha direita (carbonizada, com aspecto semelhante a couro), metade superior da face anterior do tórax e braços (com presença de bolhas e coloração pálida).
ATIVIDADES
9. Considerando o caso clínico apresentado, assinale a alternativa que NÃO apresenta um procedimento adequado para o atendimento inicial.
A) Avaliação da via aérea, respiração e circulação.
B) Analgesia.
C) Terapia antimicrobiana intravenosa de amplo espectro.
D) Resfriamento inicial com água corrente em temperatura ambiente por 10 a 20 minutos para áreas com queimaduras de segundo grau superficial.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
Os procedimentos iniciais para a paciente apresentada no caso clínico incluem: avaliação da via aérea, da respiração e da circulação; analgesia; cuidados com a área queimada; cobertura das lesões; e transporte para o hospital. O uso de terapia antimicrobiana intravenosa de amplo espectro não está contido no atendimento inicial de pacientes vítimas de queimadura térmica.
Resposta correta.
Os procedimentos iniciais para a paciente apresentada no caso clínico incluem: avaliação da via aérea, da respiração e da circulação; analgesia; cuidados com a área queimada; cobertura das lesões; e transporte para o hospital. O uso de terapia antimicrobiana intravenosa de amplo espectro não está contido no atendimento inicial de pacientes vítimas de queimadura térmica.
A alternativa correta é a "C".
Os procedimentos iniciais para a paciente apresentada no caso clínico incluem: avaliação da via aérea, da respiração e da circulação; analgesia; cuidados com a área queimada; cobertura das lesões; e transporte para o hospital. O uso de terapia antimicrobiana intravenosa de amplo espectro não está contido no atendimento inicial de pacientes vítimas de queimadura térmica.
10. Assinale a alternativa que apresenta a %SCQ, de acordo com a regra dos nove, considerando as áreas afetadas no caso da paciente Sílvia.
A) 18%.
B) 27%.
C) 36%.
D) 45%.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
A regra dos nove é uma ferramenta utilizada para estimar a %SCQ em adultos. De acordo com essa regra, cada perna representa 18%; cada braço, 9%; a frente do tronco, 18%; a parte de trás do tronco, 18%; a cabeça, 9%; e a região genital, 1%. No caso da paciente Sílvia, as áreas afetadas (face, nariz, cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços) totalizam aproximadamente 36% da superfície corporal, tornando a opção C a resposta correta. A avaliação precisa da extensão da queimadura é essencial para o manejo adequado e o prognóstico do paciente.
Resposta correta.
A regra dos nove é uma ferramenta utilizada para estimar a %SCQ em adultos. De acordo com essa regra, cada perna representa 18%; cada braço, 9%; a frente do tronco, 18%; a parte de trás do tronco, 18%; a cabeça, 9%; e a região genital, 1%. No caso da paciente Sílvia, as áreas afetadas (face, nariz, cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços) totalizam aproximadamente 36% da superfície corporal, tornando a opção C a resposta correta. A avaliação precisa da extensão da queimadura é essencial para o manejo adequado e o prognóstico do paciente.
A alternativa correta é a "C".
A regra dos nove é uma ferramenta utilizada para estimar a %SCQ em adultos. De acordo com essa regra, cada perna representa 18%; cada braço, 9%; a frente do tronco, 18%; a parte de trás do tronco, 18%; a cabeça, 9%; e a região genital, 1%. No caso da paciente Sílvia, as áreas afetadas (face, nariz, cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços) totalizam aproximadamente 36% da superfície corporal, tornando a opção C a resposta correta. A avaliação precisa da extensão da queimadura é essencial para o manejo adequado e o prognóstico do paciente.
11. De acordo com a regra de Parkland, assinale a alternativa que apresenta o volume total estimado para hidratação venosa nas primeiras 8 horas e nas 16 horas subsequentes, respectivamente, para a paciente Sílvia, considerando sua queimadura.
A) 4.800mL e 4.800mL.
B) 3.600mL e 7.200mL.
C) 2.400mL e 4.800mL.
D) 1.200mL e 2.400mL.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
A regra de Parkland é frequentemente utilizada para estimar a reposição volêmica em pacientes com queimaduras. Calcula-se o volume total necessário dividindo-se a superfície corporal queimada (em percentual) por 100 e multiplicando pelo peso corporal em quilogramas. Para a paciente Sílvia, com queimaduras em aproximadamente 36% da superfície corporal, o cálculo seria: volume total = (36 ÷ 100) × 80 kg = 28,8L. Esse volume é dividido em dois terços para as primeiras 8 horas e um terço para as 16 horas subsequentes. Portanto, nas primeiras 8 horas, o volume seria 28,8L × 2/3 = 19,2L, e nas 16 horas seguintes, seria 28,8L × 1/3 = 9,6L. Convertendo para mililitros, obtém-se a resposta da alternativa B.
