Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar a dor lombar e as diferenças entre dor lombar específica e inespecífica;
- reconhecer as principais etapas na triagem de pacientes com bandeiras vermelhas e amarelas;
- desenvolver as etapas da avaliação subjetiva e objetiva de pacientes com dor lombar;
- aplicar as abordagens fisioterapêuticas recomendadas como melhores opções de tratamento para pacientes com dor lombar inespecífca.
Esquema conceitual
Introdução
A dor lombar é uma condição musculoesquelética muito comum, uma das principais causas de incapacidade ao redor do mundo e uma das condições médicas que mais geram custos financeiros e impactos socioeconômicos.1,2 Mesmo sendo considerada uma condição benigna (os pacientes não morrem de dor lombar, por exemplo), parece haver associação entre a presença de dor musculoesquelética crônica (quanto mais locais de dor, maior associação) e o aumento do risco de mortalidade quando esses pacientes são comparados a pessoas sem dor.3
A mais recente revisão sistemática sobre a prevalência global de dor lombar reportou a prevalência pontual média (a prevalência em um ponto qualquer no tempo) de 18,3%, e a prevalência média de 1 ano de 38,0%.4 No Brasil, em 2017, aproximadamente 25 milhões de pessoas apresentavam dor lombar, com aumento de 26,83% em relação à taxa de prevalência observada em 1990.5 Já uma revisão sistemática sobre a prevalência de dor lombar no Brasil reportou a estimativa de prevalência nos últimos 12 meses como sendo superior a 50% em adultos.6
A dor lombar é uma condição muito comum, e raramente uma causa específica pode ser atribuída a ela. Assim, a maioria das dores lombares é classificada como inespecífica. Nesse sentido, a dor lombar é caracterizada por uma série de dimensões biofísicas, psicológicas e sociais (e não apenas fatores físicos ou patoanatômicos), que prejudicam a função, a participação social e a prosperidade financeira pessoal.7
Além de ser muito prevalente, há décadas a dor lombar está entre as causas mais comuns de anos vividos com incapacidade ao redor do mundo.2 Apesar dos diversos avanços tecnológicos, maior conhecimento sobre essa condição clínica e um volume maior de evidências científicas produzidas, o panorama da dor lombar no mundo inteiro não está melhorando. Um dos motivos para que essa realidade não tenha sido modificada é a baixa adesão das recomendações científicas a respeito da avaliação, prescrição de exames e escolha das abordagens de tratamento (sejam invasivas ou conservadoras) por parte dos diferentes profissionais de saúde que lidam com esses pacientes.7,8
As justificativas para a baixa adesão dos profissionais às recomendações científicas são variadas. Em geral, fisioterapeutas enfrentam diversas barreiras que dificultam a transição da evidência científica para a prática do dia a dia, como dificuldades com a língua inglesa (idioma no qual a maior parte das evidências de qualidade são publicadas), dificuldades na interpretação de artigos científicos (desconhecimento metodológico e estatístico) e, também, a falta de tempo disponível.
Essas barreiras fazem com que muitos anos se passem até que determinado conhecimento científico seja efetivamente implementado na prática. Dessa forma, abordagens que já são reconhecidamente ineficazes, como, por exemplo, modalidades eletrofísicas passivas utilizadas isoladamente (ultrassom, estimulação elétrica nervosa transcutânea) seguem sendo utilizadas, o que impede que o panorama (a prevalência/os anos vividos com incapacidade) seja modificado.
Neste capítulo, as recomendações científicas mais atuais para avaliação e tratamento de pacientes com dor lombar, provenientes de diretrizes de prática clínica, serão sintetizadas. As informações aqui apresentadas são baseadas na literatura atual, e têm como objetivo auxiliar no raciocínio clínico e na escolha da melhor abordagem clínica para o tratamento da dor lombar.