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RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PULMÃO

Autores: Ricardo Sales dos Santos, Rodrigo Caruso Chate, Juliana P. Franceschini
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  • Introdução

O câncer de pulmão (CPcâncer de pulmão) é um dos tumores de maior incidência e letalidade, sendo responsável por alta taxa de mortalidade em todo o mundo. Apresenta taxa de sobrevida global em cinco anos de aproximadamente 15%, diretamente relacionada ao estágio da doença no momento do diagnóstico e seu tratamento.1,2

A taxa de sobrevida é maior nos casos em que doença é diagnosticada em estágios iniciais, quando ainda encontra-se localizada. Contudo, apenas uma porcentagem pequena de casos (menor que 16%) é diagnosticada sem haver disseminação regional ou metástases à distância.3,4

A observação de que tumores localizados tratados obtêm melhor sobrevida levou à execução de diversos programas de rastreamento nos anos de 1970 e 1980, que se valeram tanto da radiografia quanto da citologia de escarro. Nenhum desses estudos, entretanto, demonstrou redução na mortalidade nos grupos submetidos ao rastreamento, muito embora alguns resultados tenham sido sugestivos de benefício na sobrevida.5,6

O interesse em rastreamento do CPcâncer de pulmão foi renovado a partir do uso da tomografia de tórax de baixa dosagem (TCBDtomografia de tórax de baixa dosagem) no início do século XXI. Assim, vários estudos demonstraram que esse exame foi capaz de detectar mais nódulos e tumores pulmonares, incluindo o CPcâncer de pulmão em estádio inicial, quando comparado à radiografia de tórax.7–12 Dentre os mais importantes estudos, destacam-se o NLST (The National Lung Screening Trial)8 e o I-ELCAP (International Early Lung Cancer Action Project),9 nos quais houve prevalência de CPcâncer de pulmão superior a 1% nos participantes submetidos à TCBDtomografia de tórax de baixa dosagem inicial, sendo que a ocorrência dessa doença pode chegar a 7% em 10 anos de acompanhamento.13

Nesse cenário, o National Comprehensive Cancer Network (NCCNNational Comprehensive Cancer Network), em 2011,10 publicou a primeira versão de um extenso painel, com o objetivo de apresentar os fatores de risco para o CPcâncer de pulmão, as recomendações para seleção de indivíduos de alto risco e para o diagnóstico e seguimento de nódulos achados durante o rastreamento, a acurácia da tomografia e das modalidades de imagem em estudos realizados fora do Brasil, evidenciando os benefícios e riscos do rastreamento do CPcâncer de pulmão. Esse painel vem sofrendo atualizações, sendo a versão mais atual a de 2016.11 O protocolo de conduta da NCCNNational Comprehensive Cancer Network levou em consideração os achados e as proposições dos protocolos do I-ELCAP e NLST, dentre outros.

No Brasil, o nosso grupo realizou estudo inicial (ProPulmão) com 790 indivíduos com alto risco para câncer de pulmão e demostrou dados semelhantes aos estudos internacionais, em relação à prevalência dessa doença, diagnosticada em 1,3% dos indivíduos no primeiro ano de acompanhamento. Nesse estudo, apesar do maior número de nódulos identificados na TCBDtomografia de tórax de baixa dosagem, certamente relacionados à região endêmica para doença granulomatosa, principalmente a tuberculose,14,15 a necessidade de procedimentos invasivos foi similar aos estudos realizados em outros países.

Portanto, a prática do rastreamento do CPcâncer de pulmão tornou-se realidade mundo afora, e, no meio médico, pode ser efetiva e segura quando realizada nos mesmos moldes e parâmetros dos principais estudos internacionais, os quais demonstraram seu benefício.

Este artigo visa a auxiliar o leitor a entender o processo de rastreamento de CPcâncer de pulmão. Para tanto, são apresentados dois casos de nódulos pulmonares atendidos pelo programa, com a discussão sobre as estratégias de seguimento em cada um.

Ressalta-se que um programa adequado deve se basear em uma organização sólida, construída para centros dotados de estrutura e experiência no tratamento das doenças do tórax por meio de métodos pouco invasivos.

Além disso, é importante que a prevenção primária seja associada a programas de detecção precoce, a partir do estímulo e da ajuda para a cessação do tabagismo. Também é essencial que os participantes desses programas, ou as pessoas submetidas a exames com a intenção de realizar rastreamento de CPcâncer de pulmão, sejam informados previamente dos riscos e benefícios do método, para que façam uma escolha consciente.

Nota da Editora: os medicamentos que estiverem com um asterisco (*) ao lado estão detalhados no Suplemento constante no final deste volume.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • identificar os critérios de indicação para o rastreamento do CPcâncer de pulmão;
  • conduzir o seguimento de pacientes que apresentam nódulos pulmonares em programa de rastreamento;
  • avaliar os aspectos importantes para a indicação de procedimentos invasivos para o diagnóstico do CPcâncer de pulmão;
  • estabelecer uma proposta de acompanhamento de pacientes submetidos a programa de rastreamento do CPcâncer de pulmão, incluindo a cessação do tabagismo.
  • Esquema conceitual
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