Resposta correta.
A regra de Parkland é frequentemente utilizada para estimar a reposição volêmica em pacientes com queimaduras. Calcula-se o volume total necessário dividindo-se a superfície corporal queimada (em percentual) por 100 e multiplicando pelo peso corporal em quilogramas. Para a paciente Sílvia, com queimaduras em aproximadamente 36% da superfície corporal, o cálculo seria: volume total = (36 ÷ 100) × 80 kg = 28,8L. Esse volume é dividido em dois terços para as primeiras 8 horas e um terço para as 16 horas subsequentes. Portanto, nas primeiras 8 horas, o volume seria 28,8L × 2/3 = 19,2L, e nas 16 horas seguintes, seria 28,8L × 1/3 = 9,6L. Convertendo para mililitros, obtém-se a resposta da alternativa B.
A alternativa correta é a "B".
A regra de Parkland é frequentemente utilizada para estimar a reposição volêmica em pacientes com queimaduras. Calcula-se o volume total necessário dividindo-se a superfície corporal queimada (em percentual) por 100 e multiplicando pelo peso corporal em quilogramas. Para a paciente Sílvia, com queimaduras em aproximadamente 36% da superfície corporal, o cálculo seria: volume total = (36 ÷ 100) × 80 kg = 28,8L. Esse volume é dividido em dois terços para as primeiras 8 horas e um terço para as 16 horas subsequentes. Portanto, nas primeiras 8 horas, o volume seria 28,8L × 2/3 = 19,2L, e nas 16 horas seguintes, seria 28,8L × 1/3 = 9,6L. Convertendo para mililitros, obtém-se a resposta da alternativa B.
12. De acordo com a descrição do caso clínico, assinale a alternativa que apresenta corretamente como seriam classificadas as queimaduras na face, na orelha direita e nos braços da paciente Sílvia.
A) Face: queimadura de segundo grau profundo; orelha direita: queimadura de primeiro grau; braços: queimadura de terceiro grau.
B) Face: queimadura de primeiro grau; orelha direita: queimadura de terceiro grau; braços: queimadura de segundo grau profundo.
C) Face: queimadura de segundo grau superficial; orelha direita: queimadura de terceiro grau; braços: queimadura de primeiro grau.
D) Face: queimadura de terceiro grau; orelha direita: queimadura de segundo grau superficial; braços: queimadura de primeiro grau.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".
Na face, a presença de eritema e dor sugere uma queimadura de segundo grau profundo, caracterizada por danos aos folículos pilosos e às glândulas sudoríparas. A orelha direita está carbonizada e com aspecto semelhante a couro, o que indica uma queimadura de terceiro grau, que envolve danos a todas as camadas da pele, incluindo os nervos. Nos braços, a presença de bolhas e coloração pálida sugere uma queimadura de terceiro grau, envolvendo danos extensos a todas as camadas da pele, inclusive aos tecidos subjacentes. Portanto, a resposta correta é a alternativa A.
Resposta correta.
Na face, a presença de eritema e dor sugere uma queimadura de segundo grau profundo, caracterizada por danos aos folículos pilosos e às glândulas sudoríparas. A orelha direita está carbonizada e com aspecto semelhante a couro, o que indica uma queimadura de terceiro grau, que envolve danos a todas as camadas da pele, incluindo os nervos. Nos braços, a presença de bolhas e coloração pálida sugere uma queimadura de terceiro grau, envolvendo danos extensos a todas as camadas da pele, inclusive aos tecidos subjacentes. Portanto, a resposta correta é a alternativa A.
A alternativa correta é a "A".
Na face, a presença de eritema e dor sugere uma queimadura de segundo grau profundo, caracterizada por danos aos folículos pilosos e às glândulas sudoríparas. A orelha direita está carbonizada e com aspecto semelhante a couro, o que indica uma queimadura de terceiro grau, que envolve danos a todas as camadas da pele, incluindo os nervos. Nos braços, a presença de bolhas e coloração pálida sugere uma queimadura de terceiro grau, envolvendo danos extensos a todas as camadas da pele, inclusive aos tecidos subjacentes. Portanto, a resposta correta é a alternativa A.
13. Considerando o caso clínico apresentado, assinale a alternativa que descreve o possível local para a obtenção de acesso venoso central na paciente.
A) Veia jugular interna direita.
B) Veia subclávia direita.
C) Veia subclávia esquerda.
D) Veia femural direita.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
A paciente apresenta queimadura em face, nariz e cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços. Portanto, o único sítio não acometido por queimaduras são as regiões inguinais, o que permite passagem de acesso venoso central em veias femurais.
Resposta correta.
A paciente apresenta queimadura em face, nariz e cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços. Portanto, o único sítio não acometido por queimaduras são as regiões inguinais, o que permite passagem de acesso venoso central em veias femurais.
A alternativa correta é a "D".
A paciente apresenta queimadura em face, nariz e cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços. Portanto, o único sítio não acometido por queimaduras são as regiões inguinais, o que permite passagem de acesso venoso central em veias femurais.
Conclusão
No contexto do departamento de emergência, a abordagem eficaz às queimaduras e lesões térmicas é crucial para mitigar complicações potencialmente graves e otimizar o prognóstico do paciente. A avaliação precoce da gravidade desempenha um papel central nesse processo, permitindo a identificação precisa do espectro da lesão térmica e orientando a alocação adequada de recursos.
A importância de um suporte clínico adequado desde o momento da admissão não pode ser subestimada. A estabilização hemodinâmica e a avaliação sistemática das vias aéreas, da respiração e da circulação são pilares fundamentais. A rápida instituição de medidas terapêuticas, como a administração de analgesia e a reposição volêmica conforme a fórmula de Parkland, desempenha um papel crucial na atenuação do impacto inicial das queimaduras.
O tratamento no momento adequado é um componente vital da abordagem global. A intervenção precoce, seja no resfriamento local para queimaduras de 1º e 2º graus, na adequada hidratação intravenosa para grandes queimaduras, ou na consideração de métodos avançados, como desbridamento cirúrgico, enxertos cutâneos e matrizes dérmicas, para lesões mais extensas, visa minimizar sequelas a longo prazo e acelerar a recuperação.
A minimização de complicações é uma meta intrínseca na gestão de queimaduras e lesões térmicas no ambiente de emergência. O foco na prevenção de infecções através do uso criterioso de cremes antibacterianos, a vigilância de sinais de sepse e a abordagem multidisciplinar são componentes essenciais dessa estratégia preventiva.
Determinar um melhor prognóstico para o paciente depende diretamente da abordagem abrangente e coordenada adotada no departamento de emergência. A integração de protocolos atualizados,33 aliada à experiência clínica e ao suporte de uma equipe multidisciplinar, contribui para melhores desfechos e qualidade de vida pós-lesão.
A gestão eficaz de queimaduras e lesões térmicas no departamento de emergência é um desafio que demanda precisão, rapidez e uma abordagem integrada. O comprometimento com a avaliação precoce, o suporte clínico adequado e o tratamento oportuno são pilares fundamentais para promover a recuperação do paciente e prevenir complicações a longo prazo. O constante aprimoramento das práticas clínicas e o acompanhamento rigoroso da literatura científica são imperativos para assegurar o mais alto padrão de cuidado nesse cenário desafiador.
Atividades: Respostas
Comentário: As queimaduras são a quinta causa mais comum de mortes não intencionais no mundo, resultando em mais de 300 mil mortes anualmente.
Comentário: A descrição do 1º grau inclui vermelhidão, dor leve a moderada, pele seca e sem bolhas. A presença de bolhas, pele úmida e dor intensa está associada ao 2º grau. O 1º grau é caracterizado por danos superficiais na epiderme, enquanto o 2º grau envolve a derme, formando bolhas. O 3º grau, por sua vez, apresenta características mais graves, como pele branca ou carbonizada, textura de couro e insensibilidade ao toque.
Comentário: Queimaduras térmicas são causadas por fontes de calor como fogo, líquidos quentes, objetos quentes e vapor. As queimaduras solares são queimaduras por radiação, portanto, a alternativa incorreta é a C.
Comentário: O resfriamento local deve ser com água corrente a uma temperatura entre 15 e 25°C. Idealmente, deve ocorrer de forma precoce, sendo realizado nos primeiros 20 minutos após a lesão, para otimizar os resultados. Pesquisadores publicaram recentemente um estudo em que ressaltam a eficácia da analgesia multimodal para proporcionar alívio adequado, sem comprometimento da estabilidade hemodinâmica.
Comentário: A afirmativa IV está incorreta, pois a realização de exames complementares não deve postergar a decisão e a intervenção de urgência caso o exame clínico já evidencie risco iminente de deterioração clínica e respiratória. As demais afirmativas apresentam associações corretas.
Comentário: Não há consenso na utilização de anti-inflamatórios e imunossupressores como uma estratégia para modulação da resposta inflamatória exacerbada. As demais alternativas são modalidades do tratamento subsequentes de vítimas de queimaduras térmicas.
Comentário: A saturação de oxigênio dentro dos parâmetros normais não seria, por si só, uma indicação direta para intubação orotraqueal precoce. As indicações citadas no texto envolvem sinais de insuficiência respiratória, obstrução significativa das vias aéreas superiores, cianose persistente, alterações no estado mental e evidências de obstrução das vias aéreas. A manutenção adequada da saturação de oxigênio é desejável, mas não é uma indicação isolada para a intubação precoce.
Comentário: A avaliação da extensão das lesões cutâneas não é uma indicação direta para a intubação orotraqueal com auxílio de broncoscopia ou fibroscopia. Essas técnicas são particularmente úteis para situações como suspeita de lesão inalatória, presença de estridor persistente, obstrução de vias aéreas devido a corpos estranhos e edema de via aérea. A avaliação da extensão das lesões cutâneas seria mais relacionada à avaliação inicial e ao manejo geral das queimaduras térmicas.
Comentário: Os procedimentos iniciais para a paciente apresentada no caso clínico incluem: avaliação da via aérea, da respiração e da circulação; analgesia; cuidados com a área queimada; cobertura das lesões; e transporte para o hospital. O uso de terapia antimicrobiana intravenosa de amplo espectro não está contido no atendimento inicial de pacientes vítimas de queimadura térmica.
Comentário: A regra dos nove é uma ferramenta utilizada para estimar a %SCQ em adultos. De acordo com essa regra, cada perna representa 18%; cada braço, 9%; a frente do tronco, 18%; a parte de trás do tronco, 18%; a cabeça, 9%; e a região genital, 1%. No caso da paciente Sílvia, as áreas afetadas (face, nariz, cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços) totalizam aproximadamente 36% da superfície corporal, tornando a opção C a resposta correta. A avaliação precisa da extensão da queimadura é essencial para o manejo adequado e o prognóstico do paciente.
Comentário: A regra de Parkland é frequentemente utilizada para estimar a reposição volêmica em pacientes com queimaduras. Calcula-se o volume total necessário dividindo-se a superfície corporal queimada (em percentual) por 100 e multiplicando pelo peso corporal em quilogramas. Para a paciente Sílvia, com queimaduras em aproximadamente 36% da superfície corporal, o cálculo seria: volume total = (36 ÷ 100) × 80 kg = 28,8L. Esse volume é dividido em dois terços para as primeiras 8 horas e um terço para as 16 horas subsequentes. Portanto, nas primeiras 8 horas, o volume seria 28,8L × 2/3 = 19,2L, e nas 16 horas seguintes, seria 28,8L × 1/3 = 9,6L. Convertendo para mililitros, obtém-se a resposta da alternativa B.
Comentário: Na face, a presença de eritema e dor sugere uma queimadura de segundo grau profundo, caracterizada por danos aos folículos pilosos e às glândulas sudoríparas. A orelha direita está carbonizada e com aspecto semelhante a couro, o que indica uma queimadura de terceiro grau, que envolve danos a todas as camadas da pele, incluindo os nervos. Nos braços, a presença de bolhas e coloração pálida sugere uma queimadura de terceiro grau, envolvendo danos extensos a todas as camadas da pele, inclusive aos tecidos subjacentes. Portanto, a resposta correta é a alternativa A.
Comentário: A paciente apresenta queimadura em face, nariz e cabelos, orelha direita, metade superior da face anterior do tórax e braços. Portanto, o único sítio não acometido por queimaduras são as regiões inguinais, o que permite passagem de acesso venoso central em veias femurais.
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ANDRÉ GULINELLI // Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Clínica Médica e em Terapia Intensiva Adulto. Médico plantonista do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein e da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
FERNANDA BIANCA PAES GULINELLI // Especialista em Infectologia e em Terapia Intensiva Adulto pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Médica plantonista da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Como citar a versão impressa deste documento
Gulinelli A, Gulinelli FBP. Queimaduras e lesões térmicas no departamento de emergência. In: Associação Brasileira de Medicina de Emergência; Guimarães HP, Borges LAA, organizadores. PROMEDE Programa de Atualização em Medicina de Emergência: Ciclo 7. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2024. p. 41-67. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4).